Enquanto Copenhague vem dando claras demonstrações de fracasso, manifestantes foram às ruas da capital da Dinamarca para exigir um acordo que efetivamente detenha a catástrofe ambiental que ameaça o planeta. Houve confronto com a polícia e 600 pessoas foram detidas.

A manifestação, apoiada por mais de 500 organizações de 67 países, saiu da praça do Parlamento em direção ao centro de convenções, onde acontece a conferência promovida pela ONU, que termina no próximo dia 18. Os manifestantes percorreram cerca de 6 km e muitos empunhavam faixas e cartazes dizendo: “não temos um planeta B”.

Os próximos dias serão decisivos. Representantes de governos de todo o mundo estão chegando à capital dinamarquesa para fazer belos discursos e nada pela humanidade. Mais uma vez o grande obstáculo a qualquer acordo é os Estados Unidos, o maior poluidor do mundo. Até agora, os negociadores de Obama falam em reduzir apenas 4% das suas emissões de gases estufa. O que totalmente ridículo quando comparado aos 70% recomendados pelos cientistas. Como se não bastasse, os EUA querem também eliminar qualquer exigência legal que obrigue os países imperialistas a diminuir o lançamento de poluentes na atmosfera. Os dirigentes da cúpula apresentaram o esboço de um acordo preliminar que dança no mesmo compasso sinistro ditado pelo imperialismo. O documento diz apenas que todos os países juntos devem reduzir as emissões entre 50% e 95% até 2050, e que países ricos devem diminuir as emissões entre 25% e 40% até 2020, tomando como base, em ambos os casos, os níveis de 1990. Mas são apenas belas palavras. O rascunho deixa em aberto a forma de acordo, que dificilmente terá a forma de um documento legal.

Enquanto isso, países africanos (continente que enfrentará perda de terras agricultáveis devido ao aquecimento global), além de governos de ilhas do Pacífico (que poderão deixar de existir devido à elevação dos oceanos), tentam desesperadamente pressionar por um acordo ambicioso com validade legal. Nesta segunda-feira, eles se retiraram das negociações como uma forma de pressionar os países imperialistas.

A política do imperialismo apresentada em Copenhague é um retrocesso. Significa, entre outras coisas, o fim do tímido Protocolo de Kyoto, acordo que fracassou porque o governo norte-americano se recusou a assiná-lo. Se a crise econômica de 2008 mostrou que o capitalismo condena a humanidade à catástrofe, Copenhague escancara a impossibilidade deste sistema evitar o colapso ambiental. O máximo que a conferência poderá produzir é um acordo de intenções e algumas grandes oportunidades de negócios através da criação de um novo derivativo, baseado na compra e venda do direito de poluir. Os chamados créditos de carbono movimentam hoje 120 bilhões de dólares e estão se tornando numa oportunidade para especuladores ganharem muito dinheiro enquanto o planeta agoniza. Copenhague fracassará, porque é da natureza do capital priorizar lucro e não a humanidade.

Brasil pra inglês ver
A ministra Dilma Dilma Rousseff (Casa Civil) já está na cúpula do clima para chefiar a delegação brasileira. Dilma defendeu uma meta global de corte de 50% nas emissões de gases do efeito estufa até 2050, em relação aos números de 1990. Disse ainda que os países ricos devem ter metas obrigatórias de diminuição das emissões de gases estufa.

Mais uma vez, o governo apresenta um Brasil para inglês ver. Enquanto tenta ser uma suposta “vanguarda” do combate à mudança climática, aqui faz a festa dos inimigos do meio ambiente e devastadores da Amazônia.

Na semana passada, por exemplo, o governo Lula prorrogou a entrada em vigor do decreto 6514, que regulamentava, após 44 anos, as punições previstas para crimes ambientais pelo Código Florestal Brasileiro. Como se não bastasse o adiamento, o presidente ainda concedeu uma anistia para todos os fazendeiros que desmataram ilegalmente até hoje. Para ser anistiado, basta o fazendeiro dizer onde deveria estar sua reserva legal, reconhecer que desmatou além da conta e prometer que vai recuperá-la num prazo de 30 anos. Assim, desaparecem as multas relacionadas a crimes ambientais. Calcula-se que a anistia significará a renuncia de R$ 10 bilhões que deixarão de ir para os cofres públicos. “Quem desmatou leva o perdão à vista, enquanto pode pagar o que deve ao país a prazo”, afirma um comunicado do Greenpeace sobre a medida.

Como se não bastasse, nessa semana o deputado Marcos Montes (DEM-MG), membro da bancada da motosserra na Câmara, tentará colocar em votação na Comissão de Meio Ambiente o projeto de lei 6424, chamado de Floresta Zero. O projeto, que conta com o apoio nada velado do Ministério da Agricultura, flexibiliza o código florestal e contribui para aumentar o desmatamento no país.