El Alto, cidade dormitório de 700 mil habitantes, foi um dos centros fundamentais da revolução. Na insurreição, a cidade estava organizada, quarteirão por quarteirão, ao redor da COB regional, através das “juntas vecinales” (juntas de vizinhos).

Um boliviano me mostrou as cinco passarelas derrubadas para formar barricadas e impedir a passagem dos tanques nas avenidas.

El Alto também vive agora a “trégua” das direções majoritárias ao novo governo. Mas a desconfiança em relação a Mesa está crescendo e novos conflitos se preparando.
Mesa tem o apoio do imperialismo, da burguesia local e de todas aquelas direções. Vai querer desviar a atenção dos trabalhadores para o pântano da democracia burguesa, através da eleição de uma Constituinte, na qual ele deve tentar incluir temas como o do gás. Como se fosse necessária uma Constituinte para saber que o povo boliviano não quer a entrega do gás para as multinacionais, quando foi contra isso que a insurreição começou. Mas, através da Constituinte, podem ser eleitos muitos deputados com o dinheiro da burguesia e apoio da mídia, outros podem ser comprados, e o gás pode “democraticamente” seguir com as multinacionais.

A burguesia vai conseguir canalizar a revolução em curso para a “democracia”? A favor deste objetivo, ela tem a seu lado a autoridade dos principais expoentes da insurreição, como Evo, Solares e Quispe. Hoje, na Bolívia, vale mais o peso destas direções para sustentar Mesa do que a ilusão das massas nas instituições da democracia burguesa.

Mas, contra este plano está a realidade. Por mais discursos a favor da “democracia”, nada pode mudar a realidade desta economia dominada pelo imperialismo, a não ser uma nova revolução, e desta vez socialista.

A Bolívia caminha aceleradamente para ser colônia dos EUA, seja via Alca ou um acordo bilateral. Qualquer governo burguês vai aplicar o plano imperialista, exatamente como Lula faz no Brasil.

Os simpatizantes de Evo Morales precisam ver a atuação do governo Lula, para entender a profundidade da afirmação de Evo de que precisa “aprender muito” com Lula.

Os bolivianos terão que superar suas direções, que têm um plano oposto às suas aspirações. Terão que exigir que a COB tome o poder com Evo, Quispe e Solares e construir outra direção, disposta a fazer uma revolução: o MST boliviano é um embrião de partido revolucionário.

A Bolívia tem talvez a maior história revolucionária de toda a América Latina, depois de Cuba. A tomada do poder foi possível nas revoluções de 1952, 1971 e 1985, mas as direções o entregaram à burguesia.

Agora, mais uma vez, o problema do poder está colocado. A revolução socialista é um sonho? Não. É necessidade e possibilidade presente nesta Bolívia das insurreições.
É um sonho, daqueles que Lênin dizia que deviam se realizar.

Aos que dizem ser a tomada do poder “só um sonho”, respondemos que utopia reacionária é defender a resolução do problema do gás, do emprego ou da terra através da democracia burguesa e do capitalismo. Os que acreditavam em Lula que o digam.
Post author Eduardo Almeida, da Bolívia
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