Plenária na ocupação Jardim União
PSTU-SP

Júlia Eid, da Zona sul de São Paulo

No dia 17, moradores da ocupação Mimax, na região do Jardim Ângela, se reuniram para debater o Manifesto de lançamento do Polo Socialista e Revolucionário. No dia 24, foi a vez dos ativistas da ocupação Jardim da União, na região de Parelheiros. As plenárias discutiram a necessidade de derrubar o governo genocida de Bolsonaro e Mourão imediatamente e de construir uma alternativa independente dos trabalhadores e do povo pobre contra a fome, a carestia, o desemprego e os despejos.

A ocupação Jardim da União luta há 8 anos contra a reintegração de posse e pela regularização de sua comunidade. É uma trajetória marcada por muitas lutas diretas contra os governos, em especial do PSDB que está à frente do estado há décadas e que, por diversas vezes, tentou reintegrar a área. Os moradores da Mimax, nesse exato momento, estão em meio à resistência contra o despejo autorizado pelo judiciário estadual.

Plenária na Ocupação Mimax

Contra o desemprego, a carestia e a fome: fora Bolsonaro e Mourão já!

A vida dos trabalhadores, em especial dos negros e negras da periferia, está cada vez mais difícil. Sobre seus ombros pesam o desemprego e a falta de renda que, em meio à alta do preço dos alimentos e do gás, leva a condições extremas, de insegurança alimentar e fome. São comuns histórias de mulheres, em sua maioria negras e chefes de famílias, que sofrem por não ter condições de alimentar os filhos. Comuns também a perda de familiares e amigos levados pela Covid-19. Na pandemia, o índice de morte dos negros e dos moradores das periferias foi e ainda é muito maior do que o de brancos moradores de bairros nobres.

O aumento das dificuldades para sobreviver da maioria da população do Brasil e do mundo tem relação direta com os interesses dos ricos e poderosos e, portanto, com o sistema capitalista, cuja essência é a geração de lucro por meio da exploração da classe trabalhadora. A burguesia nacional e imperialista, contando com o apoio irrestrito dos governos, está se aproveitando da crise econômica para aumentar essa exploração, para demitir, para retirar direitos, para privatizar empresas públicas, com a finalidade de atender seus interesses: aumentar seus lucros e ampliar seus negócios. No Brasil, com o governo de ultradireita de Bolsonaro e Mourão e seu ministro corrupto da economia Paulo Guedes, a burguesia imperialista encontrou um solo fértil para rapinar e superexplorar os trabalhadores.

Na questão da moradia, por exemplo, para atender os interesses das grandes empresas que faturam alto com a especulação imobiliária, Bolsonaro vetou o projeto de lei que impedia despejos em meio à pandemia. Não por acaso, aumentaram os despejos Brasil afora quando a maioria da classe trabalhadora está sem emprego formal e sem condições de pagar aluguel. Essa combinação levou muitas famílias a morar na rua.

Ao mesmo tempo, o governo genocida de Bolsonaro, já no inicio da pandemia deu R$ 1,2 trilhão aos banqueiros e deixou a classe com um auxílio-emergencial completamente insuficiente para garantir as mínimas condições de vida de milhares de famílias de trabalhadores.

A maioria dos trabalhadores brasileiros está desempregada, em subempregos e na informalidade. Não há políticas de geração de emprego e renda. A alta no número de desempregados é mais uma demonstração de que a política do atual governo atende aos interesses do grande empresariado. Vale lembrar que Bolsonaro não hesitou em usar os trabalhadores como bucha de canhão na pandemia e sem ter garantido quarentena e renda digna foi o principal responsável pela contaminação e pela morte de milhões.

O resultado de toda essa política do governo e de seus aliados salta aos olhos: mais de 600 mil mortes; 55% da população vivendo em insegurança alimentar e mais de 20% passando fome. Enquanto isso, os ricos concentram cada vez mais riquezas, ganhando cada vez mais as custas da vida e do sofrimento dos trabalhadores e do povo pobre.

Em meio a essa realidade, a primeira e mais urgente necessidade de nossa classe, é derrubar Bolsonaro e Mourão, é colocar abaixo esse governo genocida e corrupto imediatamente, por meio da luta direta, nas ruas, nas greves e ocupações.

