A greve dos metroviários de São Paulo entrou no seu segundo dia com uma adesão de 100% na operação e na manutenção e de 90% nos demais setores. A empresa e o governo do Estado, entretanto, resolveram, de forma irresponsável, manter funcionando parcialmente duas das quatro linhas que operam na cidade – linhas 1 (azul) e 2 (verde).

Em menos de um dia, supervisores, engenheiros e até jornalistas passaram pelo treinamento que os trabalhadores fazem em três meses. Para o Sindicato dos Metroviários, mesmo este período é insuficiente e seriam necessários seis meses de treino antes de um operador começar a atuar.

Os riscos aos usuários são evidentes. Problemas já começaram a surgir. No pátio da estação terminal Jabaquara, da linha 1, um supervisor passou com o trem por cima da máquina de chave virada. Esse dispositivo serve para mudar o sentido dos trilhos. O erro poderia ter causado o descarrilhamento da composição. O equipamento quebrou e o trem teve de ficar parado no pátio até que fosse consertado.

Também no pátio, outro supervisor ultrapassou o sinal vermelho. Se o erro tivesse ocorrido no percurso entre as estações, as conseqüências poderiam ter sido graves, pois o trem bateria na composição da frente.

Para o metroviário Altino, candidato à vice-presidência do sindicato pela chapa de oposição, “isso demonstra claramente o despreparo destas pessoas”. Ele informou, ainda, que presenciou um supervisor tendo contato com a cabine de um trem pela primeira vez no momento exato em ia operá-lo. Na sua avaliação, a falta de treinamento pode causar acidentes e ter conseqüências graves. “Não aconteceu nada desta vez, mas poderia ter acontecido”.

Quem está contra a população é o governo e o Metrô
Em vez de atender às reivindicações dos trabalhadores, o Metrô e o governador José Serra preferem arriscar a segurança da população que usa o Metrô, que são nada menos que três milhões de passageiros por dia. Os metroviários propuseram cumprir o esquema de emergência, trabalhando para manter 85% dos serviços funcionando, desde que as catracas fossem liberadas para a população sem cobrança da tarifa. A sede de lucro, porém, falou mais alto, e se deu preferência por colocar em funcionamento parte do sistema com pessoas despreparadas.

A imprensa vem fazendo uma campanha, a serviço da empresa e do governo, para colocar a população contra os metroviários. Quem está atuando contra a população, contudo, é o Metrô e o governo. Ao não atenderem as reivindicações justas da categoria, eles não estão garantindo o funcionamento do transporte de qualidade.

Se restam dúvidas sobre isso, basta rever o episódio ocorrido na estação da Luz, no final da tarde de quinta-feira, horário de maior movimento. a estação é ponto de transferência para os trens que fazem o transporte para a zona Leste e cidades vizinhas. Cerca de 5 mil usuários foram impedidos de entrar pela Polícia Militar, que agrediu as pessoas a cacetadas.