[20/11] Acontece esta semana, aqui em Miami (EUA), a rodada decisiva de negociações entre os ministros de 34 países para a implantação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Nos últimos dois anos fizemos uma ampla campanha de esclarecimento nas fábricas, escolas, bairros e igrejas sobre este acordo. Foram milhares de boletins, cartilhas e jornais explicando porque a Alca será prejudicial ao país e aos trabalhadores. Isso porque, o acordo significará o fechamento de indústrias nacionais e o crescimento do desemprego.
É certo de que não existem condições de negociação e competição com tamanha desigualdade, como no caso da economia norte-americana e as dos outros países das Américas.
A Alca significará a recolonização do Brasil e da América Latina, consolidando a total submissão aos interesses dos Estados Unidos.
Antes de tomar posse, Lula dizia que a Alca era uma anexação, mas agora negocia com os norte-americanos os rumos deste acordo. Mais que isso: o governo fechou um pré-acordo com os EUA, que irá propor uma Alca flexível.
Haveria um acordo básico entre todos os países com uma integração comercial. Já as questões sensíveis, como o subsídio à agricultura (que os EUA querem manter, para deixar seus produtos mais baratos), compras governamentais, serviços e propriedade intelectual seriam negociados na OMC (Organização Mundial do Comércio). Ao mesmo tempo, países que quisessem, já firmariam acordo também sobre esses itens, como fizeram México e Chile.
Esta proposta negociada pelo Brasil simplesmente fatia a Alca, mas mantém o seu principal propósito, que é o de dar hegemonia aos EUA, que, por sua vez, já avisaram que não mexem nos seus subsídios agrícolas.
Assim, o governo Lula, mais uma vez, cede e, como já fez com os acordos com o FMI, abandona a defesa da soberania nacional.
Um outro aspecto que podemos perceber é a grande insatisfação que também há dentro dos Estados Unidos. Há alguns anos foi firmado o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e o resultado foi o crescimento do desemprego nos EUA e Canadá e o aumento da miséria no México. Ou seja, esses acordos só servem aos interesses das grandes corporações e dos grandes capitalistas e traz mais sofrimento aos povos.
Podemos dizer que a América do Norte será sacudida por grandes mobilizações contra a Alca e a globalização capitalista. Como aconteceu em Quebec (Canadá) e Quito (Equador), onde aconteceram reuniões anteriores, Miami estará cercada. A zona vermelha, local da Cúpula Ministerial, já está totalmente incomunicável.
Estamos aqui representando os metalúrgicos brasileiros, manifestando a posição contrária a este acordo nefasto.
Os governantes não têm nenhum direito de assinar um acordo como este, que afetará a vida das gerações futuras, sem nenhum tipo de consulta.
No Brasil, mais de 10 milhões de pessoas já se posicionaram contra a Alca, durante o plebiscito realizado pelos movimentos sociais, no ano passado. Agora, exigimos que Lula realize um plebiscito oficial no dia 3 de outubro de 2004, para que a população possa decidir se quer ou não a Alca.
Esta reivindicação, certamente, se estenderá a outros países e ecoará pelas ruas de Miami.
A América Latina está em uma encruzilhada e, se seguir o caminho proposto pelos EUA, inevitavelmente seremos relegados a uma colônia norte-americana.
Contra estes ataques do imperialismo, crescem as lutas, assim como aconteceu na Bolívia, onde milhares se levantaram contra a tentativa do governo de entregar o gás aos norte-americanos.
As mobilizações levaram à derrubada do presidente, que era conhecido como o gringo. Vemos também mobilizações na Argentina, Chile, Venezuela e Paraguai e todas elas mandam um recado aos governantes: os povos estão cansados de neoliberalismo e, por extensão, não querem a Alca.
Por tudo isso, é muito importante a batalha de Miami. Nela serão dados os passos decisivos, que poderão mudar a vida de futuras gerações.
* Luiz Carlos Prates, o Mancha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região e dirigente do PSTU, está participando dos protestos contra a Alca, em Miami, Estados Unidos.