Wagner Damasceno, de Florianópolis (SC)

O assassinato da vereadora Marielle Franco do PSOL carioca mobilizou uma série de atos em resposta a essa covarde execução, em algumas das principais capitais do país.  Marielle e Anderson Gomes, seu motorista, foram covardemente alvejados quando saíram de uma roda de conversa intitulada “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, na Lapa, região central do Rio de Janeiro.

Nós do PSTU participamos dos atos dessa quinta-feira, prestando solidariedade aos familiares e amigos da preta Marielle, e exigindo uma rigorosa apuração desse homicídio e prisão dos executores e dos mandantes desse crime.

O assassinato dos explorados e oprimidos que lutam
No dia 14 de janeiro deste ano, em Sergipe, assassinaram Clodoaldo Santos, conhecido como “Barriga”, um operário do movimento SOS Emprego. Nessa segunda-feira, nós do PSTU perdemos Maria Aurora, militante LGBT que, ao tirar sua vida, tornou-se mais uma pessoa assassinada por essa sociedade capitalista e lgbtfóbica.

Nesta quarta-feira, o assassinato covarde de Marielle, matou de uma só vez uma mulher, negra, lésbica e militante de esquerda. Para nós, este episódio se insere num quadro amplo de perseguição e extermínio de lideranças e ativistas políticos na última década[1].

E assim como a Polícia trata a nós negros como “suspeitos até que se prove o contrário”, nós vamos tratar a Polícia do RJ como suspeita deste assassinato até que se prove o contrário!

Mas não só a Polícia do Rio de Janeiro[2], mas o prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (PRB), o Governador do estado Fernando Pezão (MDB), o General do Exército e Interventor Walter Souza Braga Netto e o Presidente Michel Temer (MDB).

Esses são nossos inimigos, e defendemos que toda a dor e toda a revolta pelo covarde assassinato da Marielle sejam canalizados para a derrubada desses parasitas do poder e para pôr fim à Intervenção Militar no estado do Rio de Janeiro.

Ato nesta quinta no Rio. foto Mídia Ninja

O uso das tropas militares no Rio de Janeiro
Marielle vinha do Complexo da Maré, uma das maiores favelas da América Latina, e que foi alvo de intervenções militares durante o Governo de Dilma Rousseff (PT).

E por mais que o PT tente cinicamente se misturar à multidão indignada, como se fosse mais uma vítima dessa trama racista, a verdade é que seus governos foram parte ativa dessa barbárie social e nós não vamos esquecer jamais disso.

Afinal, o PT não só não fez rigorosamente nada para punir os militares e as empresas responsáveis pelos crimes durante a ditadura militar, como receberam rios de dinheiro dessas mesmas empresas e utilizaram diversas vezes as Forças Armadas para reprimir o povo pobre brasileiro e nossos irmãos no Haiti.

Exatamente por isso, qualquer balanço sério sobre a crise econômica, política e social do Rio de Janeiro precisa levar em conta a criminosa parceria entre o PT e o PMDB que deu a Sérgio Cabral e Pezão o lastro econômico e político para um sistemático genocídio negro no estado.

Não por acaso, esta é a 14ª Ocupação do Exército no Rio de Janeiro em 10 anos. Foram 2 ocupações durante o Governo Lula, 8 com Dilma Rousseff e 4 com Michel Temer. Isso sem contar o uso da Força Nacional, uma espécie de guarda pretoriana criada em 2004 pelo Governo Lula, para salvar os prefeitos e governadores das greves e rebeliões operárias e populares que surgiam no país.

Com Lula, as ocupações militares serviram para demolir e “limpar o terreno” para os grandes empreendimentos imobiliários e eventos esportivos. Lula recorreu ao Exército, pela primeira vez em 2007, para garantir a realização dos Jogos Pan-Americanos na cidade do Rio de Janeiro.

Com Dilma, as ocupações serviram, num primeiro momento, para prosseguir esse trabalho de demolição e limpeza racista. E num segundo momento, o Exército serviu para garantir a realização desses grandes eventos, num amplo acordo com o imperialismo através de organizações como a ONU, FIFA, Multinacionais do Petróleo e até mesmo com o Papa e o Vaticano: Rio +20, Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude, Leilão do Campo de Libra[3] e Copa do Mundo. Seu impeachment impediu de estender esse uso para as Olimpíadas do Rio. Isso coube a Michel Temer, em agosto de 2016.

Nesta etapa da crise política e econômica, coube a Michel Temer o uso defensivo do Exército no Rio de Janeiro. Isto é, utilizar a ocupação do Exército agora para impedir a explosão de uma rebelião social num Rio de Janeiro com mais de 1 milhão de desempregados e que chegou a ter três ex-governadores presos por corrupção e formação de quadrilha.

