(Dallas - EUA, 16/05/2019) Presidente da República Jair Bolsonaro presta continência à Bandeira dos Estados Unidos.rFoto: Marcos Corrêa/PR

Quem é ele?
Não sei quem convidou
Sei lá, ninguém soube
Dizer como fez pra entrar
Já bolado, pensei:
“Isso não vai prestar”
O cara pagava mico
Soprava um apito
Cismou de zuar
O que é dele tá guardado
No final da festa
O bicho vai pegar…

(Zeca Pagodinho)

Os versos de Zeca Pagodinho falam sobre um penetra que entra numa festinha de criança sem ser convidado. No entanto, a canção também pode descrever com certa exatidão toda a estapafúrdia, grotesca e bizarra visita de Jair Bolsonaro (PSL) em Dallas, nos Estados Unidos.

Bolsonaro agiu como um verdadeiro penetra no país, apesar de ser um conhecido puxa-saco do imperialismo norte-americano de seu chefe, Donald Trump.

A viagem foi motivada por uma premiação conferida pela Câmara de Comércio Americano-Brasileira a Bolsonaro, que seria realizada no dia 15 de abril, em Nova Iorque. Tradicionalmente, o evento é realizado no Museu de História Natural, embaixo da ossada de uma baleia.  Mas o museu se recusou a sediar a cerimônia.

Depois, o próprio prefeito da cidade, Bill de Blasio, liderou uma campanha de boicote à visita de Bolsonaro e o classificou como “perigoso” e “preconceituoso”. Magoado, o brasileiro chegou a anunciar o cancelamento da viagem aos EUA. Mas numa atitude bem típica do seu governo, voltou atrás e cancelou o cancelamento.

Disse então que havia sido convidado para ir à premiação em Dallas, no Texas. Logo, metade dos vereadores da cidade se apressou em rejeitar visita do capitão reformado. O próprio prefeito, Mike Rawlings, avisou que, além de não dar as boas-vindas a Bolsonaro, não participaria de nenhum evento com o líder brasileiro.

Ex-presidente George W. Bush, surpreso com a “visita” inesperada

A viagem já estava virando fiasco. Mas a equipe de Bolsonaro resolveu agir rápido e, como um verdadeiro penetra, realizou sem anúncios ou confirmação, um encontro com o ex-presidente George W. Bush. Freddy Ford, assessor de Bush, revelou à revista Veja que o ex-presidente não havia convidado Bolsonaro para nenhum encontro e que foi surpreendido com a presença do brasileiro.

E como todo bom penetra, Bolsonaro  “boca-latrina” “cismou de zuar”. Durante uma escala em Manaus, o ex-militar foi interpelando por um fã de traços orientais que desejava tirar uma foto com ele. O capitão então fez o gesto com a mão aproximando o polegar e o indicador, para imitar algo de tamanho reduzido, e perguntou: “Tudo pequeninho aí?”, enquanto filhos e assessores riam do pobre fã estrangeiro, que nada entendia sobre a “zoação” pra lá de preconceituosa e asquerosa.

Dos EUA, o presidente-penetra provocou, xingou e chamou de “idiotas úteis” e “imbecis” os manifestantes que foram às ruas no dia 15 contra o corte da educação realizado no seu governo. Também bateu boca com uma jornalista da Folha de São Paulo, dizendo que ela deveria entrar de novo “numa faculdade que presta e fazer bom jornalismo“. Depois deu uma de valentão embriagado, desses de fim de festa, e desafiou novamente a imprensa e o Ministério Público do Rio de Janeiro, que investiga seu filho Flávio Bolsonaro por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha entre outros trambiques: “Venham pra cima de mim! Não vão me pegar”.

Cabe destacar, o papel da pressão dos movimentos contra opressão, particularmente o LGBT que jogou papel importante tanto em Nova Iorque quanto em Dallas. Aliás, foi uma iniciativa do único vereador gay de Dallas fazer um manifesto contra o Bolsonaro.

Vexame sem tréguas
Finalmente, em seu discurso na cerimônia de “premiação”, Bolsonaro bateu continência a bandeira norte-america e voltou a lamber as botas de Trump. Disse que os governos anteriores do Brasil tinham uma relação de confronto com os Estados Unidos. “Os senhores eram tratados como inimigos”, disse.

Cabe esclarecer que, no Brasil, todos os presidentes foram subservientes ao imperialismo norte-americano, sem exceção.  Mesmo Lula era considerado por Barack Obama como “o cara”. Convém lembrar que o petista também tinha uma excelente relação com Geoge W. Bush, o qual recebeu com tapete vermelho por duas vezes no Brasil, a despeito da bobageira repetida à exaustão por petistas sobre a suposta “soberania” da política externa brasileira.

Por isso, a versão de Bolsonaro soa como coisa de lunático. Pode até ser, mas o objetivo do capitão reformado é passar a imagem de que ele sim é um verdadeiro “idiota útil” do imperialismo norte-americano, muito mais submisso e entreguista do que aqueles que ocuparam o seu cargo.

É por essa razão que Bolsonaro rendeu homenagens a Charles Rodney Chandler, um capitão do Exército norte-americano morto em São Paulo pela guerrilha armada que lutava contra a ditadura militar. Chandler era um assassino conhecido que massacrou milhares de vilarejos camponeses na Guerra do Vietnã. Estava no Brasil para “treinar” os agentes da repressão da ditadura brasileira nas técnicas de torturas. Por isso levou chumbo.

O penetra também foi aos EUA dar uma de caixeiro viajante e ofereceu a empresários do país a privatização da Petrobras, Pré–sal, Eletrobras, estradas, portos etc.

Enquanto “o cara pagava mico”, o Brasil assistia à primeira grande mobilização contra o seu governo protagonizada pelos estudantes e os trabalhadores na educação. No próximo dia 30, os estudantes novamente vão às ruas. E no dia 14 de junho o Brasil vai parar em uma Greve Geral contra a reforma da Previdência. A luta contra o governo alcança um patamar superior, e a derrota do governo é algo concreto. É Bolsonaro, o que é teu tá guardado e no final da festa o bicho vai pegar.