Em 2011, quase metade do orçamento federal está comprometido com o pagamento das dívidas interna e externa, levando os serviços públicos ao caos.Novecentos e cinquenta e quatro bilhões de reais. Esse é valor total do orçamento público que o governo vai destinar ao pagamento da dívida pública, em 2011. O valor corresponde quase à metade de todo o Orçamento Federal (49,15%), cuja soma total é de R$ 1,940 trilhão.

Todo ano o governo destina boa parte do orçamento público para pagar parcelas e juros das dívidas interna e externa. E quanto mais os governos pagam, mais elas aumentam (veja o gráfico ao lado).

Desde 2003, até o final do governo Lula, foram pagos cerca de R$ 2 trilhões da dívida interna aos banqueiros. Esse valor é muito superior ao que foi pago pelo governo de FHC: R$ 1,23 trilhão. No entanto, hoje a dívida interna ultrapassa os R$ 2 trilhões de reais. Ou seja, o governo pagou em juros e amortizações um valor maior do que a própria dívida, e mesmo assim ela aumentou muito.

Já a dívida externa, saltou de 200 bilhões de dólares, no final de 2009, para US$ 284 bilhões, em maio.

Todo ano o governo faz uma operação conhecida como “refinanciamento”. Ou seja, emite novos títulos da dívida (com taxas de juros altíssimas para atrair os investidores) para o pagamento de títulos que estão vencendo. Assim, mantém os juros altos para seguir atraindo capitais.

Somente nessa operação de “rolagem”, o governo vai gastar, neste ano, R$ 674 bilhões, segundo os cálculos da Auditoria Cidadã da Dívida. De acordo com o relatório mensal da dívida do governo federal, só no mês de junho foram gastos R$ 43,31 bilhões da “rolagem”.

Claro, todo esse dinheiro vem do orçamento público, ou seja, do dinheiro que seria destinado à educação, saúde, reforma agrária, habitação, cultura etc.

Corte nas áreas sociais
O pagamento da dívida assume sua dimensão dramática quando comparamos os valores destinados aos banqueiros com o orçamento previsto para os serviços públicos.

Quando um trabalhador sofre com o caos da saúde pública no Brasil, precisa saber que apenas o pagamento em juros e amortizações e rolagem da dívida faz com que sejam destinados apenas 3,5% do orçamento para a saúde. O funcionalismo público, que luta contra o congelamento de seus salários, precisa saber que os gastos com pessoal, sempre apontados como excessivos pela grande imprensa, representam somente 10,29% do orçamento, quase cinco vezes menos do que é pago aos banqueiros. O aposentado, que tem sua pensão arrochada, deve saber que pagamento da dívida representa 3,4 vezes os gastos previstos com a Previdência Social. Os professores, em greve em vários estados, precisam denunciar que os gastos com a dívida são 16,8 vezes maiores do que toda a verba para a educação em 2011. E os camponeses sem terras, acampados na beira de estradas país afora, precisam saber que o gasto com a dívida é 200 vezes superior a todo orçamento destinado à reforma agrária.

Mas o dinheiro destinado as áreas sociais pode sofrer uma redução ainda maior com o chamado “contigenciamento” de verbas. Isso significa que os valores previstos no orçamento podem ser desviados para o pagamento da dívida. Uma prática que já é bastante comum. Em 2009, por exemplo, o orçamento federal não executou boa parte dos gastos sociais, enquanto os gastos com a dívida foram fortemente aumentados no decorrer do ano, chegando a nada menos que 163% dos valores inicialmente programados, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida.

Portanto, o governo e a grande imprensa mentem descaradamente quando falam que não tem dinheiro para investir em saúde, educação, reforma agrária, reajustar as aposentadorias e os salários dos servidores. Há dinheiro, sim. Mas a metade do bolo vai para os banqueiros.

Bolsa banqueiro
Os governos de Lula e Dilma enchem a boca para dizer que se preocupam com os trabalhadores pobres. Por isso o Bolsa Família é apresentado como uma das maiores realizações do governo. Mas, na verdade, omitem que a o pagamento dos R$ 954 bilhões da dívida pública representam um valor 68 vezes maior do que o dinheiro destinado para o Bolsa Família este ano (R$ 13,9 bilhões). Ou seja, o pagamento das dívidas é o “Bolsa Banqueiro” que Dilma e a grande imprensa tentam esconder.
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