Ana Cristina, de São José dos Campos (SP)
Portal do PSTU conversa com operárias que atrasaram o turno no Dia Mundial de Greve neste 8 de março
Nesta quarta-feira, dia 8 de março, Janaína, 29 anos, acordou pouco antes das 5h da manhã como faz todos os dias. Precisava fazer algumas tarefas em casa, levar o filho de 5 anos para sua mãe cuidar, para depois ir poder trabalhar na Blue Tech, uma empresa metalúrgica de Caçapava (SP).
Às 6h30, vans começam a chegar à fábrica, formada majoritariamente por mulheres, trazendo várias trabalhadoras e Janaína é uma delas. Chega e já vai sentando em frente à fábrica, como aos poucos também fazem as outras cerca de 200 funcionárias.
De início, elas já são informadas de que o tema da assembleia do dia é o 8 de março. Pegam o panfleto que traz informações do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, adesivo e camiseta e ficam à espera da assembleia, período em que fomos conversar com algumas delas.
Janaina disse que é importante participar e saber as informações que o sindicato tem a passar. Sabe que o dia 8 de março é uma data importante para as mulheres. Do seu jeito, expressou dois problemas que afligem as mulheres trabalhadoras: o peso da tripla jornada e a desigualdade no mercado de trabalho.
“Hoje é um dia de luta pra sermos respeitadas e termos direito a nosso espaço. Acho que melhorou muito se compararmos com antigamente. Mas ainda falta muita coisa. Em minha opinião, a mulher ainda precisa ser respeitada no mercado de trabalho. Muitos ainda veem a mulher como dona de casa e não como profissional, com capacidade. Trabalhamos o dobro se comparado aos homens, tanto dentro, quanto fora de casa. Por isso, acho que é importante parar para discutir essa situação”, afirmou.
A diferença salarial e a desigualdade de condições no mercado de trabalho também foram apontadas pela jovem Bianca, de 26 anos, que ainda falou da violência. “A mulher é muito desrespeitada. Vejo isso no mercado de trabalho. Os salários dos homens sempre são maiores. Na televisão, também sempre estamos vendo casos de violência contra a mulher, como espancamentos e até morte”, disse.
Outra trabalhadora, Karina, de 23 anos, é enfática sobre o fato da data do 8 de março ser apenas uma data “comemorativa” para a maioria da sociedade, para apenas se fazer honras às mulheres. “Nem gosto de flor (risos). Dia da mulher é todos os dias. E apesar de ter avanços, falta muita coisa. Tem muita discriminação e machismo”, disse.
Gabrielli tem 26 anos. Disse que a mulher é muito sobrecarregada. “A vida é corrida, a gente não tem tempo pra gente. Só a mulher se dedica pros filhos na maioria das vezes. Isso é machismo”, disse. “Mas a situação pode mudar. Com a ajuda dos homens, com mais igualdade. Não é só a gente fazer as coisas”, disse, completando que cobra o marido em casa.
Casada, mãe de uma menina de 4 anos, a metalúrgica também disse que não existe segurança para as mulheres e fez referência à cultura do estupro. “Tem muita desigualdade. Uma delas é que se uma mulher coloca determinada roupa, já dão um rótulo pra ela. Já o homem pode andar sem camisa, do jeito que quiser, por que é homem. Não acho certo. Muitos homens se acham no direito de passar a mão, xingar, humilhar, fazer o que quiser com a mulher. É um absurdo”, disse.
Sobre as reformas da Previdência e trabalhista, todas disseram que já ouviram falar e que apesar de não saberem o conteúdo total das mudanças propostas pelo governo, já deu para perceber que as mulheres serão muito afetadas. O tema foi ouvido com muita atenção durante a assembleia.
“Hoje, com a insegurança do desemprego já não temos a garantia que iremos nos aposentar. E o governo não faz nada pra melhorar a vida do trabalhador. Com certeza as mulheres serão mais prejudicadas”, disse Janaína.
“Eu acho muito difícil que um dia consiga me aposentar e, se piorar, aí que não vamos conseguir a aposentadoria mesmo. Mas acho que o caminho é a luta. Eles estão tentando tirar mais direitos e mobilizar é a única solução”, concluiu Gabrielli.
Janaína, Gabrielli, Karine e Bianca, bem como as demais trabalhadoras, ficaram por quase uma hora em assembleia. Mais uma vez, deram uma demonstração de organização e mobilização. Com forte tradição de luta, não foram poucas as greves e mobilizações travadas pelas metalúrgicas da Blue Tech. Já realizaram paralisações contra assédio moral e sexual, por salários e direitos.
No dia 15 de março, o sindicato já avisou que tem mais. A luta vai ter de aumentar para derrotar as reformas do governo Temer e defender a aposentadoria e os direitos das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. As trabalhadoras da Blue Tech sabem que a luta não acabou e já estão prontas para as próximas mobilizações.
Outras fábricas
Em outras empresas da região também houve assembleias e atrasos, destacando os temas que são os eixos desse Dia Internacional da Mulher Trabalhadora: a luta contra o machismo, a violência e os ataques aos direitos. Houve mobilização na GM, Gerdau, Heatcraft, Hitachi, Prolind e Sigma, em São José dos Campos, e na montadora chinesa Chery, em Jacareí.