Por quase duas décadas, uma grande campanha varreu o mundo. Uma frase simples – “o socialismo morreu” – repetida aos quatro ventos, parecia soar como verdade, ainda mais acompanhada das imagens da população comemorando a queda das burocracias do Leste europeu.

Articulistas não mediram esforços para louvar as vantagens do capitalismo e o futuro exuberante. Alguns, como Francis Fukuyama, não conseguiram conter a euforia. Tal qual um trovador da Idade Média, que cantava as batalhas em versos, Fukuyama pregou o fim da história e vislumbrou uma nova ordem mundial.

A crise econômica aberta em 2008 calou fundo. A crise na economia veio expor a face do sistema. Junto com milhões de empregos e casas, a farsa veio abaixo.

Procura-se
Os livros do alemão Karl Marx são procurados nas livrarias, tanto por trabalhadores quanto por executivos ávidos por entender o que ocorre no mundo.

Marx é o principal crítico do capitalismo. Dedicou-se a demonstrar como o sistema é voltado ao lucro e à acumulação de capital. Como a burguesia, dona dos meios de produção, explora o proletariado, dono apenas da força de trabalho. O dono da fábrica sabe que paga menos do que o valor do que um operário irá produzir.

Além da exploração, Marx enxergou as contradições do sistema. Demonstrou que a lógica do lucro que move o capitalismo também acelera sua crise. Como na concorrência entre capitalistas, que exige de cada o aumento constante da taxa de lucros, a disputa e os monopólios. Ou na forma como a produção é organizada, com muitos trabalhadores e o lucro em poucas mãos. Marx afirmava que o capitalismo, em sua vitória, trazia os germes de derrota.

Em seu lugar, Marx defendeu uma sociedade sem exploração, com o fim da propriedade privada. Uma sociedade socialista, onde a produção estivesse voltada para todos e não para o lucro de uma classe.

Barbárie
Quando Marx publicou O Capital em 1867, o capitalismo vivia um período de auge, de progresso. A situação é outra. A crise pode virar uma depressão, a exemplo de 1929. Mas o cenário já é de destruição.

Como modo de produção, o capitalismo é a forma atual como a humanidade se relaciona com a natureza, como a transforma. Não é o primeiro a existir. Assim como o feudalismo, que o antecedeu, é parte de um período histórico.

Hoje, o capitalismo nada mais tem a oferecer a humanidade. Uma rápida olhada pelo planeta dá a dimensão do que ele trouxe. Em 2004, uma criança a cada 5 segundos morria de fome. Esse índice pode ter se intensificado, por conta da crise alimentar. A especulação com os alimentos fez com que 925 milhões passassem fome em 2007, contra 850 milhões no ano anterior. Isso antes de 2008, quando os preços dos alimentos subiram drasticamente e despertaram revoltas pelo mundo, inclusive na África, onde a fome, a Aids, as guerras e doenças seculares exterminam a população negra.

O planeta também paga o preço da corrida pelo lucro. Os Estados Unidos continuam lançando gases poluentes, provocando o aquecimento global. A China segue queimando carvão, para garantir a energia às empresas estrangeiras que agem no país. Na floresta amazônica, uma área do tamanho da cidade de São Paulo é derrubada por mês.

Nenhum governante discorda dos cientistas. Mas, conferência após conferência, são incapazes de aprovar um recuo significativo na destruição da natureza.

A tecnologia não é colocada a serviço da humanidade. A cada descoberta, mais trabalhadores ficam sem emprego. Caíram por terra as previsões de um mundo novo, no qual a entrada de máquinas e computadores no trabalho viria acompanhada de mais tempo livre.

Para aquecer a economia e amenizar suas crises, o imperialismo recorre ainda a guerras, como no Iraque. A indústria de armas e petroleiras precisam lucrar, ainda que custe centenas de milhares de vidas.

Com a crise, tudo será agravado brutalmente. Vamos ver milhões a mais de desempregados, mais fome e violência. A barbárie estará presente em cada esquina do mundo.

Utopia capitalista reacionária
O capitalismo está longe de conseguir garantir o essencial: comida e água. A situação é tão crítica que nenhuma meta dos organismos internacionais é levada a sério. Em 2006, enquanto o número de famintos no mundo era de 850 milhões, a ONU fez um pacto para reduzir a fome pela metade, até 2015. No ano seguinte, o diretor-geral Jacques Diouf admitiu que a meta precisaria ser ampliada em… 135 anos.

Medidas assim custariam menos do que a ajuda dos governos dos EUA e da Europa aos bancos e montadoras, de 8 trilhões de dólares. Apenas 1,2 trilhão seria suficiente para acabar com a fome e a miséria no mundo e garantir água.

Diante da crise, governantes apostam em uma maior regulação do mercado e um novo Bretton Woods, o acordo do pós-guerra. Intelectuais da esquerda reformista propõem saídas semelhantes.

Nenhuma destas soluções irá alterar o rumo da economia. Nenhum acordo é capaz de fazer com que a burguesia deixe de produzir visando lucros maiores. Nenhum acordo impedirá o imperialismo de explorar e oprimir os países dominados.

Nada mais utópico do que acreditar que a burguesia aceite reformar o capitalismo. A exploração está na raiz do sistema. Não é possível pedir aos patrões que deixem de explorar os trabalhadores.

O socialismo é a única alternativa realista
O capitalismo, hoje, leva a humanidade para a barbárie. A crise coloca a necessidade de superá-lo, assim como a humanidade já superou outros modos de produção. O socialismo, longe de ser uma utopia, é a única alternativa possível para a humanidade.

O capitalismo não cairá apenas por suas crises, por mais profundas que sejam. Não irá desmoronar sozinho. Ou o proletariado aproveita a seu favor as crises que inevitavelmente ocorrerão, ou surgirá uma nova recuperação do capitalismo. A burguesia, longe de abrir mão do poder econômico, buscará formas de aumentar a exploração e, assim, escapar de mais esta crise.

O socialismo revolucionário se distingue claramente tanto de suas versões stalinistas como social-democratas. O stalinismo não tem nada a ver com o socialismo, pois é a expressão de uma burocracia totalitária que oprime os trabalhadores para poder controlar o aparelho de Estado a serviço de seus interesses materiais. Os sete primeiros anos da revolução russa, antes da burocratização stalinista, quando prevaleceu a democracia dos sovietes, continuam a ser a maior expressão do proletariado no poder. Os trabalhadores discutiam e decidiam todas as questões mais importantes, do plano econômico a ser aplicado até definições sobre a paz.

O socialismo revolucionário também se diferencia do nacionalismo burguês do chavismo e dos governos social-democratas europeus. Esses mantêm a dominação capitalista das multinacionais, a mesma exploração aos trabalhadores.

A história, provavelmente, será dividida entre antes e depois desta crise. Ainda não se conhece sua extensão, nem o seu desfecho. Mas as primeiras lições estão surgindo. A de que o capitalismo conduzirá a humanidade para a barbárie. E a de que o espectro da revolução socialista ronda nossos dias.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 364
Publication Date