Juventude negra: chega de violência
“Vai! Vai vem! Vem vai carnificina!
Várias e várias chachinas.
Pavilhão! Sangue, protesto, veneno letal!
Como posso desse modo viver na moral
Se a violência rola de forma banal.“
Pavilhão 9
O racismo não apenas discrimina e oprime a maioria da população do Brasil. Ele também mata. Expulsos do mercado de trabalho, impedidos de freqüentar os bancos escolares e vivendo em áreas sem condições dignas de vida ou opções de lazer, os jovens negros são as vítimas preferencias da violência que tem assolado o país. Um dado que nem sequer a burguesia consegue esconder, como fica evidente em uma manchete publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 17 de maio de 1998: “Branco morre do coração, negro a bala“.
O artigo refere-se a uma pesquisa feita pela Universidade de S. Paulo onde se constatou que os homicídios provocados por arma de fogo são a principal causa de morte entre os negros (7,5% morrem desta forma), enquanto constituem a quinta causa dos óbitos entre os brancos (2,8%). E pior, quanto mais jovem, maior a possibilidade de morrer com uma bala na cabeça: 41,7% dos negros pesquisados morreram entre os 20 e 49 anos, contra 22,8% dos brancos.
Num país onde qualquer negro é “suspeito até que se prove o contrário“, não é preciso muito esforço para saber quem dispara boa parte destes tiros. Há muito se sabe que por trás das chacinas estão assassinos pagos e policiais a serviço da burguesia e do crime organizado. Um fato que foi comprovado por Caco Barcellos, no livro Rota 66, que demonstrou que, em S. Paulo, 70% dos adolescentes mortos por grupos de extermínio são negros e que, entre as vítimas da Polícia Miltiar, 48,14% são negros, embora a maioria dos indiciados nos inquéritos, seja branca (68% nos casos de assalto; 65% nos casos de homicídios).
Esse verdadeiro extermínio da população negra, contudo, começa muito antes de os jovens negros atinjam a adolescência. Segundo dados recentes da Unicef, no Brasil de cada grupo de duas mil crianças carentes, nada menos do que 1.600 são negras. Crescendo em um ambiente cercado pela miséria, a falta de oportunidades e perspectivas, as chances de que estas crianças sejam “engolidas“ pela violência são enormes.
Marca registrada da degeneração das relações sociais que caracteriza o mundo atual, a violência, contudo – seja aquela praticada contra os jovens negros ou a população em geral – só terá um fim quando derrubarmos o sistema que a alimenta e que dela se beneficia: o selvagem capitalismo, que trata a todos como “mercadorias“ descartáveis.
Até que isso aconteça, no entanto, não podemos permitir que nossos jovens continuem sendo mortos aos milhares ou vivam em situação degradante nos bairros da periferia. Por isso, nós Negros e Negras do PSTU não só nos solidarizamos com os agrupamentos de jovens que têm surgido nas comunidades populares (geralmente em torno de propostas artísticas e culturais, particularmente vinculadas ao movimento Hip-Hop) que questionam este sistema através de sua arte e música, como propomos, a exemplo do que está sendo defendido pelo Movimento Hip-Hop Organizados do Ceará (MH2O), que se forme um grande movimento contracultural, que tenha como objetivo uma radical transformação sociedade, a única forma de garantir um futuro para a juventude negra.