Rosely Roth, ativista lésbica, denunciando atitudes descriminatórias do bar
Redação

Este mês é marcado por duas datas importantes para as mulheres homo, bi e transexuais: o dia 29 de agosto, dia da Visibilidade Lésbica e Bissexual, e o dia 19 de agosto, do Orgulho Sapatão

O dia 19 de agosto é lembrado como o Dia do Orgulho Lésbico. Nessa data, em 1983, aconteceu, em São Paulo, o primeiro ato protagonizado por lésbicas no Brasil. Há 33 anos, algumas corajosas mulheres, que contaram com o apoio de militantes feministas e do movimento homossexual brasileiro, ocuparam o Ferro’s Bar. Ele era tradicionalmente frequentado por essas mulheres, mas, dias antes, parte delas foi expulsa do local. Elas discursavam em defesa da liberdade e da igualdade de direitos, propagandeando o boletim, o “Chana com Chana”.
No dia 19, convocaram a imprensa e protestaram em frente ao bar. Mais uma vez proibidas de entrar, invadiram o local e levaram o dono do estabelecimento a rever sua postura e a se desculpar. O Grupo de Ação Lésbico Feminista (Galf), denunciou amplamente a discriminação sofrida.
Já o 29 de agosto foi escolhido como o Dia da Visibilidade Lésbica num Seminário Nacional de Mulheres Lésbicas que ocorreu no Rio de Janeiro.
História de resistência
A história do movimento lésbico e bissexual, tal como nossa realidade cotidiana, é de invisibilidade, mas temos uma história de lutas, resistência e ousadia.
No Brasil, desde sempre a homossexualidade e a travestilidade foram atacadas sob os interesses dos ricos e poderosos. Há registros de índias tupinambás, em 1576, que se comunicam como marido e mulher. Nessa tribo, existia a palavra “çacoaimbeguira” para falar das mulheres lésbicas. No dialeto africano yourumba, da Nigéria, tinha a palavra “aló” para o mesmo fim. Somente em 1894, o termo “lesbia” foi utilizado no vocabulário brasileiro.
Em Portugal, a sodomia era pecado e crime grave, tendo recebido quase cinco mil denúncias de lésbicas e gays luso-brasileiros, prendido 400 pessoas e queimado ao menos 30 nas fogueiras. Em 1592, a costureira Felipa de Souza foi a primeira lésbica a ser açoitada em praça pública no Brasil, sendo depois expulsa da Bahia. Centenas (ou talvez milhares) de LGBTs foram perseguidas pelos colonizadores enquanto os mesmos estupravam mulheres e homens indígenas e afrodescendentes.
 A luta hoje
De lá para cá, as trabalhadoras lésbicas e bissexuais fizeram parte da formação do movimento operário, feminista e negro brasileiros, se fortalecendo e os fortalecendo. Foram parte da primeira organização LGBT brasileira, o grupo Somos, e cumpriram importante papel na luta pelo fim da ditadura e pelas liberdades individuais e, mais recentemente, na luta contra Feliciano, Bolsonaro e Cunha, nas lutas contra o ajuste fiscal e a retirada de direitos e enfrentamentos de diversas categorias. Hoje, não se calam diante dos ataques promovidos por mais de uma década pelos governos do PT e, agora, por Temer (PMDB).
Protagonismo: LGBTs estão indo à luta
Estamos vivendo um momento de muitas lutas e mobilizações. Em meio a isso tudo, as LGBTs estão saindo do armário e reivindicando sua identidade. As mulheres não se calam mais frente ao machismo. O povo negro está assumindo sua negritude. O protagonismo dos oprimidos em muitas lutas tem sido cada vez mais jovem, feminino, negro e LGBT.
Queremos lembrar que sapatão também fez história e construiu parte do que hoje temos de direitos e de visibilidade. É preciso fortalecer a organização das mulheres lésbicas trabalhadoras, a autoafirmação e unificar as lutas com o conjunto dos trabalhadores e dos oprimidos. Também vale lembrar das muitas pessoas que são trans que também são lésbicas. Elas também estão se organizando e resistindo.
O Brasil é campeão em assassinatos de LGBTs e também continua entre os dez primeiros países onde há mais feminicídio. Há muita luta para travar. Queremos, em breve, deixar de falar em (in)visibilidade diante do descaso que sofremos no dia a dia. Queremos falar em orgulho sendo não apenas toleradas, mas respeitadas. Queremos deixar de ser subjugadas no trabalho, de viver com ameaças de estupro corretivo, sofrendo assédio moral e sexual e sendo expulsas de casa ou humilhadas constantemente. Queremos viver plenamente.