Em resposta a um atentado suicida realizado em Jerusalém por um militante do grupo islâmico Hamas, o exército israelense realizou fortes ataques na faixa de Gaza, nos quais feriu o máximo dirigente do Hamas, Abdul Aziz al-Rentisi, e matou 25 palestinos. Estes fatos colocaram em crise o chamado Mapa da Estrada, projeto de George Bush para a região.
O quarteto em cena
O Mapa da Estrada foi apresentado pelo chamado quarteto: o governo dos EUA, a União Européia, o governo russo e a ONU. Seu objetivo é dar uma série de passos para a criação de un Estado palestino independente, com fronteiras e atributos provisórios. Um Estado sem nenhuma soberania e absolutamente inviável economicamente, no qual se confinariam 3 milhões de palestinos. Algo similar aos bantustões sul-africanos, nos quais, na época do apartheid, eram confinados setores da população negra. É a mesma proposta do fracassado plano de paz de Oslo, só que piorada.
Este plano tenta desmontar a bomba de tempo da rebelião do povo palestino ante os reiterados fracassos da sangrenta repressão israelense, num momento em que se complica a ocupação militar do Iraque.
Arafat indica Abu Mazen para testa-de-ferro dos EUA
O primeiro passo desse projeto é fazer com que sejam as próprias autoridades palestinas a reprimir e controlar a luta de seu povo. Apesar do caráter sinistro do plano, este foi aceito pelo máximo dirigente Palestino, Yasser Arafat. Ele, que foi impotente para deter a Intifada, é acusado por Sharon de não ser suficientemente duro, e aceita nomear outro dirigente para que seus policiais cumpram o triste papel de cipayos (as tropas nativas que na Índia colonial reprimiam seu povo a mando dos britânicos).
Apesar de alguma resistência, Arafat aceitou a designação de Abu Mazen (homem de total confiança dos EUA e de Israel) como primeiro ministro. Além disso, corpos policiais palestinos começaram a ser treinados por especialistas ianques. Já não se trata somente do abandono do objetivo inicial da OLP de destruir o Estado de Israel e recuperar o território palestino. Se trata de aceitar os desígnios de Israel e seu controle sobre os territórios ocupados, dos quais deveria retirar-se se fossem cumpridas as resoluções de 1967 da mesma ONU.
O problema para Abu Mazen, o mesmo que teve antes Arafat, é se o povo palestino estará disposto a aceitar tamanha perda de direitos. Caiu muito mal, que na reunião de negociadores patrocinada pelos EUA, Abu Mazen não tenha mencionado, nem uma só vez, o direito de retorno dos refugiados palestinos. Como sintoma do repúdio que inspira esse tipo de negociação, o Mapa da Estrada foi rechaçado por diversos setores palestinos, entre eles, as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, a Frente Popular pela Libertação da Palestina e correntes islâmicas Hamas e Yihad.
A atitude de Sharon
Meio contra à vontade, Sharon aceitou o plano de Bush. Na sua primeira etapa, este apenas exigia de Israel medidas de colaboração basicamente em dois aspectos: começar a liberar os presos palestinos das cadeias e campos de concentração israelenses e iniciar o desmonte dos assentamentos ilegais de colonos judeus (cuja cifra cresceu de 70 mil para 200mil na última década) em territórios que pertencem à Autoridade Palestina. Sharon está fazendo uma manobra: ao diferenciar assentamentos ilegais (ou seja, os que o governo sionista não alentou) dos demais, ele está dizendo que não vai retirar os cerca de 200 mil colonos instalados nos últimos anos em terras da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém. Ainda assim, este último ponto é um dos que geram mais contradições e oposição interna a Sharon. Por isso, apenas fez cenas teatrais para mover traillers instalados por colonos perto de cidades palestinas, como se fossem colônias, e ainda assim teve que retirar alguns fanáticos deles. Em relação aos presos, apenas liberou 61 dos 6 mil.
O verdadeiro significado deste Mapa da Estrada para o governo Sharon está representado por um muro de cimento de 347 Km, que começou a ser construído na Cisjordânia. Este muro está rodeado por trincheiras, fossos, cabos eletrificados e nem sequer respeita as fronteiras de 1967. Em muitos lugares se mete por seis ou sete Km dentro do território designado aos palestinos e gera situações como as da cidade de Qalqiya, cujas casas se encontram de um lado do muro e suas terras de cultivo do outro. Assim se entende porque o projeto fala de fronteiras provisórias.
E, para que não reste dúvidas, Sharon esclareceu que continuará atacando os palestinos utilizando do terror de estado: Israel não tem intenção de mudar a política de atacar aos chefes terroristas e não esperará que a segurança palestina ponha fim aos atentados. Sharon não faz mais do que levar ao extremo a lógica do Mapa da Estrada: um plano contra o povo palestino para legalizar a ocupação e não para pacificar palestinos e Israel.
É possível a paz?
Como já assinalamos, os últimos fatos colocaram em crise o projeto do Mapa da Estrada. A maioria da imprensa mundial responsabiliza aos extremistas islâmicos palestinos e a intransigência do governo de Israel por não haver paz. Inclusive, muitas correntes que se reivindicam de esquerda dizem que a única saída possível é a construção de dois Estados separados e soberanos.
Nós, da LIT-QI, somos totalmente contrários a esta posição. A raiz da violência na região é a sangrenta usurpação da terra do povo palestino e a construção de um enclave militar, o Estado de Israel, que atua como um verdadeiro gendarme (tropa de choque), armado até os dentes, financiado pelo imperialismo e ao serviço dele. Sua função não é só atacar os palestinos, mas também ameaçar o conjunto dos povos árabes, como mostraram em todas as guerras no Oriente Médio.
Por isso, não há nenhuma possibilidade de paz nessa região enquanto exista o Estado de Israel. A verdadeira paz só poderá ser conquistada com sua destruição e com a construção, como propunha originariamente a OLP, de um Estado Palestino laico, democrático e não racista.
Estamos convencidos de que a luta do povo palestino e dos demais povos árabes não apenas liquidará este Mapa da Estrada, mas também fará possível este objetivo.
Post author Alejandro Iturbe
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