O Opinião Socialista entrevistou José Maria de Almeida, o Zé Maria, sobre a criação e as perspectivas da Conlutas, diante das lutas dos trabalhadores brasileiros`FotoOS – Como e por que surgiu a Conlutas?

Zé Maria – A Conlutas foi um desdobramento do Encontro Nacional Sindical contra as reformas Sindical e Trabalhista, realizado nos dias 14 e 15 de março deste ano, em Luiziânia (GO). Esse encontro reuniu cerca de 1.800 sindicalistas e ativistas de quase 300 entidades de todo o país. Os debates realizados mostraram a urgência de se travar um duro combate contra a aprovação das reformas Sindical e Trabalhista, e também a importância de vinculá-lo às lutas contra as demais reformas neoliberais e o modelo econômico aplicado pelo governo Lula. Quanto ao combate ao modelo econômico, entendemos que é necessário repudiar o pagamento das dívidas externa e interna, os acordos com o FMI e a implantação da Alca. O encontro decidiu também incorporar as bandeiras de setores que lutam por moradia, reforma agrária etc.
A Coordenação foi aprovada com o objetivo de unificar e impulsionar essas mobilizações, uma vez que são mobilizações nacionais. A realização da manifestação em Brasília, dia 16 de junho, mostrou como a existência da Coordenação possibilita a unificação das entidades em torno das lutas. Acredito que a Conlutas é um embrião de uma alternativa para as lutas dos trabalhadores, e serão as entidades e movimentos que a compõem que vão definir que alternativa é essa que estamos construindo. Esse é um debate que só agora está se iniciando nas entidades.

De que maneira vem ocorrendo o processo de ruptura do movimento com a CUT?

Zé Maria – A CUT deveria ser o espaço para unificar e impulsionar as lutas dos trabalhadores brasileiros, mas já não é mais, devido ao seu apoio às políticas do governo. Portanto, a ruptura com a CUT é, em primeiro lugar, política, em conseqüência do descontentamento generalizado com o governo Lula e com a ausência de respostas da Central. Para algumas entidades há a constituição de relações econômicas entre a CUT e o governo e esse é um processo sem volta. Daí as desfiliações ou a abertura de debates nas bases sobre o tema. No entanto, não há uma relação direta entre essas rupturas e a Conlutas. Até porque, há na Coordenação entidades que não pretendem sair da CUT. Ao mesmo tempo, a Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais, junto com diversos sindicatos de Santa Catarina, lançou um manifesto chamando as bases dos sindicatos para discutir a ruptura com a CUT e o fortalecimento da Conlutas.
Vamos respeitar o ritmo dos debates em cada entidade e no movimento. Podem participar da Coordenação entidades que estejam e que queiram ficar na CUT, que estejam saindo ou que já tenham saído da CUT, e mesmo entidades que nunca foram da CUT, mas querem lutar em defesa das mesmas bandeiras. A Conlutas não é, portanto, uma nova Central Sindical. Como essa situação vai se desenvolver, de que forma essa alternativa será definida e qual a relação que terá com a CUT são questões que as entidades que compõem a Coordenação deverão discutir e definir no futuro.

A Conlutas vai realizar um encontro nacional em Porto Alegre, no FSM. Qual o objetivo do encontro?

Zé Maria – Neste segundo semestre vamos continuar a luta contra as reformas do governo e participaremos de todas as lutas que estiverem acontecendo, sejam populares, como a rebelião em Florianópolis, sejam campanhas salariais etc. No final de outubro, e em novembro, pretendemos realizar encontros estaduais e regionais preparatórios ao Nacional. A pauta desses encontros será o calendário de lutas e o debate sobre essa alternativa que estamos construindo.
No Encontro Nacional pretendemos reunir 5 ou 6 mil pessoas. Queremos reunir entidades sindicais, movimentos populares, sociais, organizações estudantis etc. Neste momento, não temos clareza de até onde avançaremos nesse encontro sobre as definições da Conlutas. Tudo dependerá do desenvolvimento dos debates nas entidades e nos encontros estaduais.

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