Juventude não vai pagar a conta da crise econômica

No primeiro semestre, diante dos cortes impostos aos orçamentos da educação pelos governos federal, estaduais e municipais, houve uma onda de greves que varreu o país. Primeiro, na educação básica, em dez estados e vários municípios. Depois, nas universidades e institutos federais.
 
O prato principal ficou para o segundo semestre. Diante do anúncio do governo de São Paulo do fechamento de mais de 90 escolas e quase três mil salas de aula, além da transferência compulsória de milhares de estudantes para outros estabelecimentos de ensino, a juventude se rebelou.
 
Os estudantes enfrentaram a polícia e o autoritarismo do governo tucano de Geraldo Alckmin, forçando-o a recuar do projeto que chamou de reorganização. Os jovens protagonizaram uma autêntica rebelião contra o governo de São Paulo que fecha escolas e abre presídios, enfrentaram a repressão da PM estadual e venceram.
 
A crise e a juventude
Esta e outras revoltas periódicas dos jovens pelo mundo são explicadas pelo fato de a juventude estar condenada a sofrer os males do capital. Os índices de desemprego e de violência são maiores entre os jovens do que entre o restante da população. No Brasil, segundo o IBGE,  o desemprego na juventude chegou a 18% enquanto, no restante da população, é de 6,7%.
 
Os mapas da violência apontam a juventude negra e das periferias dos centros urbanos como as vítimas privilegiadas da violência policial. Falta segurança, serviços públicos, lazer e cultura nas periferias, e sobra violência de todas as formas. Em muitos bairros, as escolas são a única fonte de lazer. O capitalismo é o coveiro dos sonhos e do futuro da juventude, especialmente dos jovens negros e pobres das periferias.
 
São necessários meios públicos de cultura e lazer nas periferias sob controle dos trabalhadores e dos jovens, a dissolução da Polícia Militar e a criação de escolas de período integral com um currículo que alie formação e cultura gerais e profissionalização, garantindo aos estudantes políticas de permanência na escola, como bolsa-auxílio.
 
 
Revolucionar a Educação
O que a escola deveria ser
As escolas devem ser locais de socialização do conhecimento, de formação profissional, de lazer e de cultura geral. Por isso, sua arquitetura e funcionamento precisam ser revolucionados.
 
Hoje, a maioria das escolas públicas tem estrutura e funcionamento semelhantes a presídios. São cárceres para os jovens e para os profissionais do ensino, tendo os diretores como chefes. Imperam a ignorância e o autoritarismo.
 
É preciso implantar uma democracia radical nas escolas. Elas têm de ser abertas às comunidades, inclusive nos finais de semana, com programas de formação e cultura. Sua administração, até dos recursos financeiros, deverá ser feita por um conselho paritário formado por pais, alunos e profissionais do ensino, com a mais ampla liberdade de organização e de expressão, com grêmios livres e autônomos em relação aos governos e às direções escolares. As direções devem ser eleitas por voto direto da comunidade escolar, com mandatos periódicos e revogáveis. Também é preciso garantir a mais ampla liberdade de organização sindical e política para os movimentos sociais e partidos.
 
Ao Estado, cabe financiar a educação, mas não administrar de forma autoritária as escolas. Deve garantir um currículo comum a todos os alunos e permitir que as escolas, através de seus conselhos paritários, definam a melhor política de formação específica para sua comunidade.
 
Dignidade aos profissionais da educação
Essa revolução nas escolas será possível se os profissionais do ensino tiverem condições de trabalho e dignidade profissional, como redução da jornada de trabalho com 50% de hora-atividade ou tempo pedagógico, piso salarial equivalente ao do Dieese, fim dos contratos precários e estabilidade no emprego, diminuição do número de alunos por turma ou classe e todos os equipamentos necessários para o ensino de suas disciplinas.
 
A defesa dessa escola pública de qualidade para os jovens trabalhadores se dará com uma luta contra os grupos capitalistas e os governos que privatizam a educação. É necessário derrotar o Plano Nacional de Educação (PNE) do governo Dilma, estatizar sem indenização as escolas privadas e destinar as verbas públicas somente às escolas públicas, com um investimento mínimo de 10% do PIB. Isso exige, em primeiro lugar, que não seja paga a dívida pública aos banqueiros.
 
Só a unidade entre trabalhadores, juventude e profissionais do ensino pode combater a mercantilização da educação e do conhecimento.
 
                            Estudantes dão a letra em São Paulo