Foto: reprodução YouTube / Conjuntura LIVE

O ato expressou que o Lula 2022 é ainda mais pragmático que o Lula 2002 e 2006. Ao contrário do que diversos setores da esquerda afirmam – que PT e Lula aprenderam com os erros das suas gestões anteriores –, o ato do Rio revela que não há nenhuma autocrítica de Lula. Ao contrário, a mesma lógica do vale tudo – agora sob a justificativa da necessidade de derrotar eleitoralmente Bolsonaro – se aprofunda neste momento.

Nós, que compartilhamos imensamente da necessidade de colocar para fora esse governo genocida e a direita golpista o quanto antes, alertamos que o vale tudo só nos levará a futuras derrotas e desmoralizações.

O PT do Rio e Lula, desde 1998, construíram arcos de aliança com oligarquias políticas locais. Primeiro com Garotinho, para depois dar um salto com Cabral e Paes. Essa aliança levou a um projeto que teve à frente a casta corrupta do MDB, envolvida em escândalos de enriquecimento ilícito.

Lula afirmou, em seu discurso, que foi o presidente que mais fez pelo estado do Rio de Janeiro. Que investiu 559 bilhões de reais no Estado durante os anos dos governos do PT, que reativou a indústria naval do estado. Há que se perguntar: foi apenas Bolsonaro o responsável para que nada desse legado tenha sobrevivido?

Lula e Dilma visitaram várias vezes os estaleiros do Rio, vestidos com o uniforme de peão, para lançar algum novo navio que acabava de ser construído. O programa que reativou o setor era parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e prometia investimentos de R$ 11,2 bilhões para a construção de 49 navios e 20 comboios hidroviários.

Muito dinheiro público foi investido em estaleiros controlados por grandes grupos privados. Com a crise, porém, como é da lógica do capital, parte do dinheiro foi desviada pelos empresários do setor para investimento em outros negócios. O EISA, seja o de Niterói/Mauá, seja o da Ilha, foi fortemente beneficiado pelo pacote de ajuda à indústria naval. Não prestaram contas dos recursos e demitiram milhares de trabalhadores, inclusive sem quitação dos direitos trabalhistas.

Da mesma forma se deu com várias empreiteiras contratadas pela Petrobrás, como a Alusa, que deu o calote nos trabalhadores da construção civil no Comperj – Complexo Petroquímico.

Esses calotes aconteceram ainda sob os governos do PT. Alguma medida contra esses grupos foi adotada? Ao contrário, a “privatização branca” da Petrobras continuou cada vez mais veloz.

Isso sem contar o desastre que foram os megaeventos (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016), rios de corrupção e aperfeiçoamento do aparato de repressão estatal contra o povo carioca, sobretudo a parcela mais pobre, habitante das periferias. Segundo a Autoridade Pública Olímpica (APO), os custos das Olimpíadas Rio 2016 aumentaram em mais R$ 400 milhões e totalizaram R$ 39,1 bilhões. Isso é que está por trás da imensa dívida impagável do Rio de Janeiro, que, segundo a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), é o município mais endividado do país. Os recursos públicos gastos com os jogos olímpicos poderiam solucionar a crise pela qual passam a saúde, a educação e os transportes.

Foi a insatisfação com esses e outros acontecimentos que gerou a explosão das ruas em 2013. E também permitiu que uma parte dessa insatisfação fosse capitalizada, não só eleitoralmente, pela direita.

Não há como lutar e derrotar a direita sem apresentarmos um programa consistente que possa, de fato, mudar as condições degradantes de vida da ampla maioria da população. Essa é a responsabilidade que temos nas mãos. Esse é o sentido das pré-candidaturas e do programa do PSTU e do Polo Socialista e Revolucionário.