A grande imprensa comemora o novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e propaga que o país receberá 30 bilhões de dólares. A Folha de São Paulo, por exemplo, traz como título do seu editorial de 08 de agosto a manchete: “Em boa hora“. A capa do jornal O Estado de São Paulo do dia 9 de agosto estampava: “Acordo causa euforia no Brasil e no mundo“.
Por outro lado, os principais candidatos à presidência da República, Serra, Ciro, Garotinho e, inclusive Lula declararam apoio ao mesmo. Lula deixou claro que o acordo não só era inevitável como também veio em boa hora.
O que a grande imprensa e os principais candidatos à presidência da República não dizem é que os trabalhadores não verão nem a cor nem sentirão o cheio de um único dólar, muito pelo contrário. Para a classe trabalhadora, este acordo significará mais cortes nos gastos públicos com saúde e educação, devido ao aumento do chamado superávit primário para 3,75% do PIB até 2005. Representará mais 1 milhão de desempregados, mais privatizações, arrocho salarial, fim das leis trabalhistas e aumento do custo de vida, que vem sendo puxado para cima pelos impostos e tarifas públicas.
A grande imprensa e os principais candidatos à presidência da República não dizem que a garantia de um acordo que durará no mínimo 15 meses, significa que todo o primeiro ano do futuro governo federal estará envolvido na “blindagem” dos “contratos” fixados no apagar da luzes do governo FHC. Isso comprometerá toda a política econômica e engessará o Orçamento, impedindo inclusive o cumprimento de suas promessas de campanha, porque uma parcela cada vez maior das finanças estatais estará sendo canalizada para o pagamento da divida pública com os grandes bancos e especuladores.
O FMI não “emprestou” 30 bilhões de dólares a fundo perdido. O novo acordo trata-se de uma faca no pescoço. Indica que o imperialismo quer evitar a quebra imediata do Brasil, para poder impor a ALCA. A contrapartida será a aceleração da ALCA e entrega total do país. Pela frente vem a privatização do BB, da Petrobrás, a entrega da Base de Alcântara…
Lula se rende
Que Serra e Ciro aceitem o acordo como o FMI é não só previsível mas uma obviedade. Porém, a rendição completa de Lula é incrível. Se, antes de ser governo, o PT aceita um acordo desses, significa que está fraudando a vontade dos trabalhadores e do povo pobre, pois estes olham para a esquerda – e em particular para Lula – na esperança de mudanças radicais na política econômica e social que lhes garanta melhores condições de vida.
Lula chegou a afirmar, referindo-se ao acordo, que “não tem coisa que eu sou mais contra do que ir ao dentista, mas tenho de ir de vez em quando”. Con essa declaração esquece de um “pequeno” detalhe: que o dentista FMI, enquanto garante que os banqueiros conservem seus dentes de ouro, deixa o povo cada vez mais desdentado.
É a primeira vez na história que o PT dá aval a um acordo com o FMI. Ao aceitar-lo, está sendo conivente com os cortes para as áreas sociais, com a demissão do funcionalismo, com o desemprego, o arrocho e fome. Enfim, com o pagamento da dívida externa e com a colonização do país.
Os sindicatos, os movimentos popular e estudantil, os sem-terra devem exigir do PT e de Lula que denunciem o acordo e rompam com o FMI.
Trabalhadores devem preparar a luta
A quebradeira neoliberal avança com a violência de um furacão sobre a América Latina. Agora foi a vez do Uruguai, onde reinava até há algumas semanas uma aparente calmaria.
Lá, como na Argentina, o governo ao invés de deixar de pagar a dívida externa, proibir a remessa de lucros para o exterior e estatizar o sistema financeiro, resolveu expropriar as economias dos trabalhadores e da classe média com um grande confisco para seguir cumprindo com as ordens do Fundo Monetário, remunerando os capitais especulativos e parasitários.
No Brasil, diante da crise, o imperialismo, o governo e a burguesia buscam com o novo acordo com o FMI também garantir que as eleições de outubro não ocorram em meio a uma onda de mobilizações operárias e populares como temos assistido por toda a América Latina, coisa que também é corroborada por Lula e pelo PT que se negam a levantar a necessidade da ruptura com o FMI.
A mobilização dos trabalhadores e do povo pobre pode derrotar o acordo com o FMI, impedir a ALCA e impor o não pagamento da dívida externa. A campanha e o plebiscito contra a Alca devem agitar o país durante os meses de agosto e setembro com panfletagens, atos e manifestações. É de fundamental importância que se incorpore nestas atividades a denúncia do acordo.
A partir da campanha contra a Alca deveremos buscar construir uma jornada de lutas que continue depois das eleições. Seja lá quem for o novo presidente, na medida em que imponha a continuidade do acordo com o FMI, se submeta à Alca e siga pagando a dívida externa, ele deverá ter como resposta a mobilização dos trabalhadores e do povo.
Fora daqui o FMI!
Post author Zé Maria,
candidato a presidência pelo PSTU
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