Em uma recente postagem no facebook, o Black Bloc-RJ expõe algumas reflexões interessantes sobre eles próprios e constatam que aumenta a rejeição da população às suas ações. O PSTU sempre se colocou de forma honesta e franca no debate a cerca dos Black Blocs e diante desta declaração não poderíamos deixar de nos posicionar.

Antes, gostaríamos de reafirmar que, apesar das enormes diferenças de método e programa, não criminalizamos os adeptos dos Black Bloc. Ao contrário, os defendemos política e juridicamente dos ataques dos governos, mídia e daqueles que propõem prendê-los, como o Deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), ou os consideram fascistas, como Marilena Chauí (PT).

Vândalos são o governador do Estado e seus amigos empresários que vivem no luxo, usurpando dinheiro público e massacrando o povo pobre.

Os limites do Black Bloc e a greve dos trabalhadores
Muito mais eficaz que destruir símbolos do capitalismo são as greves dos trabalhadores. A força dos trabalhadores em greve reside, em primeiro lugar, na capacidade de parar a produção e a fonte de lucro dos capitalistas. No caso do serviço público, a greve coloca em cheque o funcionamento das instituições do Estado, gerando um funcionamento anormal destas. Um erro que o Black Bloc comete é confundir a disposição dos trabalhadores em realizar greves, que é muito progressiva e determinante para nossa luta, com o papel nefasto que cumprem as direções dos sindicatos pelegas, burocráticas e governistas. Com esta confusão, equivocadamente, se colocaram contra o dia 11 de julho e agora contra o dia nacional de lutas e paralisações, o 30 de agosto.

Apesar dessas direções, os trabalhadores, no 11 de julho, foram à luta passando por cima das burocracias que tentavam travar o movimento e blindar o governo. A mídia trata de não divulgar as grandes greves, paralisações e mobilização destes dias, assim como não noticia nada sobre a greve da construção civil no Comperj e na CSN que acontecem neste momento.

Como desdobramento desta confusão, há por parte do Black Bloc uma equiparação entre as direções burocráticas e governistas que travam a luta dos trabalhadores com as organizações revolucionárias que cumprem um importante papel há muitos anos no nosso país. Equiparam, por exemplo, com as direções traidoras, organizações como o PSTU que tem a estratégia da mobilização permanente dos trabalhadores e  nunca se vendeu ou sucumbiu aos interesses da burguesia e que defende a revolução socialista.

A principal mobilização hoje no estado do Rio de Janeiro é a greve das redes públicas de ensino, com destaque para a rede municipal que há 19 anos não realizava uma greve. Esta luta é fruto das insatisfações acumuladas pelos profissionais da educação que, com as mobilizações de junho, perceberam que era preciso lutar e que era possível vencer. Esta greve simbolizou, no Rio de Janeiro, a entrada em cena da classe trabalhadora organizada com seus métodos e sua disposição.

O Black Bloc, entretanto, não foi bem recebido. Quando tentaram se integrar a uma manifestação de rua da greve, foram rechaçados pelos trabalhadores. O PSTU e outras organizações de esquerda se colocaram em defesa da permanência dos Black Blocs nas passeatas da greve. Outro fato marcante foi a passeata com 20 mil profissionais da educação em direção ao Palácio da Cidade em Botafogo. O comércio começou a fechar as portas e os educadores cantaram: “Fecha a porta não, quem está passando é a educação”.

Estes fatos demonstram o que já afirmamos em textos anteriores. A maioria dos trabalhadores, ao não apoiar e nem ter simpatias com os métodos e política dos Black Blocs, não os quer junto deles.

Aqui cabe uma comparação. As mobilizações pós-junho colocaram na ordem do dia o FORA CABRAL despertando simpatias e apoios. As centenas de valorosos ativistas convocados pelo Black Bloc colocaram o Fora Cabral como eixo do seu movimento, os profissionais da educação também. A diferença fundamental é que os profissionais da educação, parcela da classe trabalhadora, levam dezenas de milhares às ruas, param as escolas do Rio de Janeiro e despertam a simpatia de milhões. Dos atos dos Black Blocs não se pode dizer o mesmo.

