A concentração de terra nas mãos dos grandes capitalistas é extremada. Os estabelecimentos agrícolas com mais de mil hectares representam 1% do total e acumulam 45% (178 milhões de hectares) da área ocupada do país. Dessas, mais de 80 milhões de hectares estão improdutivos ou abandonados enquanto mais de um milhão de famílias vivem em áreas menores do que 10 hectares (5 milhões de hectares).

O processo de modernização capitalista assenta-se no modelo agropecuário latifundista, tecnificado, exportador, gerador de desemprego, exclusão e miséria; o número de excluídos do acesso à terra e ao trabalho está hoje em torno de 5 milhões de famílias. A miséria atinge 32 milhões de brasileiros.

No Brasil, as três maiores empresas estrangeiras, Monsanto, Novartis e Du Pont, conseguiram comprar quase todas as grandes produtoras brasileiras de milho, como Agroceres, a Cargill e a Braskalb/Dekalb. Hoje, mais de 95% do mercado de sementes de milho está nas mãos de estrangeiros.

A Embrapa controla a maior parte do mercado de sementes de soja, mas tem um contrato com a Monsanto para desenvolver soja transgênica. Como a Monsanto já domina 18% do mercado, juntas, Embrapa e Monsanto, vendem 83% das sementes de soja no Brasil.

A praga do agronegócio
Nos últimos 50 anos, vem ocorrendo um amplo processo de modernização da agricultura, com a incorporação de novas tecnologias, mas esse processo ampliou ainda mais a concentração da terra e a exclusão dos camponeses. Fortaleceu-se a tendência exportadora, a formação de complexos agroindustriais, a articulação do capital financeiro e industrial com atividades agrícolas e a propriedade da terra.
Esse processo de modernização gerou um desenvolvimento econômico excludente, com a destruição da agricultura familiar; o êxodo crescente; o desemprego e a precarização das relações de trabalho; a superexploração e o trabalho escravo.

Em 2003, o agronegócio bateu um recorde, com uma participação de 41,9% no total das exportações, mas, em contrapartida, o Brasil importou arroz, algodão, milho, trigo e leite (alimentos básicos dos trabalhadores). O caso mais impressionante é o do algodão. Exportamos fibras de algodão, enquanto a indústria nacional tem de importar fibras sintéticas para produzir roupas que, por sinal, são inadequadas para o clima brasileiro.

revolução social para fazer a reforma agrária
A proibição do acesso à terra é de natureza política; expressa a forma como o capital se apropriou dela e como a usa para manter seu poder. A luta pela terra e pela Reforma Agrária não é apenas por um pedaço de terra, mas é a luta contra o capital e o poder oligárquico.

A burguesia agrária brasileira, como o conjunto da burguesia nacional, está totalmente atrelada aos negócios das grandes corporações transnacionais. Com o fortalecimento da tendência exportadora e o surgimento do agrobusiness, essa tendência se acentuou em escala gigantesca. Essa relação se dá de diversas formas: no financiamento com empréstimo de capital financeiro; na produção tecnológica, concentrada nas mãos das multinacionais; e na venda para o mercado externo. Quer dizer, o latifúndio não só está associado ao capitalismo como é extremamente lucrativo. Além disso, os maiores latifúndios do país estão nas mãos de multinacionais.

A direção do MST comete um grave erro ao achar que existe algum setor progressista das elites dominantes que possa construir algum “Estado nacional democrático e soberano” e que possa fazer a Reforma Agrária. Nenhum setor empresarial está disposto a expropriar o latifúndio e a romper com o imperialismo.

A Reforma Agrária só ocorrerá da combinação da luta dos trabalhadores da cidade e dos camponeses pobres. Somente uma revolução social, que combine a luta pela libertação nacional, poderá expropriar o latifúndio.

Post author Américo Gomes, da Direção Nacional do PSTU, e Diego Cruz, da redação
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