Lembrar tudo isso implica em rejeitar a o discurso mentiroso criado em torno do Rio de Janeiro, de que este seria o estado mais violento do país, pois das 30 cidades mais violentas do país, segundo o Atlas da Violência do IPEA de 2017, nenhuma fica no estado do Rio de Janeiro. Além disso, conforme os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro não houve uma “escalada” na violência no estado durante o carnaval.

Mas quando o assunto é morte pela mão do Estado, a situação é completamente diferente. Só para termos uma ideia, de 2005 a 2015 o Rio de Janeiro foi o primeiro colocado no número de assassinatos cometidos por policiais no país!

Foto Mídia Ninja

A polícia que mais mata preto também é a polícia preta que mais morre
A Polícia do Rio de Janeiro atravessou dois séculos servindo à Coroa e aos escravocratas, o Império e os latifundiários e o Estado moderno e os negócios da burguesia.

Servindo esses senhores, a Polícia Militar reprimiu e matou os negros e trabalhadores por dois séculos. E para cumprir melhor o papel de “caçar” os negros nos quilombos e depois nas favelas, utilizou negros nas suas próprias fileiras.

Hoje, a PMERJ é a instituição que mais emprega negros no estado do Rio de Janeiro. Por isso, nesse estado, a repressão aos trabalhadores e ao povo negro sempre expressou uma verdadeira tragédia social e racial, especialmente porque a maior parte dos praças (soldados, cabos e sargentos) são negros e vindos na maior parte das vezes das periferias e dos morros do estado. A contradição de classe de raça é latente na PMERJ. A maioria dos oficiais são brancos, tem melhores salários, tem expectativa de vida maior e moram em bairros mais seguros do que os soldados, cabos e sargentos!

Por isso, nós do PSTU apoiamos a greve dos Policiais Militares no Espírito do Santo e no Rio de Janeiro, no ano passado. E defendemos junto às esposas, mães e seus filhos que bloqueavam a saída dos policiais dos batalhões a necessidade da desmilitarização da polícia militar.

E agora, com o controle da Segurança Pública do estado pelo General Walter Braga Netto, a situação das Polícias Civis e Militares do Rio de Janeiro vai piorar porque o Exército não tem interesse algum em atender suas demandas e não vão impedir que mais policiais morram numa guerra que não é sua.

É hora dos policiais civis e militares e dos bombeiros do estado travarem uma luta contra seus oficiais e comandantes! É hora de paralisarem suas atividades e exigirem desses governos sua liberdade de organização sindical e de negarem as ordens vindas de cima, de um governo de bandidos! É hora dos policiais se juntarem aos trabalhadores do Rio de Janeiro para derrubar o Governo Pezão!

Uma tormenta se aproxima
A burguesia sabe bem que uma rebelião social no Rio de Janeiro pode mudar tudo no país. Uma rebelião social no Rio de Janeiro pode ser a chama que termine por incendiar todo o país. O Rio de Janeiro é um estado que possui um enorme peso social no país, com um forte operariado, concentrado, e majoritariamente negro. Além disso, tem um exército de desempregados negro muito grande e cada vez mais explosivo pela pressão da carestia e pela repressão do Estado burguês. Além disso, o estado tem um peso econômico, político e cultural ímpar no país, como vimos refletido no Carnaval deste ano.

E acreditamos que essa é a tarefa que a realidade nos exige. É hora de transformar cada favela, cada escola e cada fábrica em quilombos! É hora de incendiarmos cada Casa Grande espalhada pelo país: câmaras de vereadores, Assembléias Legislativas, o Congresso e o Planalto.

Os ventos de Junho estão soprando novamente.

– Punição exemplar para todos os envolvidos no assassinato de Marielle Franco

– Abaixo a intervenção militar no Rio!

– Pelo fim da violência e da repressão contra os pobres e negros nas periferias!

– Pela desmilitarização da Polícia Militar e pela democracia nos quartéis!

– Fora Temer, Pezão e Crivella!

– Reparações históricas aos negros!

– Por um governo operário, popular e socialista apoiado em conselhos populares!

Wagner é da Secretaria Nacional de Negras e  Negros do PSTU

 

 

[1]Ver: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,governo-ignorou-cartas-sobre-17-ativistas-mortos-ou-ameacados-em-2017-diz-onu,70002228312. Ver, também o ataque aos índios gamelas no MA: http://www.barradocorda.com/destaques/indios-gamelas-sao-atacados-por-pistoleiros-a-tiros-e-facaozadas-em-viana/.

[2]Ver: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/municao-usada-para-matar-marielle-e-de-lotes-vendidos-para-a-policia-federal.ghtml.

[3]Ver: https://www.pstu.org.br/o-dia-em-que-o-pt-privatizou-o-pre-sal/.