Quando se questiona as poucas mudanças reais ocorridas no Brasil com os governos petistas uma resposta está sempre presente: a “relação de forças não permite mais”. Será verdade?

Os ativistas no Brasil acompanham as mobilizações que sacodem a Europa e o Norte da África. Na cartilha dos 10 anos do PT, no entanto, não há nenhuma referência a elas.
É uma enorme diferença com o antigo PT, quando as mobilizações de todo o mundo eram saudadas e incorporadas nas análises políticas de todas as correntes.
 Por outro lado, quando se questiona as poucas mudanças reais ocorridas no Brasil com os governos petistas uma resposta está sempre presente: “era o que podia ser feito”, a “relação de forças não permite mais”. Será verdade?

Rebuliço latino americano
Lula foi eleito em uma conjuntura de grandes lutas na América Latina. Foram derrubados os governos da Argentina (2001), Equador (2000 e 2005), Bolívia (2003 e 2005). Além disso, por via eleitoral, chegaram ao governo, partidos e movimentos identificados com a esquerda como no Chile, Paraguai, e depois Nicarágua e El Salvador, além da derrota da tentativa golpista na Venezuela.
Os governos da direita clássica, em crise pela aplicação dos planos neoliberais foram derrotados nas ruas e nas eleições. Pela primeira vez na história, grande parte da América Latina era dirigida por governos identificados como “de esquerda”. E o maior símbolo em todo mundo era Lula, tanto pelo peso econômico do Brasil como por ser uma liderança operária.
Em meio a toda essa situação, seria possível ter avançado em uma ruptura com o imperialismo, com o não pagamento da dívida externa, por exemplo. Um processo histórico de mudanças poderia ter ocorrido.
O que se passou foi o contrário. Esses governos deram continuidade na aplicação dos planos neoliberais. Também frearam a luta de classes, aproveitando as relações de confiança com os trabalhadores. Hoje, a América Latina está mais dependente da dominação imperialista, e também mais estável do que em 2003.
O argumento dos dirigentes petistas de que a “relação de forças” impediu um avanço  é completamente equivocado.  Lula, em particular, atuou em toda crise aguda com o objetivo de garantir a estabilidade do continente. Atuou em defesa das multinacionais petroleiras na crise da Bolívia, negou-se a apoiar a moratória tímida de Kirchner na Argentina, bloqueou as fronteiras brasileiras às FARCs, pressionou Chávez para um acordo com o imperialismo. Não é por acaso que Condoleeza Rice, secretária de Estado de Bush, afirmou que Lula era um “exemplo para o mundo”.  
Com os governos petistas existiu um avanço das multinacionais instaladas no Brasil sobre a América Latina. O Mercosul, área de livre comércio na qual reinam as multinacionais instaladas no Brasil, se ampliou para o Peru, Colômbia, Equador e Venezuela. A opressão e a exploração de países menores como Bolívia e Paraguai aumentaram.

Uma vergonhosa ocupação
Em 1° de junho de 2004, soldados brasileiros desembarcaram no Haiti, país mais pobre das Américas, para iniciar uma vergonhosa ocupação colonial. O governo atendia a um pedido especial de Bush. Assim, o Brasil cometia uma das maiores vergonhas de nossa história, ocupando militarmente o Haiti a serviço das multinacionais.
As tropas brasileiras lideram a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), sob o mito de realizar uma missão humanitária. Mas as tropas não ajudaram na construção de esgotos, no abastecimento de água ou na saúde do povo haitiano. Sua função é reprimir as mobilizações do povo, como a sublevação contra a fome, em 2008, e a greve têxtil de 2009. Existem também inúmeros estupros comprovados na cidade de Port-Salut, em 2011.
No Haiti, as multinacionais pagam salários de US$ 60 ao mês (R$ 140) produzindo jeans para vender no mercado norte-americano. As tropas brasileiras garantem a estabilidade do país para essas multinacionais.

O Partido dos Trabalhadores em defesa de Israel, Kadafi, Assad…

Outro grande pólo de mobilizações no planeta está no Norte da África e Oriente Médio. Ali, grandes revoluções democráticas derrubaram governos e regimes, instabilizando as maiores regiões produtoras de petróleo do mundo e as ares próximas do Estado sionista de Israel.
Os governos do PT nunca apoiaram efetivamente a luta palestina. Ao contrário, mantiveram e aprofundaram as relações econômicas e militares com Israel. Foi durante o governo Lula que se iniciaram as negociações para o Tratado de Livre Comércio (TLC) entre Israel e o Mercosul, assinado em 2010.
Esse tratado fortaleceu Israel em um momento de crescente isolamento mundial devido ao massacre do povo palestino. Também incrementou o comércio com a indústria armamentista desse país. Entre os dias 9 e 12 de abril foi realizada no Rio de Janeiro, uma Feira de Armamentos, chamada de “Feira da Morte” pelos movimentos sociais de todo o mundo. Nela estiveram presentes empresas armamentistas de Israel. O governo foi anfitrião de todas elas.
Outro episódio vergonhoso dos governos petistas  foi seu apoio as ditaduras de Kadafi, na Líbia, e Assad, na Síria. Nisso representaram interesses das grandes construtoras. A Odebrecht, por exemplo, tinha contratos de US$ 5 bilhões na Líbia, incluindo a construção do aeroporto internacional e um anel viário em Tripoli.

Post author Dirceu Traveso
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