Com destaque para as mulheres, ato na periferia de São Paulo reuniu 200 pessoas
Cerca de 200 pessoas se reuniram na manhã desta sexta-feira no Grajaú, Zona Sul de São Paulo, para celebrar o Dia da Consciência Negra. O ato, chamado de Marcha da Periferia, foi organizado por diversos movimentos sociais e organizações e começou a se concentrar por volta das 10h em frente ao Terminal Grajaú. No local, foram feitas algumas falas, e houve panfletagem antes que a marcha saísse pelas ruas do bairro. Nas faixas, o ato denunciava o genocídio da população negra e exigia que o os ricos paguem pela crise.
Neste ano, o destaque da marcha ficou para as mulheres negras. Protagonistas de diversas lutas, fizeram várias denúncias. Para Joyce Camila, da ANEL, o “povo pobre e preto está unido para mostrar que tem poder, para lutar contra a redução da maioridade penal e contra todos os ataques que estão acontecendo”.
Também estiveram presentes estudantes secundaristas que, em todo o estado, lutam contra o projeto de reorganização de Geraldo Alckmin (PSDB). Para Letícia Gonzales, 16anos, “a reorganização é uma afronta, assim como a redução da maioridade também é”. Entretanto, a secundarista de Jaú (SP) não tem dúvidas: “isso vai cair, e vai ser pelas mãos da juventude da periferia, no povo negro e das mulheres”.
Sandra de Moura, umas das dirigentes da Ocupação Jardim da União, afirmou: “para nós, é um orgulho imenso estar aqui hoje. Nós achávamos que lutávamos só por moradia. Mas é por muito mais. Na nossa ocupação, o que mais tem são negros e pobres. E são eles que mais sofrem com o genocídio”. Sandra completou: “nós, mães, mulheres negras, sofremos com a violência doméstica, mas também com a violência do Estado que tira nossos direitos. Mas nós estamos aprendendo a falar. E é com isso aqui [manifestação] que nós vamos ser ouvidas. E se for preciso, vamos para as ruas todos os dias”.
Sobre a situação das mulheres, também falou a professora e militante do PSTU Janaína Rogrigues. “Somos nós que ainda recebemos os piores salários, que ocupamos os piores postos de trabalho, que sofremos com o assédio moral e sexual”. Para a professora, é preciso organizar mulheres e homens na luta por salários iguais, mas também contra a crise “que querem que a gente pague. São eles que vivem dos nossos trabalhos precários”. Janaína foi categórica: “se eles são a casa grande, nós somos a revolta na senzala”.
Este ano, a Marcha da Periferia também celebra “os 320 anos da imortalidade de Zumbi dos Palmares e sua luta, ao lado de mulheres como Dandadara, Aqualtune e Akotirene, que construíram aquilo que deve ser o nosso projeto de futuro: grandes quilombos, onde o povo trabalhador e negro possa ser, de fato, livre”, afirmou Tamiris Rizzo, do Quilombo Raça e Classe.
No final do ato, os manifestantes se concentraram numa praça onde houve diversas intervenções e apresentações artísticas como recital de poesia, jongo, apresentação de rap e de break dance.