No último final de semana, o Rio de Janeiro viveu cenas de barbárie. Cerca de 10 jovens moradores de Copacabana atacaram os ocupantes do ônibus da linha 474 (Jacaré-Jardim de Alah), que voltava da praia. O crime aconteceu como uma “retaliação” aos arrastões em série que ocorreram no bairro nobre.
A ação dos “justiceiros” foi organizada pela Internet por meio de grupos onde existia o pedido de um policial civil para que os moradores não filmassem as cenas entre os justiceiros e os “bandidos”, porque assim a Polícia Militar não poderia utilizar as imagens como provas. Num dos eventos, os organizadores pedem que os participantes levem tacos de beisebol, soco inglês e spray de pimenta para “limpar a Zona Sul”.
A cena dos arrastões, prática que ocorre desde a década de 80, é utilizada como fato para difundir o medo do “caos” e assim, legitima-se a política de apartheid (regime de segregação racial) praticada tanto pela PM quanto por essas gangues da Zona Sul, ambos com método de agressão e extermínio físico.
Frente ao crime praticado pelos jovens brancos de classe média, a PM atuou com completa passividade, por outro lado age com brutalidade com os jovens pretos e pobres que cometem os arrastões, exterminando-os fisicamente nas favelas. Por que essa diferença de tratamento se todos são criminosos? A ação da polícia frente aos justiceiros expressa seu papel na dominação de classe e de raça.
Arrastão: Problema social ou de polícia?
O prefeito Eduardo Paes (PMDB) disse, em entrevista: “Não vamos tratar marginais e delinquentes como problema social. Precisamos de forças de segurança impondo a ordem”. A declaração do prefeito expressa um conteúdo que combina a política de exclusão de direitos com a criminalização da pobreza.
Os arrastões, tática de roubo coletivo, começaram na década de 1980 na praia de Copacabana, em tempos também de crise econômica como vivemos agora. Isso não é coincidência. Por que será que os grupos que promovem os arrastões são compostos por negros e pobres? Isso é consequência da exclusão social. São os que não possuem perspectiva de vida, são desempregados, sem acesso à educação e submetidos à violência policial, ou seja, vivem num estado de barbárie social.
Mas, porque para o prefeito o arrastão não é um problema social? Se o prefeito reconhecesse o problema social teria que dizer que é de sua responsabilidade a solução para os arrastões, ou seja, que deve aplicar uma política de inclusão social desses jovens a partir do investimento em educação, moradia, saúde, cultura e trabalho.
O governo municipal e estadual aplica uma política de exclusão
O secretário de segurança pública expôs a política de apartheid quando disso que não é possível um jovem ir à praia sem dinheiro para comer. O que Beltrame quis dizer é que liberdade de ir e vir é só pra quem pode pagar. O arrastão é apenas o pano de fundo para a legitimação de uma política excludente, onde qualquer jovem preto de periferia é suspeito.
Em tempos de crise econômica, os governos instituíram uma política de exclusão social e racial. Os jovens pobres e pretos não podem frequentar as praias da Zona Sul pois são todos suspeitos de praticar o “arrastão”. Para garantir essa exclusão, a polícia impediu que jovens da periferia fossem à praia, retirando-os do ônibus.
Pezão, Paes e Beltrame, além de defenderem abertamente a ação policial de impedir que pobres acessem a Zona Sul, a não ser que seja para trabalhar, querem aprofundar essa exclusão. É esse o motivo da extinção das linhas de ônibus que ligam a Zona Norte à Zona Sul.
Para resolver o problema de violência no Rio de janeiro precisamos, primeiro, combater a violência estatal que promove o extermínio da juventude negra. Por isso defendemos o fim da UPP e a desmilitarização da PM. Além disso, é preciso legalizar as drogas para combater o tráfico. Tudo isso combinado com investimento massivo em educação, saúde e trabalho para que os nossos jovens tenham perspectiva de vida.
O governo de Pezão, Paes e Dilma implementam uma política de retirar direitos sociais, promovem a precarização da vida da população negra e trabalhadora com o argumento de ser uma necessidade imposta pela crise econômica. É esse o motivo do caos social. Somente com uma luta contra essa política e contra esses governos poderemos superar a barbárie a que está submetida a população negra e pobre.