Foto: Reprodução vídeo do YouTube / Canal “SBT News”
Alexa Figueiredo Ide, moradora de Friburgo, Região Serrana

O número de mortos já supera o das chuvas de 2011. Quando fechamos este artigo, já havia 117 mortos. Só na Rua do Imperador, avenida principal da cidade, doze corpos foram encontrados. Além disso, há 140 desaparecidos, sobretudo por conta dos deslizamentos de terra. Os desabamentos de encostas ocorreram em 171 pontos, dentre eles, o mais divulgado é o do Morro da Oficina, no Alto da Serra.

A chuva ocorreu durante a tarde, quando escolas, comércios e fábricas estavam em funcionamento. A lama invadiu uma escola e soterrou crianças e adolescentes, que já foram resgatados. O cenário nas ruas também é de destruição e caos: muitos galhos, lama, lixo, carros arrastados, lojas alagadas.

Em alguns pontos, a água chegou a 1,80m de altura. Muitos tiveram que fazer uma corrente humana, com as mãos dadas para enfrentar a correnteza e se salvar, entre eles uma mulher com um filho no colo. Muita gente perdeu todos os pertences. Além da perda material, o que não é um detalhe para a classe trabalhadora e explorada, há as vidas perdidas, que são irrecuperáveis.

Há famílias inteiras soterradas e as pessoas ainda estão à procura de seus familiares em meio à lama, numa saga de sofrimento e dor. Tais ocorrências se somam às mazelas permanentes dos trabalhadores de Petrópolis, como o desemprego, a pobreza e a pandemia.

Diante de todo esse estrago causado à população, sobretudo a mais pobre, é preciso que movimentos sociais, coletivos, sindicatos, centrais sindicais e demais organizações cubram de solidariedade as vítimas de deslizamentos e alagamentos em Petrópolis. Construam campanhas imediatas de doação de alimentos, material de limpeza e higiene, roupas e remédios. Fortaleçam a solidariedade de classe e exijam medidas imediatas dos governos.

Toda essa tragédia, acompanhada de pânico e vidas ceifadas, escancara o que a população periférica, negra, mulher e LGBTI vive diante dos interesses dos governos burgueses. Mesmo com o histórico de ocorrências do tipo, como as tragédias de 1989 e 2011, pouca ou quase nenhuma condição de moradia e saneamento é oferecida nas regiões onde a parcela mais pobre e explorada da população petropolitana mora.

Novos governos, velhos interesses capitalistas

O socorro e a prevenção a alagamentos e deslizamentos é responsabilidade dos governos estadual (Cláudio Castro, do PL) e municipal (Rubens Bomtempo, do PSB) por meio da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros. Sabemos também que o Plano de Recuperação Fiscal e a Lei de Responsabilidade Fiscal levam quase todo o bolo orçamentário do estado do Rio de Janeiro e dos municípios e deixam apenas uma pequena fatia para o investimento em resgate, helicópteros, sirenes, combate a enchentes, saneamento básico, moradia digna e obras de infraestrutura, sobretudo nas encostas, morros e servidões.

Essas são justamente as regiões em que a população mais pobre e explorada vive, porque não tem condições financeiras de morar em bairros mais seguros, onde o IPTU, os aluguéis e os preços dos terrenos são altíssimos.

Dentre as verbas de 2,27 bilhões destinadas à Região Serrana após a tragédia de 2011, apenas metade foi utilizada para a prevenção a desastres ambientais. Há famílias, tanto de Petrópolis quanto de Teresópolis e Nova Friburgo, que até hoje não conseguiram aluguel social e moradia digna em local seguro. Além disso, o governo estadual, no ano passado, gastou 7,6 milhões na recuperação da Região Serrana, o que representa apenas 24% da dotação inicial.

É importante destacar que essa destruição não é responsabilidade da natureza nem do acaso. O desequilíbrio ambiental e os desmatamentos causados em todo o país são fruto da ganância dos ricos e poderosos e governos na ocupação dos territórios e no crescimento desordenado das cidades. No capitalismo, os lucros se sobrepõem à vida.

