A maioria, porém, não aceitaria reduzir salário ou direito em troca da manutenção do empregoA crise econômica está rapidamente saindo das páginas dos jornais para ser parte do cotidiano dos trabalhadores. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada nesse dia 20 de março pela Folha de S. Paulo, aumentou a percepção da crise entre os brasileiros. Em novembro do ano passado, 72% dos pesquisados tinham conhecimento da crise. Agora esse percentual é de 81%.

A pesquisa foi realizada entre 16 e 19 de março, em 371 municípios de 25 estados, abarcando 11.204 entrevistados. A margem de erro é de dois pontos, para cima ou para baixo.

Ainda segundo a pesquisa, 59% dos entrevistados acham que o desemprego vai crescer no próximo período. O tema é apontado como o principal problema enfrentado pelo país, seguido pela Saúde.

Chama a atenção, porém, o percentual de pessoas que concordaria em abrir mão de direitos trabalhistas em troca de garantia de emprego. De acordo com a pesquisa, 60% não aceitariam, contra 40%, que concordariam com tal medida. Índice semelhante aos que concordariam ou não em reduzir salários para manter os empregos. 59% não aceitariam, contra 41%. Isso mostra que, apesar de toda a campanha da mídia e empresários, além da política de centrais como CUT e Força Sindical, a maioria da população não acredita que menos direitos e salários seja sinônimo de mais empregos.

A crise e o governo
Aumentou também o número de pessoas que acham que o país será muito afetado pela crise, de 20% para 31%. O governo Lula, por sua vez, não passou incólume. Diminui o percentual de pessoas que aprovam suas medidas contra a crise. De 49% para 43%. Já a taxa de reprovação do governo subiu de 9% para 13%.

Reflexo disso, a popularidade do governo Lula, ou seja, o percentual que o considera bom ou ótimo, caiu de 70% para 65%, entre novembro e março. Resultado parecido com o divulgado pelo Ibope na tarde do dia 20, que mostra queda na avaliação positiva de 73% em dezembro para 64%.

Apesar da desproporção entre a percepção da crise e a popularidade do governo, a pesquisa revela que Lula não está imune e que, cada vez mais, a população associa os seus efeitos com o governo.

Como a crise apenas começou por aqui, e todas as previsões indicam que ela se aprofundará ainda mais, muito provavelmente esse “deslocamento” não resistirá por muito tempo. Lula manteve sua popularidade até agora, em grande parte, devido ao crescimento econômico dos últimos anos. Em tempos de recessão, sua real política será desnudada de vez.