Redação
Após ter sido adiado uma vez, o depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro aconteceu nesse dia 10 em Curitiba. Lula é réu da Lava Jato acusado de ter recebido propina da OAS como pagamento a contratos firmados pela empreiteira com a Petrobrás.
A denúncia do Ministério Público Federal afirma que Lula recebeu propinas no valor de R$ 3,7 milhões na forma de um triplex no Guarujá e outras vantagens como o armazenamento de seu acervo pessoal, além de reformas e mobílias no próprio apartamento da praia. Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Dizendo-se vítima de uma perseguição de Moro e da Lava Jato, Lula e o PT convocaram a militância para defendê-lo em Curitiba. Parte dessa narrativa dá conta de que a Lava Jato é um instrumento da burguesia e de setores do imperialismo para derrubar Dilma e atacar o Partido dos Trabalhadores. Essa orquestração, que alguns defensores dessa tese até acusam a participação direta do FBI, funcionaria no sentido de atacar as aprofundar os ataques à classe trabalhadora, aprofundar a entrega do petróleo, privatizar a Petrobrás, etc.
O que é a Lava Jato
Se antes a teoria conspiratória que cerca a Lava Jato já não tinha base na realidade, a dinâmica que se seguiu jogou por terra qualquer argumento que pudesse dar base a esse tipo de coisa. Quando o ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), foi preso, diziam que isso não passava de uma cortina de fumaça para a prisão de Lula. Depois, a delação da Odebrecht jogou na fogueira não só Temer, como todo o seu núcleo duro, respingando nas cúpulas de grande parte dos partidos no Congresso Nacional.
A chamada “lista Fachin” foi divulgada dias antes dos momentos decisivos da votação das reformas da Previdência e trabalhista, deslegitimando ainda mais esse governo e servindo para aumentar a resistência a esses ataques. As denúncias de corrupção trazidas pela Lava Jato ajudaram para que Temer seja um dos governos mais repudiados da história do país.
O imperialismo, os bancos e as empreiteiras sempre tiveram os governos em suas mãos. No governo, o PT entregou de bandeja às grandes petroleiras as reservas de petróleo do Pré-sal, atacou direitos dos trabalhadores, privilegiou o agronegócio e os banqueiros, que nunca ganharam tanto como Lula gosta tanto de lembrar. Os EUA e as grandes multinacionais sempre deram as cartas por aqui e a desestabilização do governo sempre é ruim para os negócios.
A Lava Jato é produto da imensa crise econômica, social e política que se abateu sobre o país. Alguns autores a comparam com o Tenentismo, movimento que de alguma maneira refletia as classes médias descontentes na República Velha e que vieram depois apoiar a posse de Getúlio Vargas na revolução de 30. De certa forma, procuradores do MPF etc., refletem a crise e escapam ao controle.
Envolve disputas interburguesas e, nessa briga, espalha lama por todos os lados, expondo a corrupção do PT, PSDB, PMDB, e de todo esse regime. As delações da Odebrecht revelam um sistema podre, com eleições fraudadas pelas grandes empreiteiras e leis literalmente compradas pelos bancos e empresas. Não é por menos que, nessa crise, o tucano Aécio Neves tenha sido o maior prejudicado nas pesquisas eleitorais.
Investigar e prender os corruptos
Os que acham que a Lava Jato se resume a uma conspiração contra o PT e o regime político no país, se fossem coerentes deveriam também defender a soltura do picareta Eduardo Cunha. Mas a verdade é que esse bandido deve mofar atrás das grades. Devemos denunciar toda seletividade que ronda o processo da Lava Jato, mas isso não pode significar a defesa do corrupto A ou B. Devemos defender a prisão de todos os corruptos e corruptores.
Sérgio Moro está longe de ser imparcial, e isso sim deve ser denunciado, não a investigação que se abate sobre o PT e as suas relações com as empreiteiras. Se é corrupto, deve ser investigado e preso. Ponto. Como afirmou o próprio Lula: “Provem uma corrupção minha que eu irei a pé para ser preso“. Mas não pode ser só Lula, tem que ser Temer, Aécio, Rodrigo Maia, e toda corja de corruptos que infestam o Congresso Nacional e que estão agora tentando retirar nossa aposentadoria e direitos trabalhistas.
Alguns afirmam ainda que estamos num estado de exceção. Isso não é verdade. Vivemos sob um regime de democracia burguesa que tem traços fortemente bonapartistas quando se trata de reprimir os lutadores e a pobreza. É muita hipocrisia falar em estado de exceção quando um punhado de empreiteiros e políticos corruptos é preso pela Lava Jato. Prisão provisória, sem prova, sem direito de defesa e sem nenhum respeito a qualquer direito humano vivem os jovens negros da periferia, executados sumariamente pela Polícia Militar. Arbitrariedade é o fato de Rafael Braga ainda estar preso por simplesmente carregar uma garrafa de Pinho Sol numa manifestação. Ou a lei Antiterror editada no governo Dilma.
Não ao acordão!
Nos últimos dias, vem se desenhando um acordão para abafar a Lava Jato e soltar os corruptos. O ministro Gilmar Mendes, cuja esposa trabalha para Eike Batista, mandou soltar o empresário falcatrua. Também colocou na rua José Dirceu, aliviando a situação de Palocci que negociava delação premiada e prometia colocar o sistema financeiro na roda. A verdade é que não podemos ter nenhuma confiança em Moro, no STF e nessa justiça que só funciona para os ricos e poderosos. Estão juntos para abafar a crise e fazer andar as reformas que os banqueiros exigem.
O papel da classe trabalhadora não pode ser se alinhar a tal ou qual corrupto ou setor burguês nessa crise. Não pode ser defender Lula, nem colocar Moro como um herói. O que os trabalhadores querem é que os corruptos e corruptores sejam presos. Temos é que defender corrupto na cadeia, a expropriação dos seus bens e a estatização, sem indenização, das empresas envolvidas nessas maracutaias, colocando-as sob o controle dos trabalhadores.
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