Os metalúrgicos da Volkswagen de São Bernardo do Campo estão lutando contra a demissão de 3.700 operários e a ameaça de fechamento da fábrica, feita pela direção da empresa. Os trabalhadores de todo o país devem apoiar a luta na Volks, principal fábrica do mais importante reduto operário do país, o ABC paulista. Foi lá o berço da CUT e do PT. Do ABC veio Lula, e desta fábrica veio Luiz Marinho, atual ministro do Trabalho.

Mas não se trata apenas de apoiar a luta. É preciso também tirar conclusões do que se passa por lá e no país. A maioria dos trabalhadores acredita que Lula é um “defensor dos pobres“. A propaganda eleitoral reforça essa idéia, apontando sua reeleição como a porta milagrosa para a melhoria social e a elevação do nível de vida do povo.

Para os que acreditam nisso, seria natural que, com o governo Lula, os metalúrgicos do ABC fossem intocáveis. Ter Lula à frente do governo e Marinho no Ministério do Trabalho bastaria para que os salários subissem e não houvesse ameaça a seus empregos. Aliás, essa era a esperança dos operários da Volks que votaram massivamente em Lula. Afinal, “um dos seus” chegava lá, e tudo seria diferente. Mas nada disso está acontecendo.

Em toda a história dos metalúrgicos do ABC, nunca houve uma ameaça como essa. Caso se concretize a demissão dos 3.700 operários ou o fechamento da fábrica, será a maior derrota do ABC em muitos anos. E terá influência na luta dos metalúrgicos das outras montadoras de automóveis da região e de todo o país. Como se explica isso? Como pode acontecer, ainda mais num período de crescimento econômico, em que a empresa aumenta suas vendas e seus lucros?

Muitas vezes a luta política parece um jogo de disfarces, em que as coisas nunca são o que aparentam. É hora de tirar as máscaras. A Volks quer as demissões para adequar a fábrica aos esquemas de produtividade da globalização capitalista, e tem a ousadia de apresentar essa proposta porque sabe que Lula e Marinho não são representantes dos operários no poder, mas aliados da empresa. O assunto é tão vergonhoso que um empréstimo do BNDES à montadora para financiar o ataque aos trabalhadores foi suspenso em razão da indignação dos metalúrgicos.

A verdade é exatamente oposta ao que pensa a maioria dos trabalhadores do país. Lula não só não defende os interesses dos pobres. As grandes empresas podem contar com a autoridade de Lula perante os trabalhadores para impor derrotas que os governos do PSDB não conseguiriam. Foi assim com a reforma da Previdência de 2003, quando Lula atacou a aposentadoria do funcionalismo público – algo que FHC não conseguiu. Por isso um dos mais lúcidos representantes dos setores mais reacionários da burguesia, Delfim Neto, afirma que só a reeleição de Lula poderá impor a reforma trabalhista e a nova reforma da Previdência porque – segundo suas próprias palavras – “o trabalhador acredita nele”.

O exemplo da Volks deve servir para a reflexão dos operários das outras montadoras do país, e de categorias como bancários, professores, trabalhadores dos Correios, funcionários públicos e estudantes. O voto em Lula é uma armadilha que, após as eleições, vai se virar contra vocês. O futuro governo Lula vai atacar seu direito às férias e ao décimo terceiro salário. É como estar numa greve e entregar todo o movimento nas mãos de um fura-greve, ou de um pelego que representa os interesses dos patrões no meio dos trabalhadores.

Alckmin, o candidato da direita clássica (PSDB e PFL), está em crise. Os ratos já começam a deixar o navio. No Ceará e no Amazonas, os candidatos do PSDB abandonaram o “Geraldo”. O programa do tucano é igual ao de Lula – o mesmo plano neoliberal, a mesma defesa das reformas da Previdência e trabalhista. O histórico de corrupção do PSDB é o mesmo do PT, por isso a campanha não cola.

A democracia dos ricos permite essa farsa: iludir o povo com promessas eleitorais que os candidatos sabem que nunca vão cumprir. Lula, o “pai dos pobres”, é na verdade uma mãe para os banqueiros. Alckmin, o administrador “competente”, é o corrupto que se apresenta como guardião da ética.

O voto em Heloísa Helena para presidente e nos candidatos do PSTU é uma declaração de luta contra isso. Foge da falsa polarização entre Lula e Alckmin, e fortalece uma alternativa dos trabalhadores.

É preciso votar em Heloísa e é necessário lutar. Os metalúrgicos da Volks devem votar em Heloísa, contra Lula e Alckmin, contra Marinho e a Volks, e devem ir à luta contra as demissões.

E, por falar em luta, a Conlutas está impulsionando mobilizações salariais unificadas de petroleiros, bancários, funcionalismo público e outras categorias no dia 5 de setembro.
Post author
Publication Date