Trata-se de uma “crise européia” por três razões. A primeira é a rigidez do sistema monetário conjunto. A existência de uma moeda e uma autoridade internacional comum faz com que os países membros da zona do euro não possam ter uma política monetária capitalista própria (como uma forte desvalorização de sua moeda nacional, por exemplo) sem romper com o euro. Ao mesmo tempo, todas as medidas “anticrise” da autoridade monetária europeia representam, na prática, uma “intervenção” e uma imposição sobre os países afetados.

A crise dos países membros, ainda que afete os mais débeis, transforma-se em uma crise do euro em seu conjunto. O sistema financeiro grego é, hoje, controlado por capitais estrangeiros, principalmente alemães, franceses e norte-americanos. Em outras palavras, uma quebra do Estado e do sistema financeiro gregos (ao estilo da Argentina, em 2001) teria gravíssimas consequências no sistema financeiro europeu e mundial.

A corrente imperialista ameaça arrebentar em seu elo mais frágil. Mas a crise fiscal e econômica avança em países maiores como Espanha e Itália, que acaba de sofrer um ataque especulativo respondido pelo governo Berlusconi por meio de um plano duríssimo de ataque, votado em unidade total com a oposição no parlamento. Inclusive, potências bem mais fortes, como a Grã-Bretanha e França, se vêem obrigadas a aplicar planos de “austeridade”. Se o “elo mais frágil” romper na Grécia, seu efeito se expandirá para os demais elos da União Europeia. Segundo palavras de um ex-prêmio Nobel de Economia, o norte-americano Paul Krugman, a queda do euro seria “uma catástrofe” para a economia e para as finanças mundiais.

O Pacto do euro
Mas as burguesias europeias, especialmente as da Alemanha e França, estão dispostas a defender até o final o euro e seu espaço imperialista. No dia 27 de junho foi ratificado em Bruxelas, sede da EU, o chamado “Pacto do Euro”, um texto assinado pelos 17 chefes de governo da zona do euro para “responder à crise e aumentar a competitividade da Europa”.

Mas, para fazê-lo, serão obrigados a aprofundar ainda mais seus ataques. Terão que sujeitar os países mais débeis, impondo-lhes, junto com a “ajuda financeira”, medidas e condições de controle similares às impostas na América Latina nas décadas de 1980 e 1990. Por exemplo, o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, tem dito explicitamente que Grécia terá sua soberania “enormemente limitada” com o plano de ajuste que aprovou para desbloquear as ajudas da UE e do FMI.

Em segundo lugar, deverão atacar cada vez mais as conquistas, as condições de vida e os direitos dos trabalhadores. Neste aspecto, a Grécia é a ponta de lança dos planos de ajuste que se aplicam em todo o continente. Hoje, o sistema capitalista imperialista já não pode garantir a manutenção de nenhuma destas conquistas (convênios salariais, condições trabalhistas, aposentadorias dignas, saúde e educação públicas de qualidade) e precisa destruí-las para defender seus lucros e jogar o custo da crise nas costas dos trabalhadores e do povo.

As contradições interimperialistas
Os bancos, duplamente responsáveis pela atual situação, são os que mais exigem sacrifícios dos países débeis e dos povos europeus. Mas isto começa a provocar divisões nas burguesias imperialistas europeias.

Enquanto a cúpula da UE e do Banco Central Europeu (BCE) defendem a postura dos bancos, a premier alemã Ángela Merkel apresentou a posição de que os bancos se responsabilizem por uma parte do custo dos “pacotes de ajuda” – destinados em última instância, a “salvá-los”. Assim, busca-se atenuar um pouco seu impacto popular.

Merkel expressa seguramente a dupla pressão da burguesia industrial alemã, que quer evitar uma nova recessão e dar saída a suas exportações. Além disso, serve com satisfação ao eleitorado alemão, que se opõe que o Estado contribua com estes pacotes de ajuda. Ao mesmo tempo, teme também as reações populares que estes pacotes podem provocar. Os governos da França e Espanha aliaram-se com as posições mais duras do BCE e possivelmente refletem o compromisso estreito de seus principais bancos com as dívidas dos “PIGS”. Em qualquer caso, estas divisões agregam mais instabilidade a uma situação já, por si só, explosiva.
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