Alternativas eleitorais a Bolsonaro serão incapazes de melhorar as condições de vida dos trabalhadores e do povo pobre

Para os moradores de favelas e ocupações não é incomum a presença de futuros candidatos nos seus territórios. Em meio a promessas mentirosas, eles sorriem, tiram foto juto aos moradores, tentam comprar lideranças e, para dizer que não fizeram nada, às vezes jogam raspas de asfalto sobre o chão de terra das comunidades.

Esses políticos fazem isso por que vivem para disputar as eleições e precisam do voto de centenas de milhares de trabalhadores para se eleger. Mas, não falam que são financiados pelos banqueiros, pelo agronegócio, pelas construtoras e grandes empresas. Não dizem também que representam os interesses deles e que é pra eles que vão governar e que, portanto, são incapazes de atender as demandas, mesmo as mais simples, dos trabalhadores nas comunidades.

No cenário atual, partidos como PSDB, de Dória e PDT de Ciro Gomes estão tentando construir uma alternativa eleitoral viável para disputar as eleições de 2022. Estão tentando, mas ainda não conseguiram emplacar ninguém capaz de alterar a atual polarização entre Lula e Bolsonaro.

No entanto, ainda assim, é provável que apareçam na próxima eleição tentando capitalizar setores que não confiam em Lula e em Bolsonaro. Mais uma vez, a campanha desses representantes das grandes empresas vai tentar iludir a classe trabalhadora e o povo pobre com os mesmos discursos de sempre: que vão resolver o problema do desemprego e da fome; que vão melhorar a segurança, a saúde e a educação etc. No entanto, sabemos que vão seguir recolonizando o país a serviço das multinacionais e do imperialismo, vão seguir atacando o direito dos trabalhadores e privatizando empresas públicas, como Correios e a Petrobras.

Portanto, quaisquer das alternativas da burguesia, ao prometerem resolver os problemas presentes na vida dos periféricos e do conjunto da classe trabalhadora, estão mentindo. Não fosse assim esses problemas já teriam sido resolvidos, a medida que governam o país há décadas.

E o PT?

O PT, para chegar à presidência em 2002, foi de mala e cuia para o lado dos burgueses. Fez alianças com os empresários, recebeu rios de dinheiro dos bancos, como do Itaú e assim foi incapaz de resolver problemas estruturais do país: não fez reforma agrária, pois estava de braços dados com o agronegócio; não resolveu a falta de moradia, pois estava junto com empresas e construtoras que vivem da especulação imobiliária; retirou direitos dos trabalhadores, como o PIS e o seguro desemprego, pois estava de mãos dadas com os grandes empresários.

Agora, Lula e seu partido querem aparecer como os grandes salvadores da classe trabalhadora e do povo pobre. Mas repetem a mesma fórmula: dar as mãos pros grandes empresários e buscar alianças com representantes dos partidos do centrão, da direita, ou seja, com o que há de mais podre na política brasileira. Lula está em plena negociação com o PSDB e DEM, discutindo ministérios e cargos. Entre eles, o do Ministério da Economia, para o qual nomes como do banqueiro Meirelles é cogitado. Dessa forma, ao estar junto com eles, suas promessas de resolver os problemas imensos dos trabalhadores e do povo pobre também são mentirosas.

Além disso, infelizmente, o PT não coloca o peso que poderia para derrubar o governo genocida de Bolsonaro. E assim o faz para ter mais chances na corrida eleitoral de 2022. A ideia é sangrar Bolsonaro e não o derrubar.

O mundo todo vive uma gravíssima crise econômica que castiga ainda mais os trabalhadores dos países coloniais e semicoloniais como o Brasil. No caso de Lula vir a governar novamente, fará seu governo em meio a essa crise e, por estar mais uma vez, aliado a capitalistas e seus políticos vai aplicar com muita força os planos neoliberais, seja retirando direitos e possibilitando aumento da exploração da classe, seja aprofundando o projeto de colonização e entrega do país para multinacionais.

