No feriado do dia 12 de outubro, estudantes universitários e secundaristas de vários estados do país se reuniram em Niterói (RJ) para debater e fortalecer a greve da educação federal. Estiveram presentes representantes dos comandos locais de greve das instituições federais de Santa Catarina (UFSC), Brasília (UnB), Niterói (UFF), Juiz de Fora (UFJF) e São Paulo (Cefet); os Diretórios Centrais dos Estudantes da UFRJ, UFMG, UFRRJ, UFPI e UERJ; e a Executiva de Letras (ExNEL). Estudantes do Colégio Pedro II também participaram da plenária.

O clima que tomou conta do evento era de nacionalizar a greve estudantil já deflagrada em cinco universidades. A solidariedade dos estudantes aos docentes e servidores técnicos-administrativos ficou expressa em muitas intervenções. “Somente através da união dos estudantes e trabalhadores essa greve poderá ser vitoriosa”, afirma Luiz Fernando Cassanho, estudante da Cefet-SP.

A plenária construiu uma pauta de reivindicações, na qual se destaca o aumento das verbas destinadas à assistência estudantil, concurso público pelo Regime Jurídico Único (RJU), o adiamento do vestibular, o fim do ensino à distância, 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e passe-livre para todos os estudantes e desempregados. A revogação do ProUni e da Lei de Inovação Tecnológica também foi reivindicada pelos presentes.

Foi aprovada por aclamação a “Carta de Niterói”, que denuncia os sucessivos cortes de verba da educação e o caráter privatizante da reforma Universitária de Lula/FMI. A carta não poupa os escândalos de corrupção do governo do mensalão e o “caixa 2” do PT e alerta para o acordão que está sendo tramado nos bastidores do Congresso Nacional para tudo terminar em pizza. O evento deliberou ainda um calendário de luta que inclui o 26 de outubro como dia nacional de mobilização e o boicote ao Exame Nacional de Desempenho do Estudante (ENADE), marcado para 6 de novembro.

O ponto alto da plenária foi o encaminhamento para constituição do Comando Nacional de Greve e Mobilização (CNGM), a ser instalado em Brasília, no dia 19 de outubro. Mais de 180 estudantes cantavam entusiasticamente: “Para o governo, ser derrotado, Comando Nacional Unificado!”.

O CNGM corresponde a uma necessidade real do movimento estudantil combativo, tendo em vista o boicote sistemático da União Nacional dos Estudantes (UNE) à greve da educação federal. A ausência completa dessa entidade nas lutas das universidades federais é rapidamente substituída por uma militância governista empenhada em desmontar a mobilização estudantil. Na UFF, por exemplo, setores ligados à UNE fundaram o movimento NO GREVE e declararam guerra aos professores e funcionários.

Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o DCE, que nada mais é do que um apêndice da UNE, promoveu a invasão da assembléia dos docentes para impedir a deflagração da greve. Como se não bastasse, na UFRRJ, a corrente Articulação de Esquerda (AE), fervorosa defensora da UNE, propôs que os estudantes ocupassem o sindicato dos técnicos-administrativos, mas foi fragorosamente derrotada.

Se a UNE e seus aliados pensam que vão conseguir acabar com essa greve, estão muito enganados. Os estudantes em luta vão acabar com a UNE primeiro. O CNGM que será constituído em Brasília, apoiado por DCEs, entre os quais muitos são filiados à Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes (Conlute), tocará firmemente essa greve até a vitória do movimento e a derrota do governo corrupto de Lula e do PT.

P-SOL mais uma vez na contra-mão
O P-SOL, apesar de não ter convocado nenhum estudante para a plenária do dia 12, esteve presente na atividade com alguns militantes da “UNE Vermelha”. Os companheiros inclusive ficaram na mesa coordenadora do evento, demonstrando que aquele espaço foi permeado pela mais ampla democracia.

Foi uma grande oportunidade para unificar pela base os lutadores e impulsionar a nossa greve. Estavam presentes ali a maioria dos comandos locais e DCEs de luta. No entanto, os companheiros se colocaram frontalmente contra a formação do CNGM e preferiram chamar uma outra plenária para o dia 15 de outubro. Essa iniciativa, ao invés de fortalecer o movimento, o enfraquece. O governo com certeza aplaudiu a política divisionista dos companheiros. O resultado foi que a plenária do dia 15 convocada pelo P-SOL foi um verdadeiro fiasco e, ao invés de ajudar, atrapalhou e confundiu.

Não são nenhuma novidade as diferenças que o PSTU tem com o P-SOL. É um erro colossal permanecer nos marcos da UNE e sustentar essa entidade falida nas universidades federais, principalmente agora no momento da greve. Apesar disso, acreditamos que ainda é possível fazer ações em conjunto com os companheiros. Vocês têm mais uma oportunidade de se redimir pelo grave erro cometido se integrando ao CNGM. Esperamos, sinceramente, encontrar com os companheiros em Brasília.

Conlute se fortalece a cada dia
Desde maio de 2004, quando foi fundada a Conlute no Encontro Nacional Contra a Reforma Universitária, no Rio de Janeiro, o movimento estudantil brasileiro vem se polarizando em torno da discussão da construção de uma alternativa de luta.
De lá para cá, a Conlute desencadeou importantes mobilizações ao lado dos trabalhadores. Destaca-se a marcha a Brasília no dia 17 de agosto, onde denunciamos o esquema de corrupção do governo Lula. Em seguida, vieram os atos estaduais, onde os estudantes gritaram em alto e bom som o “Fora Todos!”, impactando as principais capitais do país. Agora, mais uma vez a Conlute se lança no cenário nacional impulsionando a greve da educação federal.

O sucesso da plenária do dia 12 e a formação do CNGM se devem em grande parte às entidades que estão construindo a Conlute, que está sendo capaz de aglutinar amplos setores que estão lutando nas escolas e universidades federais.
Os estudantes não mais acreditam que é possível ressuscitar o cadáver da UNE. Prova disso é o fenômeno de ruptura que vem acontecendo com as executivas de curso, a exemplo das de Comunicação Social, Letras e Pedagogia.

Não podemos ficar reféns de um passado distante. A Conlute expressa a construção do novo, expressa um convite à ousadia. É uma coordenação nascida da luta e para a luta.

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