Manifestação no Rio, em 2013, contra a privatização do Maracanã

Considerando que o megaevento exclui, inclusive, a participação do nosso povo nos jogos, entendo que o mais importante não é se “vai ter” ou “não vai ter” Copa, como tentam reduzir alguns companheiros. A pergunta que segue latente é se haverá ou não ampliação e melhorias nos hospitais, no transporte, na Educação, no direito à moradia. Na busca dessas respostas, toda ação é justa e necessária.
 
A resposta aguardada, que precisa ser sentida e não somente ouvida, desde as manifestações de junho de 2013, é a melhoria dos serviços públicos e direitos básicos à população; o seu “padrão FIFA”, como fora exigido pelos jovens e os trabalhadores ao tomarem as ruas. Colocar essa discussão de volta ao eixo torna-se muito necessário agora.
 
Tenho observado que está se instrumentalizando um debate que busca ofuscar a legitimidade e a necessidade de que continuem as mobilizações em nosso país. Afinal, além de se realizar ou não a Copa, o fato é que não houve melhorias em relação ao que fora cobrado pelos milhões de brasileiros que se mobilizaram. A forma com que se tenta desviar o foco da discussão está se expressando quando muitos tentam plantar uma “simples” polarização entre os que defendem se “vai ter” e os que defendem que “não vai ter” Copa no Brasil.
 
Basta que observemos alguns textos publicados por pessoas e organização da chamada esquerda brasileira, que compõem e defendem o governo Dilma, ou mesmo de uma ou outra personalidade crítica do esporte nacional (ainda que necessariamente não componha ou abertamente defenda o governo), para vermos que o esforço é enaltecer, e assim reduzir, toda discussão a uma polarização entre os que são contra e a favor da Copa. Com esse intuito, derrama-se adjetivos e caracterizações de toda sorte, especialmente endereçados àqueles que, segundo julgamento dos escritores, “são contra” a realização do citado evento.
 
“Complexo de vira-latas”; “falta de patriotismo”; “a extrema esquerda ao lado da extrema direita”; “os setores conservadores é que tentarão dar o tom dos protestos”; “derrotar a copa é interesse do que há de mais conservador”, são apenas algumas das pérolas que enxertam os inúmeros textos já publicados que, conscientemente, optaram em por à margem da discussão o quão o nosso país precisa apoiar-se nas lições de junho e seguir lutando por melhores condições de vida ao nosso povo; até porque, nem o Congresso Nacional, nem os governos executivos de plantão (seja do PT ou do PSDB, com seus convenientes aliados) alteraram sua lógica de administrar e investir os recursos públicos.
 
Apoiar, participar e realizar novas manifestações esse ano, antes, durante ou depois da Copa não ser confundido com “está contra ela e ponto”. Trata-se de crer que é justo, legítimo e necessário seguir lutando por melhores condições de vida e contra um modelo de país que gasta mais com um megaevento do que com a Educação, como já está comprovado. Significa aprender as lições de 2013 e buscar colocar os trabalhadores, a partir de suas organizações, ombro a ombro com a juventude na defesa de nossas reivindicações e, agora, tendo de enfrentar o forte esquema repressivo já anunciado pelo governo federal, bem como pelos estaduais.
 
No momento dessa discussão já são muitos os trabalhadores que estão em luta ou que preparam suas mobilizações. Estamos falando de milhares de famílias, que ocupam terrenos e lutam por moradia no estado de São Paulo e Minas Gerais (entre tantos outros); dos servidores públicos federais que buscam de maneira unitária organizar sua greve; dos índios; quilombolas e trabalhadores rurais que enfrentam os governos, o latifúndio e o agronegócio; das mulheres que se levantam contra a onda de machismo e violência; ou dos metalúrgicos contra a onda de demissões impostas pela GM. Nossa tarefa principal é buscar dar um sentido político comum a essas lutas.
 
Por óbvio, essas batalhas se confrontam com a afronta expressa nos bilhões de investimentos do dinheiro público para realização de uma Copa, da qual os esses trabalhadores estão todos excluídos e com a política econômica de um Governo que, além de não responder as exigências do povo, reserva 42% de todo nosso orçamento para pagamento de juros e serviços da dívida pública. Esse mesmo governo, com o apoio dos governadores nos estados, está montando um forte aparato repressivo visando criminalização os movimentos sociais e impedir as manifestações. Isso sim é uma política conservadora, a serviço dos ricos e sem nenhum patriotismo.
 
Diante desse quadro, o principal debate se resumiria a se “vai ter” ou “não vai ter” Copa, como está propondo alguns? Não! O que precisamos recolocar no eixo das discussões é se haverá ou não a ampliação e a melhorias dos hospitais, dos transportes, da Educação, do direito à moradia, entre inúmeras outras demandas exigidas nas manifestações. Aos que insistem em outro foco da discussão, espero, sinceramente, encontrá-los nas ações, mobilizações e greves protagonizadas pelo nosso povo e contra os governos de plantão no decorrer de todo esse ano; Seja no antes, no durante ou no depois da Copa.
 
 
*Atnágoras Lopes é membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.
 
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