Jair Bolsonaro (PL) nada sinalizou em relação ao combate das causas de deslizamentos e alagamentos presentes em vários estados do país. O desequilíbrio que acompanhamos é consequência de muitas medidas aprovadas por ele, que favorecem a destruição, o desmatamento, as queimadas e a mineração em áreas de proteção ambiental. Ações que geram ainda mais alterações climáticas.

Cláudio Castro visitou Petrópolis e, embora tenha dado entrevista à imprensa com vestes da Defesa Civil, nada investiu na prevenção e no combate a deslizamentos e enchentes. Pelo contrário, foi fiel ao Plano de Recuperação Fiscal e garantiu a privatização da CEDAE. Rubens Bomtempo (PSB) fora interpelado por jornalistas ao assumir a prefeitura acerca desse problema histórico e também não apontou nenhuma medida concreta.

Laudêmio: herança absurda dos tempos imperiais

No dia 16, o chamado “príncipe imperial” fez uma comunicação pública da “família imperial”. Comunicou a “profunda consternação com os terríveis danos causados pelas fortes chuvas em Petrópolis” e ofereceu “orações e solidariedade a todos que vêm sofrendo”. É bem ilustrativo que tantas famílias em dificuldade econômica tenham feito doações para os atingidos de Petrópolis enquanto os membros de uma família supostamente “real” se limitaram a oferecer “solidariedade e orações”.

Não nos vamos alongar aqui sobre o absurdo que é, em pleno século XXI, mais de 130 anos depois da Proclamação da República, ainda haver uma família com títulos de nobreza. Pior: não têm apenas títulos, mas também privilégios. Um dos privilegiados, o Laudêmio, tem direito a uma taxa imobiliária criada na época colonial que estabelecia um imposto anual para quem se estabelecesse nas terras da família imperial. Atualmente, imóveis vendidos nesse terreno pagam uma sobretaxa de 2,5% sobre o valor da venda, que vai diretamente para os cofres da família.

Esse é um típico imposto feudal, absolutamente sem sentido, que só existe ainda em virtude de acordos espúrios da burguesia brasileira com a família imperial à época da implantação da República. Esse imposto deve acabar imediatamente, mas não podemos ficar por aí, pois apenas isso não garantiria fundos necessários para resolver os problemas de habitação da classe trabalhadora de Petrópolis.

É urgente a expropriação de todos os terrenos dessa família, sem indenizações. Para além disso, há que implementar uma taxação especial de 40% sobre as grandes fortunas dos bilionários e taxar em 50% os lucros e dividendos das grandes empresas pagos aos acionistas.

A barbárie ambiental é parte da barbárie capitalista

A tempestade que assolou Petrópolis não é uma mera casualidade da natureza. Se é verdade que esta época do ano é marcada por chuvas fortes, a brutalidade tanto das chuvas em Petrópolis quanto das enchentes em Minas Gerais e São Paulo e das ondas de calor dos últimos verões é parte das consequências da ação predatória do capitalismo nos ecossistemas terrestres.

Lembremos aqui o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado em agosto de 2021, que destacava que a temperatura da Terra está subindo mais rápido do que o esperado e fazia alertas alarmantes sobre as consequências da catástrofe climática para o planeta e, portanto, para a humanidade. Estamos vivenciando já essas consequências.

Sobre esse tema, recomendamos a leitura da edição especial da Revista Correio Internacional, que reúne artigos mais aprofundados sobre todos os problemas que o sistema capitalista produziu e produz para a vida no planeta.

Uma alternativa socialista para assegurar a vida dos trabalhadores petropolitanos

Como apontado, há anos a Região Serrana convive com tragédias. Os fenômenos naturais não são 100% previsíveis, mas, para evitar toda dor, tragédia e morte, é necessário romper com os interesses da burguesia. Não pagar a dívida pública com os banqueiros bilionários e investir em um plano de obras públicas de escoamento, contenção, moradia segura e reflorestamento.

É preciso criar uma lei de responsabilidade social que destine verbas a saúde, educação, moradia e emprego para os milhares de trabalhadores e trabalhadoras da região, com foco também na prevenção de desastres ambientais.

Para isso, é necessário ir além, derrubar o capitalismo e construir o socialismo, sociedade em que a classe operária e os mais explorados governam para os interesses da maioria. Só assim poderemos garantir a defesa do meio ambiente, da vida dos trabalhadores e da juventude.