No Fórum Social Mundial, a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) realiza, no dia 30, seu Encontro Nacional. Conversamos com um de seus coordenadores, Zé Maria, que também é presidente nacional do PSTU.Opinião Socialista – Na sua opinião, o que deve ser discutido no Encontro Nacional do Conlutas?

Zé Maria – Posso, aqui, expressar apenas minhas opiniões, já que tudo vai ser discutido e decidido com todos os companheiros e companheiras. Mas, entre tantos temas fundamentais, creio que existem duas discussões mais importantes. A primeira é que a Conlutas deve se transformar de uma coordenação de lutas, como é hoje, em uma nova organização, alternativa à CUT e à Força Sindical. Isso significa discutir na base tanto a ruptura com a CUT e outras centrais existentes, como a necessidade dessa nova organização. Toda essa discussão deve ser feita amplamente e poderia culminar em um Congresso da Conlutas, com um tempo razoável, talvez no início do ano que vem. A segunda discussão é o plano de lutas que devemos adotar em 2005, tanto nas mobilizações salariais como na luta contra as reformas neoliberais do governo Lula.

Alguns setores da esquerda cutista consideram um erro a ruptura com a CUT.

Zé Maria – A CUT já deu mostras mais do que suficientes de que não tem mais volta. Seu profundo processo de burocratização tornou impossível qualquer tipo de disputa pela base em seu interior. Existem profundos laços materiais que prendem sua direção ao Estado, que incluem verbas dos ministérios e dos bancos oficiais, assim como a administração de Fundos de Pensão. O interesse pelas verbas supera qualquer discussão política. Não tem sentido a argumentação de que não se pode romper com a CUT porque é necessário disputar sua base. É exatamente o oposto: para disputar sua base é necessário construir uma alternativa nacional, que possa encaminhar as lutas contra as reformas. As duas grandes mobilizações contra as reformas que ocorreram em Brasília, em 2004 — a primeira no dia 16 de junho e a segunda em 25 de novembro —, foram construídas por fora da CUT. E nas duas a Conlutas teve um papel decisivo. A greve nacional bancária só saiu e durou um mês porque a Oposição Bancária, que compõe a Conlutas, estava organizada nacionalmente. É desta forma que se disputa as bases da CUT.

Além disso, a ruptura com a CUT é um processo objetivo, de massas, e independe de nós. Quanto mais lutas, mais choques com o governo e com a CUT. E mais rupturas.

Mas, se não houver a construção de uma alternativa como a Conlutas, esse processo progressivo pode caminhar para a dispersão. Ou pode ocorrer como nas eleições, em que a direita capitaliza a ruptura. Na verdade, os que são contra a ruptura acabam por capitular à direção da CUT, ficando juntos com os maiores pelegos de hoje, que são Marinho e seus aliados.

Qual deve ser, então, o caráter desta nova central?

Zé Maria – Essa é uma discussão que devemos fazer com calma e junto com toda a base, desde o Encontro até a possibilidade de realização de um Congresso em 2006, em que possamos decidir sobre estes temas. Creio que essa nova organização deve ser mais abrangente que uma central sindical, organizando todos os setores da classe trabalhadora, como os desempregados, aqueles que estão na economia informal, os que estão organizados nos movimentos populares de luta por terra, moradia, contra a opressão e a discriminação, organizações estudantis etc. Por isso, não queremos chamar simplesmente de uma nova central, para não dar a idéia de que queremos apenas uma central sindical como as outras. Devemos discutir também uma plataforma política, com base naquela que foi construída pela esquerda socialista dentro da CUT e pelos movimentos sociais nesses últimos vinte anos. Isso deve se expressar na luta contra a recolonização imperialista, principalmente nas mobilizações contra as reformas neoliberais, contra a Alca, pela ruptura com o FMI e contra o pagamento das dívidas externa e interna. Devemos levar adiante aquelas lutas abandonadas pela CUT, como a luta por emprego, salário digno, reforma agrária, moradia e transporte. É imprescindível também que a Conlutas incorpore a luta contra toda forma de discriminação racial, sexista ou homofóbica. Esses pontos serão definidos no Encontro Nacional, iniciando um processo de discussão com a base. Enquanto isso, nossa construção tem de continuar se dando nas lutas, sendo um instrumento a serviço delas.

As oposições sindicais ganham muita importância nesse processo, num momento em que as diretorias da grande maioria dos sindicatos dão apoio à política da CUT. Essa nova organização deve ainda funcionar com a mais ampla democracia interna, com todas as decisões fundamentais sendo discutidas e deliberadas pela base, passando longe do modelo centralizado pela cúpula, como é o das centrais sindicais.

O que a Conlutas deve fazer agora com relação à sua organização?

Zé Maria – Precisamos estruturar melhor nossa Coordenação, mantendo seu funcionamento aberto à participação de todas entidades ou movimentos, além de constituir um grupo executivo, sem caráter deliberativo, para tocar as atividades cotidianas. É preciso também dar um salto na questão financeira, com mais entidades contribuindo regularmente. É importante que os dirigentes sindicais coloquem a construção da Conlutas como prioridade em seus estados.

O que está sendo discutido sobre o plano de lutas para 2005?

Zé Maria – Vamos ter, durante todo o ano, as campanhas salariais e lutas específicas de cada categoria, como a do funcionalismo público federal, já neste primeiro semestre. Devemos encaminhar a luta contra as reformas Sindical e Trabalhista, que deve ser um eixo unificador das mobilizações, além das lutas por reforma agrária, moradia, contra a Alca etc. A reforma Universitária já está sendo imposta pelo governo Lula, por isso é urgente construir uma resposta mais imediata, com mobilizações já no início do ano letivo. Precisamos ainda construir uma semana de mobilizações, entre abril e maio, com manifestações e paralisações nos estados, culminando numa atividade dentro do Congresso para pressionar os parlamentares. No início do segundo semestre, teríamos de impulsionar uma forte mobilização em Brasília, com uma grande marcha contra as reformas Sindical e Trabalhista. Além disso, é importante apoiar as oposições sindicais contra as direções governistas, nos muitos sindicatos cujas eleições ocorrem neste período.
Post author Por Diego Cruz, da redação do Opinião Socialista
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