No dia 11, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, foi confrontado por vários especialistas em uma audiência pública realizada no Congresso Nacional. Muitos criticavam a restrição ao antiviral Tamiflu, medicamento produzido pelo laboratório Roche, utilizado para tratar a gripe. O remédio deve ser tomado até 48 horas após surgirem os primeiros sintomas da doença. Passado esse primeiro momento, ele não surte mais efeito. Muitos especialistas opinaram que o antiviral deveria ser amplamente distribuído às pessoas infectadas. O ministro, porém, resolveu não levar a sério as sugestões dos infectologistas e as classificou de “desastradas”.

O infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edimilson Migowski responsabilizou a restrição pelo elevado número de mortes no país. “A letalidade da gripe no Brasil é muito superior à da Inglaterra, onde aconteceram quase 100 mil casos e poucas pessoas morreram. O Chile também distribui a medicação livremente e o índice de mortes é mais baixo que no Brasil”, disse ao Jornal do Brasil.

Segundo o Ministério da Saúde, 192 pessoas morreram devido ao vírus. No entanto, pairam dúvidas sobre confiabilidade dos números oficiais. O total de mortes pode ser bem maior, mas o ministério tenta esconder manipulando os dados para ocultar um fato sinistro: o Brasil já é o terceiro país em que se registra a maior mortalidade causada pela gripe. Perdemos somente para os Estados Unidos (436 vítimas fatais) e a Argentina (338 óbitos). Mas já ultrapassamos o México (162 mortes), onde a epidemia começou.

Também registramos um alto percentual de mortes pela gripe no Brasil em relação às vítimas da doença no mundo, em torno de 11%. A restrição ao medicamento atinge níveis absurdos. No estado do Rio de Janeiro, a distribuição do antiviral não é realizada pelos hospitais, mas pelos quartéis dos bombeiros, gerando transtornos às vítimas.

Mesmo assim, para ter acesso, o paciente deve obter a receita com médico público ou privado. O profissional, por sua vez, deve preencher um formulário especial para liberação do remédio.

Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, o médico pode se sentir intimidado e não receitar o antiviral.
“Isto não está previsto na regulamentação das receitas médicas. É totalmente fora dos padrões”, diz.

O ministro Temporão argumenta que a liberação do Tamiflu poderia criar um vírus mais resistente. Trata-se de uma desculpa esfarrapada utilizada pelo governo para não quebrar a patente do laboratório Roche.

A postura do governo é um crime contra a população. A morte de pacientes serve para preservar o lucro de um punhado de capitalistas. Como lembrou o médico Roger Ancillotti, no artigo “Os sem Tamiflu”, publicado do Jornal do Brasil (12/8), “o ministro sonega o Tamiflu, ignorando o Código Penal Brasileiro, que preceitua no Art. 132: ‘Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente’, com pena de detenção de três meses a um ano, se o fato não constituir crime mais grave. Cuidado, Excelência!”

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