Grosso modo, a base social de apoio ao Black Bloc sempre foi um setor da juventude, seja estudantil ou até mesmo trabalhadora, muito revoltada com a atual situação das coisas, que sente na pele a crueldade da perda de direitos e injustiças sociais do capitalismo. Por isso mesmo é uma geração muito explosiva e espontânea.

Em geral, estas foram as primeiras manifestações desses ativistas. Além disso, ainda não confiam nas organizações da classe trabalhadora, pois acham que qualquer organização é burocrática e traidora. Isto é reforçado pelo papel do PT e PCdoB, e pelo fato da CUT e da UNE terem sido cooptadas pelo governo, o que degenerou estas organizações enquanto instrumentos de luta.

Estes ativistas levantam muitas reivindicações importantes, mas não percebem a necessidade de um projeto de ruptura da ordem burguesa, de uma alternativa socialista. De fato, não vislumbram a perspectiva de mudança do sistema capitalista. Sendo assim, suas reivindicações em última instância se limitam a exigir um aprofundamento da democracia tal como a conhecemos, ou seja, se contentam em exigir pequenas reformas e melhorias do regime democrático burguês, na democracia dos ricos e poderosos. Isto ficou expresso nas ilusões em torno do MP (Ministério Público) ou mesmo nas ilusões em torno da Assembléia Legislativa e da Câmara de Vereadores onde se alinham com as propostas de CPI sem nenhuma crítica a estas instituições.

O Black Bloc é a síntese destas características transformadas em um movimento. Por um lado reflete a radicalidade de parte da juventude que foi às ruas em junho. Por outro, expressa a falta de um programa alternativo de sociedade e a desconfiança com as organizações e partidos. No aspecto das organizações partidárias, não é progressivo igualar os partidos revolucionários, ou mesmo os partidos da esquerda reformista, aos partidos burgueses ou aos partidos de sustentação dos governos de Paes, Cabral e Dilma, como são o PT e o PCdoB.

A contradição, entretanto, é a seguinte: essas mesmas características que propiciaram grande simpatia ao Black Bloc num primeiro momento, agora se transformam em seus limites, funcionando como uma trava no desenvolvimento da luta e gerando um questionamento sobre os próximos passos a serem tomados.

Não é à toa os questionamentos à própria página do Black Bloc no facebok. Muitos se dizem não se sentir representado pela declaração “oficial” da página que revê algumas atitudes do próprio grupo. De fato, se é uma tática e não um grupo, tudo sem liderança, quem tem a senha do facebook? Quem posta as informações? Quem decide seus rumos? Outro problema que o próprio texto “oficial” do Black Bloc afirma é que se as pessoas não querem o Black Bloc nas manifestações, não faz sentido eles estarem lá. Aqui se ressalta outro problema: Quem os escolheu como tropa de choque dos manifestantes? Em que espaço do movimento foi discutido isso?

O PSTU participa do Fórum de Lutas do RJ, pois entende que sem um espaço unitário para aglutinar os diversos ativistas que vão às ruas, perdemos força e capacidade de mobilização. O Fórum de lutas chegou a reunir duas mil pessoas em junho\julho, dentre elas rodoviários, bombeiros, petroleiros, estudantes e vários outros trabalhadores, e cumpriu um papel protagonista enquanto espaço de coordenação das lutas na cidade.

Entretanto, este espaço vem sofrendo um boicote consciente, com rupturas de setores que discordam das decisões tomadas democraticamente ou por preferirem construir seu próprio movimento. Se as lutas têm um dono, estes são os trabalhadores e o povo pobre. Os rumos da luta devem ser decididos democraticamente entre todas e todos que estão lutando, com a perspectiva que mais e mais setores da classe trabalhadora se sintam impulsionados a serem protagonistas de seu próprio destino e venham à luta. Sabemos que as diferenças existem. De nossa parte, reafirmamos nossa disposição para a unidade de todos os lutadores.

