Morreu na manhã desse dia 20 de julho, sexta-feira, o senador de 79 anos Antônio Carlos Magalhães (DEM). Ele estava internado desde o dia 14 de junho por problemas renais e cardíacos. Após uma série de complicações, ACM teve parada cardíaca, sendo entubado até seus órgãos pararem de funcionar. Terminava, assim, a vida de um político que, por mais de 50 anos, esteve ligado ao poder, passando pela ditadura militar até o governo Lula.
Símbolo máximo de tudo o que existe de mais reacionário, o “coronel” Antônio Carlos Magalhães estabeleceu sua oligarquia no estado da Bahia, mas exercendo nacionalmente sua influência política.
Deputado nos anos 1950 e 60 pela UDN (União Democrática Nacional), ACM foi um dos articuladores do golpe militar em 1964. Ingressou na Arena logo depois assumiu a prefeitura de Salvador em 1967, indicado pelo governo. Foi governador da Bahia por três vezes, duas delas indicado pela ditadura. Comandou a Eletrobrás em 1975 nomeado por Ernesto Geisel e esteve à frente do Ministério das Telecomunicações durante o governo Sarney nos anos 1980.
Coronel da mídia
Foi o período em que se institucionalizou a prática da distribuição das concessões de rádio e televisão em troca de apoio político ao governo. Foi também quando se ampliou o poder político de ACM na Bahia e seu monopólio de mídia no estado. Além do jornal Correio da Bahia, Magalhães detinha a propriedade da TV Bahia, afiliada à Rede Globo no estado, além de retransmissoras regionais.
Apesar de não ser fazendeiro, ACM ganhou o título de “coronel” devido ao seu estilo autoritário e paternalista, além de manter seus latifúndios de mídia. Durante as eleições de 82, quando o então governador tentava emplacar seu candidato à sucessão, chegou a declarar: “ganharei com o chicote numa mão e o dinheiro na outra“.
O político baiano passou pelo PDS, que se converteria depois no PFL, histórico aliado do PSDB. Nos 1990, assim como apoiou o curto mandato de Collor, ACM foi aliado do governo FHC e de sua política de privatização e desmonte do Estado.
ACM e Lula
Magalhães foi eleito senador pela primeira vez em 1994, presidindo o Senado entre 97 e 2001. Acusado de violação do painel eletrônico durante a votação da cassação de Luiz Estevão, ACM renunciou ao mandato para voltar à casa no ano seguinte.
Em 2003, ACM foi acusado por um inquérito da Polícia Federal de comandar um esquema de escutas telefônicas ilegais na Bahia. Ele foi acusado de formação de quadrilha e escuta telefônica ilegal. Chegou a ser aberto um processo por quebra do decoro parlamentar do senador no Senado, mas Lula interveio pessoalmente para que o caso fosse arquivado. O então relator do processo, o petista Tião Viana (PT-AC), extinguiu o caso.
Isso mostra que a declaração de importantes figuras do PT lamentando a morte do político não guarda nada de estranho. “Seu falecimento é, sem dúvida, uma grande perda para a Bahia e para o Brasil”, chegou a dizer o senador Eduardo Suplicy. O governador da Bahia, Jacques Wagner (PT), que venceu o candidato carlista nas eleições de 2006, declarou luto oficial de cinco dias e também lamentou a morte do ex-desafeto.
Na verdade, o governo de Wagner nade difere dos governos anteriores comandados por ACM, apesar de sua vitória ter sido aclamada como o fim do “coronelismo” na Bahia. Da mesma forma, no primeiro mandato de Lula, ACM manteve grande influência no governo, cultivando até mesmo uma estreita amizade com o presidente.
Um dos últimos feitos do senador foi, do leito de morte, no Incor de São Paulo, articular a absolvição do Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).
Como sempre, há uma relativização das atrocidades cometidas pelo recém-falecido. No caso de ACM, isso ocorre até mesmo pela proximidade política com o atual governo e o PT. No entanto, isso não pode mascarar a história de ACM. Não morreu um “grande político”. Morreu, sim, um filhote da ditadura militar, expressão máxima do coronelismo, autoritarismo e corrupção. Já vai tarde.