Manifestante enfrenta policiais em Atenas

Leia a nota do PdAC, seção italiana da LIT, sobre a crise na GréciaEnquanto escrevemos estas linhas, na noite 6 de maio, as forças da repressão grega dispersaram pela enésima vez o cerco popular ao parlamento, que acaba de aprovar o plano de austeridade necessário para o país ter acesso ao empréstimo de mais de 100 bilhões de euros que a União Européia e o Fundo Monetário Internacional concederam à Grécia para evitar a bancarrota. No coração da Europa imperialista, as massas rebeladas atacam o símbolo máximo do poder burguês. Os acontecimentos destes dias não são fruto de uma explosão repentina: a Grécia é o país europeu no qual os efeitos da crise capitalista foram sentidos com mais violência. Nos últimos anos o país é palco de greves, ocupações de fábricas e lutas, como aquelas dos professores, mobilizações estudantis e ocupações de escolas e universidades, até a explosão de dezembro de 2008 com barricadas erguidas pelos manifestantes nas principais cidades, desencadeadas pelo assassinato do jovem Alexis pela polícia.

A bancarrota do capitalismo
Como escrevemos há um ano, também relatando os artigos dos companheiros gregos da organização trotskista Okde-Ep, por trás da enésima onda de revolta no aniversário do homicídio de Alexis já era presente na realidade o espectro da bancarrota. Nestes anos os governos da burguesia (tanto aqueles de centro-direita da Nova Democracia, quanto aqueles de centro-esquerda dos socialistas) atacaram pesadamente as condições de vida dos trabalhadores. Enquanto presenteavam dezenas de bilhões de euros aos bancos, cortavam as pensões, a educação, o estado social, e privatizavam todo o que era possível. A burguesia desde sempre só conhece uma única receita para sair das crises periódicas do capitalismo: fazer com que as massas paguem a conta.

Seis meses atrás, diante da bancarrota de Dubai, o primeiro ministro socialista Giorgio Papandreou assegurava que “não havia nenhum perigo de bancarrota para a Grécia”. Hoje, diante de uma situação que se tornou insustentável para evitar a bancarrota, a única saída é o socorro internacional. A falência de um país da União Européia teria conseqüências devastadoras para todo sistema capitalista mundial. Basta pensar no banco francês BNP Paribas que revelou que seus negócios com a Grécia são da ordem de 5 bilhões de euros, enquanto a Societé Generale disse ter negócios de 3 bilhões de euro. Não é por acaso que o ministro Tremonti declarou ainda esta noite que “ninguém está excluído dos riscos”.

Segundo muitos observadores e analistas burgueses, Espanha, Portugal e Itália são os países mais expostos a sofrerem com o “contágio” grego. Para restituir o empréstimo, o governo socialista elaborou um plano de pesadíssimos ataques às massas populares. No setor privado, serão reduzidas as indenizações por demissão e ainda serão ampliadas as possibilidades para demitir. No setor público, além dos cortes de 30% dos salários, serão reduzidos o 13º e o 14º salário para os que ganham menos de 3000 euros brutos e abolidos para os que ganham acima deste valor. A partir de 2011 a idade de aposentadoria dos homens e mulheres será equiparada (pelo alto, obviamente). Além disso, serão aumentadas em 10% as taxas sobre combustíveis, bebidas alcoólicas, cigarros. O ministro das Finanças, Giorgio Papaconstantinou, anunciou que o PIB grego se contrairá em 2010 em 4%, precisando que o débito público subirá até os 140% do PIB.

Explode o protesto
Se é verdade que não existe uma ligação mecânica entre crise do capitalismo e o crescimento da luta de classe, é também verdadeiro que era previsível uma resposta das ruas diante de um ataque tão duro às condições de vida das massas populares (tanto mais em um país no qual em cada cinco pessoas, uma vive abaixo da linha da pobreza). Há dias as principais cidades do país estão sob o fogo e as chamas da multidão enfurecida que desafia abertamente a polícia e cerca constantemente o parlamento. Durante os confrontos morreram três pessoas asfixiadas em um Banco no qual foi lançado um molotov. O regime burguês e a sua propaganda obviamente procuram explorar este trágico incidente (ninguém sabia que havia pessoas no edifício, privado de medidas anti-incêndio, mas eram trabalhadores ameaçados de demissão se aderissem à greve) para demonizar o movimento. Não são tiveram êxito: os protestos se ampliam cada vez mais.

Façamos como na Grécia!
Como repetimos há tempos, a crise econômica do capitalismo não ficou para trás porque as razões que a provocaram permanecem (em uma frase: queda da taxa de lucro, que se manifesta em uma crise de superprodução. As mercadorias não encontram mais mercados). O proletariado grego há anos luta heroicamente pela própria sobrevivência, malgrado as próprias direções reformistas (dos sindicatos aos chamados partidos da esquerda radical – os estalinistas do KKE e Syriza), todos incapazes de formular um programa de classe que responda as necessidades dos trabalhadores nesta fase. É altamente provável que a situação grega não ficará isolada e é tarefa dos trabalhadores de toda Europa, estender o contágio grego por todo continente.

Hoje ainda não existe aquele partido mundial da revolução necessário (como toda a história nos ensinou) para conduzir esta e outras explosões revolucionárias que ocorrerão até a vitória (isto é a superação do capitalismo e a construção de um novo sistema social mais elevado, no qual a humanidade seja o centro e não mais os interesses de poucos). Por isto a ausência de uma direção internacional revolucionária com influência de massas, com seções em todos os países, é hoje um problema que precisa ser resolvido urgentemente: construindo nas lutas este partido, isto é a Quarta Internacional. Para fazer isto são necessárias organizações que intervenham nas lutas com um programa transitório de reivindicações (reivindicações, isto é, que levem os trabalhadores à compreensão da impossibilidade de reforma deste sistema e a necessidade de derrubar os governos burgueses de todos os matizes para instaurar o governo dos operários). A Liga Internacional dos Trabalhadores está empenhada nesta perspectiva.

Como escrevemos na declaração do dia 5 de maio do Comitê Central do PdAC, a coisa mais importante que podemos fazer agora na Itália é mobilizar todas as forças do movimento operário e dos jovens, sair em todas as praças da Itália em solidariedade com a sublevação das massas gregas, organizar em tempo breve uma grande manifestação de solidariedade internacionalista. E depois, sobretudo estender e organizar as lutas no nosso país: para fazer como na Grécia!

Tradução: Rodrigo Ricupero