É com perplexidade e indignação que o funcionalismo público das três esferas (federal, estadual e municipal) está assistindo o governo Lula trazer de volta, a toque de caixa, uma proposta de reforma da Previdência idêntica a de FHC. Mais precisamente, uma proposta que visa concluir a reforma que FHC não conseguiu levar até o seu final, devido às lutas dos trabalhadores e ao rechaço ao seu governo.

A maioria dos trabalhadores do setor privado, por sua vez, está confusa quanto ao conteúdo da reforma. Muitos se deixam levar pela campanha mentirosa que a mídia vem fazendo, com apoio do governo, de que a Previdência tem um déficit monstruoso, está à beira da falência e de que os supostos “privilégios” do funcionalismo são responsáveis por esta iminente falência.

Ao mesmo tempo, os trabalhadores do setor privado pensam que Lula combaterá os “privilégios” do serviço público para beneficiá-los e trazer de volta os direitos que FHC tirou na reforma anterior. Há a expectativas de que haverá a volta da aposentadoria especial, o fim do fator previdenciário e do tempo de contribuição como condição para ter acesso à aposentadoria. Ledo engano.

Nas páginas deste suplemento, vamos demonstrar que a reforma que o governo Lula está defendendo atacará duramente o conjunto dos trabalhadores e beneficiará os banqueiros. Os argumentos do governo, bem como a campanha da mídia, são mentirosos.
A reforma que poderia beneficiar os trabalhadores é outra e jamais terá o apoio dos banqueiros, do empresariado e da maioria dos picaretas do Congresso. Ela exige a ruptura com o FMI, ou seja, MUDANÇA de fato! Para conquistá-la seria necessário que Lula rompesse também com a Alca e com os acordos com a burguesia e governasse para os trabalhadores, contra o grande capital.

A reforma de Lula deve ser derrotada. É preciso ir à luta

Enganam-se e a si próprios e ao conjunto dos trabalhadores aqueles que difundem a ilusão de que é possível com negociação convencer o governo a fazer uma reforma que beneficie os trabalhadores e não os banqueiros e o FMI.

Aqui não há meio termo, ou as entidades dos trabalhadores se colocam globalmente contra esta Reforma e a favor da mobilização ou estarão do lado da reforma do FMI, que o governo está defendendo.

As declarações da direção majoritária da CUT , nesse sentido, se prestam a confundir e desmobilizar os trabalhadores, quando dão a entender que ainda “não há uma proposta de Reforma”, que ela “está em construção”, que “há pontos positivos e negativos”.

Aliás, o governo do PT, que tanto fala em “ética” e “transparência”, busca confundir de propósito os trabalhadores, seja quando se utiliza de dados manipulados – como fazia FHC – para defender a reforma, ou quando não assume que tal reforma é a mesma do governo anterior.

Mas, façamos justiça ao senador Aloísio Mercadante, que no último dia 12 de março, assumiu da tribuna do Senado que o governo defende a continuidade da política de FHC. Mercadante fez autocrítica pelo PT não ter apoiado as reformas de FHC. Disse: “A oposição (na época de FHC) não ajudou a aprovar as reformas – e errou” e foi além “o governo anterior deu uma grande contribuição à agenda do país” (FSP – 12/03/2003).

Os trabalhadores e o povo não elegeram Lula para que este desse continuidade ao projeto de FHC e concluísse suas reformas. Seguramente, se o PT tivesse dito que acabaria com a aposentadoria integral do funcionalismo e privatizaria a previdência pública, Lula não teria o apoio massivo que teve dos setores mais organizados da classe, como o dos próprios servidores

Post author Mariúcha Fontana,
da redação
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