O PSOL, em seu recente Congresso e não sem oposição de parte minoritária de seus próprios militantes, resolveu não lançar candidato próprio nas eleições de 2022, indicando que vai apoiar PT e Lula desde o primeiro turno e, caso eles ganhem as eleições, pretendem integrar o governo. Assim o PSOL poderá cometer dois erros graves: apoiar um governo de conciliação de classes e fazer parte dele. E isso, caso venha a se concretizar, vai levar o PSOL, desde o Governo Federal, a defender os interesses dos ricos e dos grandes empresários contra os interesses dos trabalhadores e do povo pobre. Assim, por exemplo, como vai se portar Boulos e a maioria do PSOL, caso estejam em um governo com banqueiros e empresários, diante do conflito aberto e permanente entre especulação imobiliária e a necessidade de moradia? Por essa razão, é importante que algumas tendências e lideranças do PSOL estejam construindo o Polo Revolucionário e Socialista, uma iniciativa que garante a independência da classe trabalhadora contra a capitulação da direção majoritária desse partido à conciliação de classes.

Entendemos que angústia da classe trabalhadora é imensa e que olhem nessa proposta de “vale tudo” para derrotar Bolsonaro encabeçada pelo PT uma alternativa viável. O repúdio ao governo genocida fez muitos voltarem a alimentar alguma expectativa em Lula. Mas, por todos os motivos que apontamos acima, Lula, no caso de vir a governar e em condições econômicas piores, vai atender os interesses de seus aliados contra a classe trabalhadora e o povo pobre, podendo contar, ao que tudo indica, com PSOL para isso.

A classe trabalhadora e o povo pobre só podem contar com suas próprias forças

Nas favelas e ocupações o descontentamento com a situação de desemprego e miséria é enorme e a maioria nutre com toda razão muita raiva do governo Bolsonaro, principal responsável pelas mais de 600 mil mortes, pelo desemprego, a fome e a carestia.  Portanto, reafirmamos que a maior necessidade nesse momento é derrubar imediatamente esse governo e para isso devemos seguir na luta pelo Fora Bolsonaro. Não podemos esperar 2022 para que isso ocorra. E para conseguirmos derrubar esse governo genocida, racista, machista, LBTIfóbico é fundamental unir todos pra lutar, inclusive setores da própria burguesia.

Por outro lado, derrubar Bolsonaro não pode nos levar a confiar e estar junto com a burguesia e seus representantes políticos, que apoiam e promovem despejos, que criam e aplicam projetos de leis para encarcerar e matar a juventude negra (como a lei de Drogas, sancionada em 2006 por Lula), que seguem defendendo o pagamento da falsa dívida pública repassando quase metade do PIB para banqueiros em detrimento dos investimentos em saúde, educação, emprego, moradia e alimentação.

Nesse sentido, a construção do polo revolucionário e socialista pode cumprir um papel importante, unindo ativistas e lutadores de diversos setores da classe trabalhadora, das fábricas, das periferias, das ocupações, empregados e desempregados com a finalidade de fortalecer a defesa de um programa, um projeto para o país, de independência de classe, que aponte para a satisfação das nossas necessidades, que esteja na luta para derrubar Bolsonaro e nas lutas do dia a dia com o objetivo de levar um programa revolucionário e socialista a milhares de trabalhadores no nosso país.

A participação dos ativistas das ocupações e das periferias no polo socialista e revolucionário é parte importante da disputa contra as alternativas burguesas e de conciliação de classe nos setores mais oprimidos e explorados da classe trabalhadora. É necessário reunir os ativistas desses setores, realizar debates e plenárias nas ocupações e favelas para discutir o manifesto lançado pelo Polo e ampliar, assim, a propaganda por um programa que defenda moradia, saneamento básico e fim do extermínio e do encarceramento em massa dos negros; um programa que defenda saúde pública de qualidade, inclusive estatizando sob controle dos trabalhadores os hospitais particulares. Um programa urgente para combater o desemprego, a fome e a carestia. Finalmente, um programa que defenda um governo democrático dos trabalhadores e do povo pobre por meio de conselhos populares com a finalidade de utilizar a riqueza que produzem para satisfazer todas as suas necessidades, um programa revolucionário e socialista!