Depois de 23 anos a frente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil,
Raimundo Pereira de Castro, mais conhecido como “Raimundão”, está se aposentando. Com sua grande trajetória de luta em defesa dos trabalhadores, Raimundão é sem dúvida uma das maiores lideranças operárias do Ceará. O sindicato que ele ajudou a tomar das mãos dos pelegos nos anos 80 realizou uma grande homenagem na festa da categoria. O Opinião Socialista conversou com Raimundão sobre o sindicato, sua vida política e seu rompimento com o PSTU.

Como você entrou na categoria?
Raimundão – Após trabalhar em outras cidades e estados vim para Fortaleza e fui trabalhar na construção civil, nos anos 70. Naquela época faltava tudo para o trabalhador na obra. Nós trabalhávamos basicamente por produção e, lógico, era do jeito dos patrões.

Como você conheceu o movimento sindical?
Raimundão – O sindicato na época não ia às obras. Nós víamos outros sindicatos já naquela época se movimentando. Nós conhecemos alguns companheiros ligados às pastorais sociais da igreja que organizavam um grupo de oposição, entre eles Jânio, “Seu” Manoel e Eluizito.

Como eu era muito questionador, o sindicato me chamou para uma conversa, para me colocar na chapa. Na sala do presidente, o Mariano, tinha uma cadeira maior que era onde ele sentava, e tinha um armário onde ele guardava os paletós.
No final de semana seguinte, Eluizito e Zé Ferreira, que eram da oposição, foram na minha casa e me convenci que deveria estar na oposição.

Como foi a campanha contra a pelegada?
Raimundão – Nesse momento, a CUT estava se organizando e seus sindicatos, como no setor têxtil, ajudavam. Eu e Seu Manoel Farias andávamos nas obras à noite, para conversar com os trabalhadores. Nós dizíamos que o pelego Mariano e os patrões eram iguais aos ratos e gatos nas obras, andavam e comiam juntos.

Demos uma verdadeira “lavada” na eleição. Mais de 6.000 votos para nossa chapa e eles apenas 666, me lembro até hoje, uma trinca de seis! Depois foi uma briga para assumir.

Você teve anos de militância sindical, mas também se organizou politicamente. Fale sobre essa trajetória.
Raimundão – Primeiro me organizei no Coletivo Gregório Bezerra (CGB) e, depois, fomos para o partido da Libertação Proletária. Em 1992, nos aproximamos da Convergência Socialista (CS) e, com expulsão da CS do PT formamos a Frente Revolucionária. Em 1994, essa Frente deu origem ao PSTU. No PSTU tinha um diferencial, tinha formação política.

Antigamente, nós não tínhamos condições de estudar. Só fiz até o 3° ano primário. Tínhamos que trabalhar. Tudo que aprendi foi com essa história de luta e com meus companheiros do PSTU.

É verdade que eu tinha facilidade para aprender. Apesar da pouca leitura, puxei a memória da minha mãe. Ela lia um romance ou um cordel e depois se lembrava de tudo. Comigo foi assim também.

Você acabou saindo do nosso partido e indo para o PSB. Passado esse tempo de afastamento, qual balanço faz sobre isso?
Raimundão – Na verdade, eu me senti esquecido pelo PSTU num momento. Eu considero que foi um afastamento por impulso. O meu filho dizia que com eles (do PSB) nós teríamos ajuda para resolver alguma necessidade, hoje ele também se decepcionou. Eu posso dizer que minha ligação com o PSTU é muito forte. Eu não consigo participar de um fórum de outro partido. Nas eleições, foi muito difícil pedir voto para outro partido. Hoje, eu faço uma autocrítica em relação a minha ida para o PSB. O meu pai me dizia: “os erros são parte dos acertos da vida”. Hoje estou convencido, sem nenhum rancor, que poderemos nos encontrar mais uma vez.

O sindicato está preparando uma festa para comemorar a vitória na campanha salarial e vai homenagear a sua trajetória de luta. Qual é o significado dessa homenagem?
Raimundão – Eu nunca tinha sido reconhecido, o meu trabalho. Quem sempre me valorizou foi o PSTU. Essa homenagem é um marco na minha vida. Hoje, eu quero cuidar da saúde de minha companheira. Nos casamos em Altamira, na construção da Transamazônica. Nós éramos tão humildes que no dia do casamento almoçamos caldo de feijão com arroz. Nesse tempo tivemos três filhos. Minha saída do sindicato vai servir para eu cuidar mais dela, mas sempre que precisar estarei a disposição da luta dos trabalhadores. Não estou me aposentando da luta.

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