As primeiras medidas adotadas pela presidente Dilma Rousseff (PT), depois de reeleita, já indicam o rumo do seu segundo mandato. Apenas alguns dias depois do segundo turno, o Banco Central aumentou a taxa de juros, que agora está em 11,25%, e foi liberado o aumento do preço da gasolina. Essas medidas atendem aos bancos e aos fundos de investimentos que são acionistas da Petrobras e exigiam mais lucros da estatal.

Depois, veio o anúncio do novo ministério. Dilma entregou para os banqueiros o Ministério da Fazenda, nomeando Joaquim Levy, ex-diretor do Bradesco. Para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, nomeou o empresário e senador Armando Monteiro, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria. E quem assumiu o Ministério da Agricultura foi Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, principal representante das grandes empresas do agronegócio no país.

Muitos trabalhadores que votaram em Dilma devem estar se perguntando o que aconteceu. Ela não dizia, durante a campanha, que os banqueiros queriam tirar a comida da mesa do trabalhador? Então, como ela coloca um banqueiro para tomar conta das finanças do país?

Mas as medidas não param por aí. Alexandre Tombini deve seguir no comando do Banco Central. Ele vai adotar as primeiras medidas do ajuste na economia, um aumento dos juros, a chamada taxa Selic.

O que é ajuste fiscal?
O ajuste fiscal anunciado é um apelido para o corte de gastos do governo. Esta medida vai gerar redução de direitos dos trabalhadores, como a redução das parcelas do seguro desemprego, fim das pensões por morte e mais dificuldade de acesso ao auxílio doença. Os mais afoitos logo vão falar numa nova reforma da Previdência para dificultar ainda mais a aposentadoria. Isso sem falar nos já conhecidos cortes ou diminuição das verbas para saúde e educação.

Também poderão ser feitas novas privatizações, chamadas por Dilma de concessões. Na verdade, esta é outra forma de transferir recursos e patrimônio público para bancos e empresas privadas.

Direitos na mira
Como se não bastasse, o empresariado exige a diminuição do que eles chamam de Custo Brasil. Traduzindo, eles querem diminuir o que as empresas gastam com os trabalhadores, querem diminuir salários e eliminar direitos e benefícios. É por isso que começam a circular, novamente, propostas de mudanças na legislação trabalhista.

Estas ideias não vêm só do lado empresarial. Na semana passada a CUT, junto com outras centrais sindicais, em reunião com o governo, apresentou proposta de mudança na legislação para permitir que empresas que estiverem “passando por dificuldades” possam reduzir o salário do trabalhador em até 30%!

Este é o cenário que se avizinha. Não estamos diante de mudanças ou de um governo melhor como acreditaram muitos trabalhadores que votaram em Dilma. Estamos diante do aprofundamento do que havia de ruim antes e frente à possibilidade de mais ataques aos nossos direitos.

 

É preciso saber contra quem lutamos

Zé Maria, Presidente Nacional do PSTU

Após as eleições, setores da direita, inconformados com a derrota eleitoral, fizeram atos, com pequena representação, com alguns participantes, inclusive, defendendo a volta do regime militar. Frente a isso, setores da esquerda, principalmente em São Paulo, apressaram-se em convocar os trabalhadores para lutar contra a direita.

Sem dúvida, é preciso repudiar a direita que se manifesta, de fato, em defesa do privilégio dos bancos e das grandes empresas. No entanto, é preciso ter senso de proporções e não inflar, às vezes intencionalmente, a força daquilo que não encontra sustentação na realidade. Se houvesse algum perigo real de golpe, estaríamos, com certeza, na primeira linha de resistência contra ele e na defesa das liberdades democráticas. Mas todos sabem que essa possibilidade é simplesmente inexistente na realidade política do país.

Quem está, neste momento, ameaçando, concretamente, os direitos e conquistas dos trabalhadores é o governo do PT. Quem aumentou os juros, autorizou o aumento do preço da gasolina e está anunciando o tal ajuste fiscal não é a tal direita golpista. É o governo da presidente Dilma. Sabemos que isso não é o que os trabalhadores que votaram nela esperavam. Mas é a dura realidade.

Não podemos descuidar do combate à direita tradicional – PSDB, DEM e partidos afins – que representa de forma mais direta os interesses dos grandes empresários.  Mas isso não pode nos levar a excluir a responsabilidade do governo do PT, que se alia a outros setores da direita, como o PMDB, PP, PTB etc., para impor ataques aos trabalhadores.

Ao fugir desta realidade e direcionar a luta dos trabalhadores apenas contra a direita, acabam blindando o governo do PT não contra a direita, mas contra os trabalhadores. Evitam que os trabalhadores travem uma necessária luta contra este governo para defender seus direitos ameaçados. Dilma está aplicando exatamente as políticas defendidas pela direita.

Ao construir nossas lutas no próximo ano, precisamos nos unir, mas num campo de classe. Um campo que se delimite e lute sim contra todas as alternativas de direita existentes na sociedade, sejam elas fortes, sejam fracas. Mas que terá como principal desafi o, nesse momento, enfrentar o governo do PT, pois é este que, para privilegiar os bancos e os grandes empresários, ataca os direitos e interesses dos trabalhadores e a soberania do nosso país.