Em 19 de janeiro de 2000, irrompe sobre a cidade de Quito uma poderosa marcha indígena que, a essa altura, já havia captado a simpatia de enormes setores sociais e urbanos. O protesto foi dirigido pela Conaie, cujo presidente na época era Antônio Vargas.

No dia 21, os manifestantes enfrentam a polícia e o exército e tomam o Congresso Nacional. A tomada do Congresso foi facilitada pela divisão existente no interior das forças armadas, comandada pelo então coronel Lucio Gutiérrez, que rompe com a hierarquia militar e se une aos manifestantes. No Congresso, instala-se o Parlamento dos Povo, que assume as funções legisladoras e emite seus primeiros decretos. Horas depois, o presidente Jamil Mahuad renuncia e foge escondido do palácio presidencial. Cerca de 50 mil pessoas tomam o palácio para instaurar o poder popular. “A Junta de Salvação Nacional (formada pelos dirigentes indígenas e Gutiérrez) entra no palácio do governo ao som de vivas, aplausos, gritos e manifestações de júbilos por parte da multidão”, descrevia na época o jornal da Conaie.

Pressionado pelos altos oficiais das forças armadas, Gutiérrez cede aos generais e entrega seu cargo na Junta ao general Mendoza, que, em seguida, manda prender os militares revoltosos. Horas mais tarde, o general demite-se da Junta e, num golpe orquestrado pela embaixada dos EUA, entrega o poder ao vice-presidente, Gustavo Noboa.

Por oito horas, o poder esteve nas mãos dos insurgentes, mas a confiança depositada pelos seus dirigentes no exército e em outros setores permitiu que a burguesia pudesse retomá-lo. O que vem a seguir é parte da história conhecida, Gutiérrez é eleito presidente em 2003, por expressar distorcidamente a memória da insurreição de 2000, apoiado pela esmagadora maioria das organizações populares.

Post author Jeferson Choma, da redação
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