Ameaça postada em rede social da polícia

Esta é uma nota de solidariedade incondicional ao cartunista Carlos Latuff, diante das inúmeras ameaças que vem recebendo. Não vale a pena repetir as ofensas morais que o cartunista recebeu na página da ROTA no Facebook, mas as ameaças são mais reais do que simples comentários.

O último episódio se deu a partir do que, segundo ele, foi uma provocação postada em seu perfil na rede social: “o garoto que matou o pai, um policial da ROTA, merecia atendimento psicológico e uma medalha. No estado policial em que vivemos no Brasil, as organizações da repressão são alçadas a condição sacrossanta”. O comentário desatou uma série de ameaças de morte por pessoas identificadas como policiais na Internet.

Destacamos algumas ameaças publicadas na Revista Fórum e retiradas das páginas da ROTA e Fardados e Armados:

“Vc é um lixo humano…cai na minha frente que vou te mostrar como tratar uma pessoa como vc…vou meter a .40 [arma] na tua cara” (mulher identificada como Cardia Ma, que trabalharia na OAB de São Paulo e teria sido da Polícia Militar).

“Baixa ele” (brigadista Giovani da Silva Pereira).

“Guerreiros do Sul – RS, SC e PR se esbarrarem com esse sujeito já sabem de quem se trata. Declaradamente contra as forças policiais esse LIXO maconheiro está festejando a morte da família do Sargento Pesseghini da ROTA/SP” (Fardados e Armados).

“Você e um grande imbecil merece medalha quem encher sua cara de porrada….. imbecil…..” (comentário de Andre Ventura na página da ROTA)

“Tem que levar de .40 mesmo!!!” (comentário de Danilo Éverton Silva, na página da ROTA).

“Localizem a residência desse mongolóide e chamem ele pra uma conversa. Quero ver ser malandro assim cara a cara…” (comentário de Luis Fernando na página da ROTA)

E as ameaças se estendem: “Se vc apoia esse lixo é terrorista igual e se é terrorista, tem mais é que morrer, lixo” (comentário na página da ROTA).

Não é necessário exemplificar mais.

Antes de tudo, queremos dizer que estamos juntos na defesa de Latuff contra qualquer retaliação, repressão ou forma de violência e risco de morte real. Os Amarildos estão aí para provar que o papel que cumpre a Polícia Militar é, no mínimo, nefasto e incompatível com uma “democracia”. Caso aconteça qualquer coisa com Latuff, já sabemos a quem acusar: a PM, o governo estadual e o Estado brasileiro, que nada faz para impedir essas agressões.

Mesmo antes do recrudescimento da violência policial no Brasil, a partir das Jornadas de Junho, o cartunista já sofria represálias e ameaças. Como ele mesmo diz, desde sua primeira exposição de charges, “A Polícia Mata”, vem sofrendo ameaças. Depois, foram os sionistas e os extremistas muçulmanos. E assim, vão tentando calar à força e à bala aqueles que ousam discordar da ordem vigente. Latuff já foi detido três vezes. Seu crime: desenhar.

Consideramos Carlos Latuff um ativista que milita armado. Sua arma: a arte. Reconhecemos que Carlos Latuff nunca deixou de manifestar suas posições diante de situações de opressão e exploração. Foi assim na Ocupação Pinheirinho, por exemplo. Independentemente das diferenças políticas que possamos ter, temos a obrigação de denunciar estas ameaças e prestar toda a solidariedade ao cartunista.

É certo que depois da mudança da situação no país, com as Jornadas de Junho, a esquerda está sendo muito mais vigiada do que já era antes. Hoje, a PM não se preocupa em revelar que tem infiltrados nas manifestações. Não se preocupa em filmar e fotografar os ativistas que estão nas passeatas e atos. Sabiamente, invadem as redes sociais com páginas ligadas à polícia, “com perfil fascista, anticomunista, antipetista, machista e homofóbico” como diz Latuff. Incluímos nesta lista os partidos da esquerda socialista, dos quais fazemos parte. A PM angaria e incentiva simpatizantes a ações violentas.

É preciso acabar com a Polícia Militar, resquício podre da ditadura militar. É preciso acabar com esse conceito de “desaparecido”. Não existem desaparecidos nas comunidades pobres: existem executados – seja pela polícia, seja pelo tráfico. Os desaparecidos não deixaram de surgir com o fim da ditadura militar. São aqueles que, de alguma forma, não se encaixam na ordem capitalista.

Sabemos bem o que é ser vigiados. Existem documentos que comprovam infiltração na nossa organização, pelo menos, até 1994. Não foi na ditadura. Tivemos nossa sede nacional invadida em 2008. Outras sedes também foram, como a do ABC, em 2006. Nossos militantes apanham e são detidos. Mas não nos calaremos. E vamos continuar divulgando as charges de Carlos Latuff com as quais tivermos acordo político, que, diga-se de passagem, são excelentes do ponto de vista estético.

A verdade é que vivemos hoje uma ditadura disfarçada de democracia, em que ao rico tudo é permitido e aos pobres, trabalhadores e àqueles que discordam da ordem precisam ser eliminados ou alienados pela superexploração. Mas a realidade um dia vai se impor à força, e a maioria, que somos nós, trabalhadores e lutadores, tomaremos as rédeas de nossos próprios destinos. Não haverá espaço para censura e ameaça a quem polemiza.

E existem reservas. Alguns corajosos entram na página da ROTA para comentar: “Latuff é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo!!!”

Sim, é preciso ter muita coragem para enfrentar e denunciar os mandos e desmandos da polícia e do Estado. Carlos Latuff não será mais um Amarildo!

Latuff, estamos com você “pelo fim de grupos de extermínio oficiais como a ROTA e o BOPE, que só fazem matar pretos e pobres. Pelo fim da ‘guerra contra as drogas’. Pelo fim da filosofia militarista nas polícias”