1º de maio em São Bernardo do Campo: operários enfrentam a ditadura
Jesus Carlos/ImagenLatina

Entre os presos estavam o presidente Lula e Zé Maria, pré-candidato do PSTUNesse dia 20 de maio de 2010 fazem exatos 30 anos do dia em que foram soltos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) os dirigentes sindicais do ABC que dirigiram a histórica greve de 41 dias. Greve essa que mudou profundamente o movimento sindical do país e abalou os alicerces da ditadura militar.

A greve, que começou no dia 1 de abril de 1980, foi decretada por mais de 60 mil metalúrgicos em assembléia no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.

A pauta de reivindicações era: aumento real de 15%, reajuste trimestral, semana de 40 horas, direito ao representante sindical de poder entrar nas fábricas e a garantia de estabilidade no emprego por 12 meses, para evitar a alta rotatividade.
Embora a greve tivesse como mote a campanha salarial, a luta por salário, seu pano de fundo era a luta contra a ditadura militar.

A greve se espalha para outras cidades
A greve começou muito forte, com mais de 200 mil metalúrgicos cruzando os braços na região do ABCD paulista. Logo esse movimento ganhou a simpatia da população e a sua força ultrapassou as fronteiras da região, se estendendo para outras cidades do estado e se transformando na referência de luta em todo país, desafiando o regime militar que proibia greves e manifestações.

Como resposta ao movimento, os militares ocuparam com a polícia a região e proibiram reunião, assembléias ou qualquer tipo de manifestação pública.

Militares respondem ao movimento
Nos primeiros 17 dias de greve não houve nenhuma negociação, mas o movimento se manteve firme e forte. Os militares perceberam que a situação estava saindo do controle e partiram para a intimidação. Prenderam 14 diretores do sindicato e um ativista de Santo André. Entre os dirigentes sindicais estava o então presidente do sindicato, Lula, Djalma Bom, Devanir Ribeiro e o ativista de Santo de André, José Maria de Almeida, entre outros.

Mesmo com os diretores do sindicato presos, a diretoria cassada, o sindicato sob intervenção e a proibição de fazer reunião, houve manifestação no dia 1º de maio. Após a missa, os trabalhadores em assembléia na praça da igreja matriz de São Bernardo do Campo (local onde se faziam as assembléias) decidiram enfrentar os militares e o governo de Paulo Salim Maluf e saíram em passeata até o estádio da Vila Euclides.

1° de maio mais de 100 mil desafiam os militares
Na manifestação, mais de 100 mil trabalhadores se somavam à população. No palco, vários artistas, intelectuais, músicos, compositores e cantores da MPB realizaram um show para arrecadar donativos para o fundo de greve. Diante desta magnífica manifestação, o Exército e a polícia tiveram que recuar e saíram de São Bernardo do Campo.

A resistência dos metalúrgicos sustentou-se na mobilização direta dos trabalhadores nas fábricas e entres os moradores dos bairros operário do ABCD. Os trabalhadores se reuniam nas associações de bairro, nas casas dos metalúrgicos, clandestinamente, e nas igrejas para discutir os encaminhamentos da greve. Essas reuniões posteriormente deram início à organização nos bairro, que constituíram a base para o surgimento do PT.

Trabalhador ganha consciência de classe
Após a manifestação do dia 1º de maio e com o recuo do Exército, mudou-se a história do país. Provou-se que era possível enfrentar e vencer a polícia e o Exército. Essa manifestação abriu as portas para que, em 1984, ocorressem as grandes manifestações que colocaram abaixo o regime da ditadura militar.

Para Zé Maria: “os metalúrgicos podem não ter conquistado todas as reivindicações da campana salarial, mas ajudaram a derrotar o governo militar e conquistaram a consciência política que deu origem a CUT e ao PT”.

Após o 1° de maio a greve durou mais 11 dias, totalizando 41 dias, sendo a mais longa dos últimos 50 anos. Embora não tenha obtido a totalidade das suas reivindicações o movimento saiu vitorioso porque desafiou os militares e venceu as suas proibições de não fazer manifestações.

Mesmo com o fim da greve, os diretores continuaram presos e só foram soltos no dia 20 de maio, sendo enquadrados na Lei de Segurança Nacional.

A mesma luta daquela época continua
Passados 30 anos, os trabalhadores ainda lutam pelas mesmas reivindicações. O curioso é que o presidente do sindicato na época hoje é o presidente da República. Já os diretores do sindicato presos viraram deputados federais. Mas o ativista Zé Maria mantém- se na luta pelo socialismo, da mesma forma que há 30 anos quando foi preso.