Paulo de Tarso Venceslau conta suas experiências de militância contra a ditadura
Diego Cruz

Paulo de Tarso Venceslau traça um paralelo entre o movimento estudantil de 1968 e de hojeEle foi o coordenador geral da preparação do congresso da UNE em 1968. Na clandestinidade, integrou a ALN (Aliança de Libertação Nacional) e participou do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, antes de ser preso e ficar cinco anos na cadeia. Paulo de Tarso Venceslau foi um dos convidados do Congresso Nacional dos Estudantes, aonde contou suas memórias sobre os tempos em que a UNE ainda era sinônimo de combatividade.

O Portal do PSTU conversou com Venceslau, que traçou um paralelo entre a juventude e o movimento estudantil de ontem e hoje.

Como comparar o movimento estudantil hoje e movimento estudantil de 1968 que protagonizou a luta contra a ditadura?
Paulo de Tarso Venceslau
– Na época tínhamos um movimento que não tinha nenhum vínculo com o governo, muito pelo contrário, era perseguido. Em 64, com o golpe, a sede da UNE aqui no Rio foi invadida e destruída. E naquele momento tinha uma curiosidade que era um movimento estudantil bastante amplo. Ele comportava correntes de várias conotações ideológicas, desde um liberal de esquerda até a esquerda radical. Essa independência que existia exigia um esforço muito grande para obter recursos, realizar eventos, encontros. As manifestações de 68 deixam claro que, apesar de todas as dificuldades, conseguíamos mobilizar e aglutinar não só os estudantes, mas outros setores da sociedade contra a ditadura. Passados esses 40 anos, a UNE foi reconstruída de certa forma mas foi monopolizada por duas forças políticas, o PCdoB e o PT, que vai a reboque. Essas correntes hoje têm um compromisso muito sério com o governo e que transformou a UNE numa correia de transmissão do Governo Federal. Uma coisa inimaginável há alguns anos atrás. Uma grande surpresa para mim foi saber desse congresso que representa um contraponto à mesmice que é a UNE hoje.

O movimento estudantil de 68 expressa erros e acertos, e o próprio congresso de Ibiúna mostra isso. Mas qual foi a importância da juventude na luta contra a ditadura?
Conseguíamos aglutinar amplos setores sociais, pela pluralidade com que o movimento estudantil. Setores como os intelectuais, o movimento operário, sindical. Não que fosse hegemonizado pelo movimento estudantil, mas pela simpatia que ele tinha na luta contra a ditadura. Aglutinamos os setores pensantes da época que não concordava com a ditadura. Você tinha na época uma falta de liberdade e organização que reprimia os partidos, as manifestações e tolhia a liberdade de expressão. E o movimento que conseguiu se organizar e protestar contra isso foi o movimento estudantil. E essa capacidade hoje o movimento estudantil perdeu. E hoje, pelo menos no Brasil, o movimento estudantil oficial está a reboque do governo que está aí.

Algo bastante difundido é a ideia de que naquela época havia uma bandeira clara que era a luta contra a ditadura e que hoje não existiriam razões para se lutar. O que o senhor pensa disso?
É uma tremenda bobagem isso. O mundo está mudando e hoje você tem um processo de globalização que atinge a grande maioria da população. Você tem o sucateamento dos serviços públicos, uma financeirização da economia que cada vez mais sucateia a economia produtiva. Você tem uma sociedade muito mais segmentada do que antes. Você hoje tem uma classe média que, apesar da propaganda do governo, está em extinção. Tem elementos de sobra para se fazer movimento estudantil hoje. Os estudantes é que tem que se organizar e escolher as bandeiras corretas, não sou eu quem vou dizer. Tem que haver essa sensibilidade, coisa que falta à UNE, ela está na contramão da história.