O leilão da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) que seria realizado nesse dia 26, quarta-feira, foi suspenso. Nenhuma empresa habilitada a participar da privatização depositou a garantia obrigatória de R$ 1,74 bilhão na Bovespa. O depósito deveria ser feito até as 12h do dia 25.
As empresas alegaram incerteza na renovação dos contratos de concessão de duas das seis hidrelétricas administradas pela Cesp, a de Jupiá e a de Ilha Solteira. As concessões dessas hidrelétricas vencem em 2015. Diante disso, argumentaram que o valor mínimo do leilão, de R$ 6,6 bilhões era muito alto.
Ante o cancelamento do leilão, as ações da empresa despencaram mais 16%. Apesar da justificativa das empresas envolvidas na privatização, o valor oferecido pelo governo Serra representava menos da metade do preço da estatal, avaliado pelo banco Citibank em R$ 15 bilhões. Já o sindicato dos eletricitários de São Paulo estipulou o valor da empresa em R$ 21 bilhões.
A suspensão do leilão ocorre um dia após dois protestos terem bloqueado as rodovias que dão acesso às hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera. Apesar de representar uma dura derrota ao governo Serra e ao próprio governo federal, que auxiliava o tucano na privatização, tudo leva a crer que o cancelamento do leilão é uma manobra para depreciar ainda mais o preço da estatal.
Governo Lula ajuda no leilão
O governador José Serra (PSDB), por um lado, tenta construir desde já a sua campanha para a presidência, em 2010. A venda da estatal representa o início de uma série de obras que, obviamente, serão creditadas à gestão tucana, como um ato de progresso.
Os créditos desse saque à população paulista e brasileira, no entanto, não são apenas de Serra. O governo Lula deu um “empurrãozinho” no último dia 19 de março, quando o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, assinou a portaria nº 110/2008, renovando pelos próximos 20 anos a concessão “para o aproveitamento de energia hidráulica de trecho do Rio Paraná, compreendido entre a Usina de Jupiá e a confluência do Rio Paranapanema, nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, denominado Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (UHE Porto Primavera)”, segundo o texto da própria portaria.
Além disso, o BNDES vai emprestar de 30% a 40% do valor ao vencedor do leilão, ou seja, além de jogar um patrimônio público nas mãos de multinacionais, o Estado ainda vai pagar por isso.
Manifestação dia 26 contra a privatização
Apesar do cancelamento do leilão da Cesp, o governo Serra se mostra resignado a privatizar a Cesp, além de outras estatais. Diante disso, a Frente Paulista em Defesa dos Serviços Públicos, que reúne um amplo espectro de entidades e centrais, vai manter o protesto marcado para o dia 26 de março, contra o leilão da Cesp e as privatizações.
O ato tem início às 8 horas no Largo São Bento, centro de São Paulo.