Como já afirmamos em outras publicações e que foram alvos de polêmicas: as ações isoladas para servir de exemplo aos trabalhadores, os enfrentamentos abertos e deliberados com a polícia, a depredação, tudo isso quanto uma estética de protesto afasta os trabalhadores das ruas, das lutas. Gera uma divisão no movimento, além de facilitar o trabalho do governo, da direita, da mídia e da polícia, pois estes setores reacionários usam estas ações como justificativa para utilizar a repressão, acabar com as manifestações e intimidar a todos para não irem mais as passeatas. Tais ações, por exemplo, estão sendo a justificativa para a contratação de segurança privada, milícias, na região de Laranjeiras.

Hoje, excetuando os atos da greve dos profissionais de educação, todas as outras mobilizações, na cidade do Rio de Janeiro, diminuíram consideravelmente de tamanho. Para isso, contribuiu a repressão policial desenfreada, que utiliza os métodos do Black Bloc como justificativa dos tiros, das pancadarias e das bombas. A culpa da repressão é do Sérgio Cabral. Há repressão nas passeatas, pois este é o Estado dos ricos e poderosos no qual os governos, sejam eles quais forem, servem aos interesses dos capitalistas brasileiros e estrangeiros. Entretanto, a principal consequência das ações isoladas, vanguardistas, das ações exemplares, é o fato destas servirem como munição política para o governador e a mídia fazerem uma imensa campanha contra as manifestações, conseguindo, assim, ter respaldo político, em setores da população, para utilizar a repressão e tirar o povo da rua.

É possível que as águas tenham recuado para voltarem em ondas mais fortes. Mas, também é certo que contribuiu para esta diminuição a divisão feita, conscientemente, por setores que romperam com o Fórum de Luta.

Sem o povo na rua, sem a mobilização de milhões, as grandes transformações sociais dos trabalhadores nunca serão realizadas. A greve dos profissionais de educação é poderosa porque optou por este método: a luta de massas, de milhares. Os critérios das ações da greve eram se estas serviam ou não para fortalecer a luta, se cumpriam o papel de atrair mais trabalhadores para as ruas, organizar melhor a luta ou fazer com que a população em geral se colocasse ao lado dos lutadores e não do governo e etc. As passeatas, ocupações, piquetes e assembléias, são táticas para levar o movimento à vitória. Essas ações são deliberadas de acordo com a correlação de forças na sociedade, a necessidade dos trabalhadores e sua disposição de luta. Pensar ações para mudar o mundo, seja uma greve, uma simples panfletagem ou até mesmo uma insurreição revolucionária para tomar o poder, sem levar isso em conta é uma ingênua utopia.

 Propor ao movimento que simplesmente se radicalize independentemente da situação, exigir que os trabalhadores realizem ações que não estão convencidos ou não vêem necessidade, substituir os trabalhadores e o povo pobre realizando ações, isoladas e vanguardistas, em nome deles ou propor o embate aberto com os órgãos de repressão neste exato momento da luta de classes, como faz o Black Bloc, é romper com a condição da nossa vitória que é a necessidade de transformar nossa luta na luta de milhões.

A razão de hoje existir um questionamento maior ao Black Bloc se explica pelo fato da greve dos profissionais de educação estar provando, na prática, que os métodos da classe trabalhadora de encantar milhões a irem às ruas, tendo firmeza sobre o que defendem e sabendo quais ações tomar, é o correto. A classe trabalhadora luta contra o capitalismo há dois séculos. Seus métodos e suas organizações foram forjados a ferro e fogo, passando por provas incríveis através da historia. Respeitamos não as burocracias ou os oportunistas que tomam essa tradição em beneficio próprio, mas os milhões que fizeram desta luta a sua vida, e que provaram com a vida que estes métodos eram os mais corretos.