Na contramão do sentimento de boa parte de sua própria base, a direção nacional do PSOL aprovou, em reunião realizada dia 12 de novembro, uma comissão para discutir com o PV aliança em torno da candidatura de Marina Silva para 2010.

Mesmo reconhecendo que a candidatura Marina não representa nem de longe uma alternativa de esquerda, a maioria da direção do PSOL aposta numa coligação com o PV para, segundo suas próprias palavras, “não cair no isolamento”.

Apesar do discurso ambientalista, na prática o PV funciona tão somente como um partido de aluguel, tendo como um de seus principais quadros Zequinha Sarney, filho do presidente do Senado. Em inúmeras cidades ou estados, o partido integra a base aliada de governos de direita, como na capital paulista, em que o PV sustenta o governo Kassab (DEM).

Já contra Marina Silva, pesa sua desastrosa gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente. Foi durante os anos em que lá esteve que o governo Lula liberou os transgênicos, aprovou projeto que aluga florestas públicas na Amazônia, começou as obras de transposição do Rio São Francisco, entre outras medidas.

O PSOL argumenta que a ruptura de Marina com o PT é progressista e que sua candidatura supera a polarização entre Dilma Roussef e José Serra. No entanto, a própria Marina já afirmou que não atacará Dilma durante a campanha e que apóia a política econômica do governo Lula.

Se a candidatura Marina não representa uma diferença significativa, nem do ponto de vista ambiental, tampouco político, qual o interesse do PSOL? A própria deputada federal Luciana Genro ajuda a elucidar essa questão. Em artigo seu, afirma que Marina, “pode nos render bons frutos políticos, turbinar nossas candidaturas a governador (e é fundamental que tenhamos bons candidatos do PSOL no maior número possível de Estados) e até ajudar-nos a eleger parlamentares”.

Para disfarçar um claro interesse eleitoral, a direção do PSOL é obrigada a empreender um verdadeiro malabarismo teórico, criando categorias e caracterizações para Marina como “candidatura marginal da burguesia” ou “ruptura progressista” do PT. Tudo para não dizer o óbvio: Marina e PV não se diferenciam do PSDB ou do PT.
O que está por trás, porém, é a prioridade em eleger parlamentares, mesmo que para isso seja preciso passar por cima de qualquer princípio. Um caminho pelo qual o PT se enveredou ao longo de suas duas décadas e meia, mas que o PSOL se afunda em poucos anos.

Candidatura Plínio
Diante desse quadro, o lançamento da pré-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio merece respeito, como expressão de setores da esquerda do PSOL. Essa pré-candidatura está reunindo uma parte dos que, no PSOL se chocam com a candidatura Marina. Mas, mesmo no caso de Plínio ser indicado na conferência de março, existe a grande possibilidade de que o partido não se unifique ao seu redor, e que Heloísa Helena siga fazendo campanha – como faz hoje – por Marina Silva.