Em uma entrevista realizada um dia após as eleições presidenciais, o sociólogo norte-americano James Petras expõe suas primeiras impressões sobre o processo eleitoral brasileiro. Publicamos a abaixo alguns dos principais trechos da entrevista para a rádio Centenário, do Uruguai, que pode ser lida integralmente no Portal Rebelion

Explique o que se passou ontem nas eleições brasileiras.
Bem, é um resultado não muito longe do que antecipamos, com algumas pequenas diferenças que devemos analisar. Primeiro, o grande fato importante é que o senhor Lula da Silva conseguiu 48% dos votos e isso significa que é quase majoritário. O segundo resultado é que a direita subiu para algo em torno de 40% dos votos, aumentou bastante em relação às expectativas anteriores.

Isso são fatos óbvios neste momento. Agora, como explicamos a baixa relativa de Lula? Acredito que existem dois fatores importantes. Um é o fato óbvio da corrupção e a publicidade que recebeu e a extensão da corrupção nos círculos mais íntimos de Lula (…).
O segundo ponto, para as classes populares e acredito que talvez em menor grau, foi à ausência de Lula do debate de quinta-feira antes das eleições, onde ficou o assento vazio enquanto os outros candidatos estavam discutindo idéias. Este tipo de soberba frente ao público me parece que era algo inaceitável para muita gente (…) Lula, pensando que já tinha os resultados no bolso, acreditou que não tinha obrigação de discutir seu programa e muito menos debater idéias (…).

Isso é culpa de Lula ou de seus assessores?
Veja, isso de culpar sempre os assessores… Me parece que Lula elege seus assessores, os contrata, paga, os descarta como se fosse papel higiênico. Se fazem algo errado sempre são os corruptos de sua assessoria, seu partido ou sua cúpula, seus mais íntimos colaboradores… Isso não seve para nada, é Lula, Lula é um caudilho e há que dizer isso, ele é que decide as coisas, com seu dedo. Se não está de acordo com Lula, vai embora. Há tolerância zero para qualquer discrepância. Ele é um homem bastante autoritário em seu estilo pessoal. Não foi sempre assim, mas nos últimos tempos com o culto da personalidade do caudilho é. (…) Não se preocupa com os demais porque é um líder que só busca seus próprios interesses independentemente de seus seguidores de 30 anos. Não quero culpar somente ele, isso é parte de um processo político, da transformação do PT em um tipo de Frente Ampla (coligação política uruguaia que reúne a esquerda reformista do país) estilo tropical. (…) para mim o mais importante é que Lula desarticulou toda a esquerda e o movimento popular.

Veja que Collor está eleito em Alagoas. O corrupto e latifundiário Collor volta de Alagoas no lugar da senadora Heloísa Helena, que era candidata.
Há que se dizer que baixaram as expectativas de Heloísa Helena. Ela tinha 10% e baixou para 7%. Não é uma grande margem, mas algo positivo em relação ao cenário anterior, quando não existia uma esquerda em relação ao PT. E, contra todas as tendências, e a tendência principal que é a da direitização.

Lula desarticulou tudo o que era o movimento popular, a CUT é um braço do Ministério de Trabalho, o MST está dividido, dizem que dão apoio crítico a Lula, mas esse é um apoio crítico a um neoliberal e corrupto. Parece-me outra indicação da desorientação política do MST, que foi grande autoridade moral da esquerda por 25 anos. Lula criou todo um bloqueio e as pessoas agora já não têm realmente um referencial de esquerda a nível nacional. Existe Heloísa Helena, existe o PSOL, o novo sindicato Conlutas, mas as grandes tendências vão até a direita. Lula legitimou o neoliberalismo, aprofundou as privatizações e esta política do Bolsa Família qualquer político conservador pode continuar sem nenhum problema. (…)

Há intelectuais como Emir Sader e Frei Betto que perderam completamente o conceito de esquerda, apoiando um (governo) que apóia a invasão de Haiti, um grande proponente do livre mercado e a favor do assistencialismo. Acredito que o ponto de vista classista, o ponto de vista político de esquerda já está mais obscuro que inclusive antes da ditadura. Perderam historicamente uma grande referência e acredito que no Brasil as coisas no próximo período, ganhe ou não Lula, estarão marchando cada vez mais à direita. (…)

Fale do próximo governo de Lula então. Você acredita que Lula ganhe?
Sim, eu acredito que vá ganhar por cálculos matemáticos. Nunca se sabe, mas o cálculo matemático é que um setor que votou na esquerda, em Heloísa Helena e outros, vão apertar o nariz e votar em Lula. Creio que ele vai ganhar, não por muita margem, mas por uns 52% ou 53% contra 47%. O segundo governo de Lula vai ser mais à direita, ainda. Os apologistas como Frei Betto e os demais vão culpar outra vez a minoria que possuirão no Congresso, a necessidade de pactuar com a direita para as privatizações da Previdência social e outros grandes fundos. Outro tema é que aceite a agenda do que se chama a reforma do Estado. Assim, haverá demissões massivas de empregados públicos, uma redução da estrutura estatal e a continuidade da terceirização de serviços.

Leia a entrevista completa (em espanhol)