Instituição enviou denúncia ao Ministério Público e à Polícia Federal por formação de quadrilha contra trabalhadores que se organizaram

Após uma mobilização de um setor da Universidade Federal do ABC (UFABC), em SP, contra o assédio moral e condições de trabalho muito ruins, a universidade abriu um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), um procedimento que os órgãos públicos devem cumprir para investigar se houve infrações funcionais, para investigar a conduta do chefe assediador, mas também de cerca de um terço do setor que se mobilizava. Foi enviada, inclusive, uma denúncia à Polícia Federal e ao Ministério Público contra os servidores por suposta formação de quadrilha, pois os trabalhadores se organizaram para preparar as ações de sua luta.
 
O ano de 2013 será marcado como o ano da onda de protestos em nosso país, mas também como o ano da repressão aos que lutam. Em São Paulo, Rio de Janeiro e por todo o país as prisões de militantes nas manifestações ocorreram sem escrúpulos, isso para não mencionar a violência da PM no decorrer dos atos.
 
No nosso dia-a-dia cotidiano pudemos acompanhar os mesmos fenômenos. Ao mesmo tempo em que as pessoas não estão mais dispostas a aceitar a opressão cotidiana, o governo e os patrões tentam de todas as formas impedir a organização e luta dos trabalhadores e estudantes.
 
Na UFABC, temos um exemplo muito claro da política do governo federal sobre como lidar com as reivindicações dos trabalhadores. Não contente, ao ver que os servidores acusados se apoiavam no Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal do ABC (SinTUFABC) e argumentavam que sua ação foi sindical e não uma insubordinação à chefia, a comissão investigadora resolveu incluir os coordenadores gerais do sindicato como acusados, também por insubordinação. Fica ainda pendente o esclarecimento da comissão sobre a quem o sindicato deveria se subordinar: às chefias ou aos interesses dos trabalhadores?
 
Nesse momento, o processo está em sua fase final, Dentre os 23 acusados, oito (incluindo seis coordenadores do SinTUFABC) podem ser demitidos e outras punições podem ser aplicadas aos demais. No início de janeiro, o processo será finalizado e irá para a decisão final do reitor.
 
Transformar em crime uma luta sindical, como está ocorrendo na UFABC, é um profundo ataque ao direito de organização dos trabalhadores, pois tem por trás de si a mensagem: “Lutar não vale a pena, sua situação ficará pior do que está hoje!”. Os trabalhadores que são acusados no PAD têm suas vidas muito abaladas, com prejuízos pessoais, emocionais e financeiros.
 
É importante considerar o momento que vive nosso país para entender que o problema não é uma ação isolada de uma instituição qualquer. Teremos uma Copa do Mundo em no Brasil no próximo ano. Em 2013, a Copa das Confederações já foi ameaçada pelos protestos, então o governo de Dilma Rousseff (PT) tem de mostrar que é capaz de manter a população sob controle.
 
Entre os servidores públicos federais, está sendo articulada nova greve para 2014, que pode ser maior e mais forte do que as últimas por ser organizada no conjunto das categorias que sofrem com a inflação, o aumento do trabalho sem o aumento de recursos e a melhoria das condições de trabalho. O governo já fez aprovar uma lei que criminaliza greves e manifestações no período da Copa, mas sabe que talvez mesmo isso não seja suficiente. Por isso, está criminalizando os lutadores desde já.
 
Isso ocorre na UFABC, mas também em outras categorias, com outros dirigentes sindicais e com estudantes. É um problema que atinge todos os trabalhadores, e todos os que lutam em busca que melhores condições de vida e de sociedade. É preciso organizar a luta em solidariedade aos trabalhadores da UFABC como parte da campanha contra a criminalização dos movimentos sociais.
 
Como apoiar
Participe do ato, no dia 9 de janeiro, às 10h no campus Santo André (Av. dos Estados, 5001). Você também pode assinar a moção online. Se você faz parte de alguma entidade ou organização, discuta o problema com a direção e a categoria e envie uma moção pela entidade para os e-mails [email protected] e sintufabc.org.br.