No momento em que a crise econômica internacional inicia uma nova fase, quais as perspectivas para o desenvolvimento do capitalismo? Qual o futuro do Brasil e dos países periféricos frente aos países imperialistas? Estes e vários outros temas são tratadosO livro Capitalismo em Crise retoma este debate e aborda vários outros temas não apenas para compreender a crise, mas também para identificar quais as perspectivas para uma saída revolucionária.

Organizado por Plínio de Arruda Sampaio Jr., professor de economia pela Unicamp, que também escreve um artigo, o livro também publica as visões de Eduardo Almeida, Jorge Grespan, Maria Orlanda Pinassi, Ricardo Antunes, Valério Arcary e Virgínia Fontes.
Vamos nos deter brevemente naquilo que a boa tradição marxista conservou de melhor: as polêmicas, onde justamente reside a qualidade do livro.

Natureza da crise
No campo do marxismo, é possível identificar ao menos quatro grandes interpretações distintas sobre a natureza da crise atual, mas quais ainda resistem ao tempo?
Uma delas caiu em descrédito rápido, ao afirmar que o capitalismo estaria passando por uma crise terminal. Assim como é incorreto procurar decretar o fim da crise, igualmente se mostraram equivocada as interpretações que apostaram no juízo final automático do capitalismo, devido às suas próprias contradições econômicas.

No lado oposto, aqueles que identificam o problema circunscrito à esfera financeira é porque tem tomado as causas da crise pelas suas formas de manifestação, ao menos é isso que podemos concluir com o artigo de Jorge Grespan, no qual procura identificar os elementos essências da teoria das crises em Marx. Para o autor, as crises no capitalismo podem se manifestar de diversas maneiras, como desproporção entre os departamentos de bens de consumo e bens de produção, subconsumo das massas, redução das taxas de lucro ou crises financeiras. Para além destas formas de aparição, as crises consistem essencialmente na incapacidade do capital em absorver e valorizar trabalho vivo devido à sobreacumulação.

Outras duas abordagens sobre a natureza da crise são apresentadas no livro: ela consiste em mais uma crise cíclica de superprodução ou uma crise de novo tipo, de caráter estrutural? Ricardo Antunes, Maria Orlanda e Virgínia Fontes, inspirados no marxista húngaro Istvan Mészàros, procuram delinear diversos aspectos do caráter estrutural e sistêmico da crise atual, como o papel do Estado, da ideologia e do imperialismo. Segundo os autores, o capitalismo é incapaz de retomar as taxas de crescimento que experimentou durante o pós-guerra. Estaríamos vivenciando altas conjunturais tímidas em um cenário de recessão estrutural desde os anos 1970, incapaz de ser revertido. Com isso, além de minar as bases objetivas do reformismo, ao não ter condições de promover um aumento significativo da produtividade do trabalho capaz de elevar as condições de vida até mesmo para uma aristocracia operária dos países centrais, o capitalismo também tem agravado as crises sociais e ambientais em escala mundial. Este cenário de barbárie social seria mantido por uma ideologia e Estado crescentemente de tendências fascistas.

Eduardo Almeida e Plínio de Arruda Jr. apontam para uma interpretação distinta, que procura identificar o caráter cíclico da crise. Apoiando-se nas análises de Trotsky sobre a teoria das ondas e polemizando com Mandel, Eduardo Almeida procura mostrar a relação entre crises econômicas e luta de classes. Ele destaca que, ao invés de uma fase recessiva desde os anos 1970, o capitalismo teria conseguido imprimir elevadas taxas de lucro e de acumulação a partir dos anos 1980, em função da queda do Muro, das políticas neoliberais em escala internacional e da globalização da economia. No entanto, esta onda ascendente se inverteria a partir de meados dos anos 1990, dando início a uma prolongada fase recessiva, cujos grandes movimentos serão decididos no terreno da política.

Dinâmica da crise
A propósito da dinâmica da crise, talvez aqui contenham as maiores divergências entre os economistas marxistas. Afinal, como se comportará a economia? Uma experiência que repita exatamente 29, com uma queda drástica seguida de uma grande depressão, já parece pouco provável. Por outro lado, uma recuperação rápida também não parece estar na ordem do dia, como atestam os problemas fiscais na Europa e nos EUA.

Plínio de Arruda Jr., por sua vez, aposta em uma recessão prolongada pelo fato de que os Estados optaram por administrar a crise ao invés de fazer as queimas necessárias de capitais em excesso. Enquanto tais desvalorizações não ocorrem, a crise perduraria por tempo indefinido, mas com aumento do desemprego, pressão pela retirada de direitos e arrocho salarial.

Saídas
Os autores compreendem que não é possível uma saída keynesiana, com restauração do Estado de Bem-estar social na Europa, ou um projeto nacional-desenvolvimentista para os países periféricos. Ao contrário deste cenário, Plínio de Arruda Jr. argumenta que a alternativa gestada pelos últimos governos no Brasil e da maior parte da América Latina tem resultado em uma reversão neocolonial.

A Hora da Política
Valério Arcary critica as análises rápidas que creditam às lutas revolucionárias uma sucessão natural das crises econômicas. O autor dá pistas interessantes para as relações política e econômica entre os países no sistema imperialista. No entanto, sua preocupação principal é compreender a relação entre crise econômica e crise política, particularmente a formação de uma situação revolucionária. O proletariado está maduro para uma revolução? Como se dá este processo e qual o papel das organizações da classe trabalhadora, principalmente do partido?

Por mais importante que seja compreender a dimensão econômica da crise, temos certeza que o leitor – assim como nós – quer mudar logo de palco. Mudar para um terreno que nos movimentamos melhor: resolver a crise no terreno da ação política de massas.

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