A ação de infiltrados e provocadores em manifestações não é exatamente uma novidade. É uma prática muito antiga, usada em guerras quando se trata de atacar um “exército inimigo”. Quando os trabalhadores tomaram o poder na Rússia, puderam examinar com detalhes os arquivos da Okhrana, que era a então polícia secreta do Czar. Tal estudo resultou num brilhante livro de Victor Serge, com o sugestivo título: “O que todo revolucionário deve saber sobre a repressão” [1]. De fato, a leitura deste livro é muito recomendável a qualquer revolucionário. Lá observa-se vários métodos usados pelos policiais até os dias atuais.
 
Um dos métodos já apontado por Serge é a infiltração de agentes provocadores. Eles podem ser policiais ou pessoas que debandaram de lado, o que na ditadura militar brasileira chamavam de “cachorros”. O traidor mais celebre é o chamado Cabo Anselmo. Ele foi responsável pela morte da sua então companheira, que estava grávida de um filho seu. Isso mostra que tais traidores não têm qualquer limite moral. Entregam para a morte até mesmo a esposa e o filho.
 
Outro emblemático caso da ditadura brasileira foi o patético atentado ao Rio-Centro, em que agentes atrapalhados tentavam colocar uma bomba e esta, literalmente, explodiu no colo dos provocadores. A presepada deixou claro que a ditadura pretendia provocar um ato de terrorismo para depois justificar mais repressão.
 
Recentemente, numa greve de professores de São Paulo, foi fotografado um indivíduo a paisana, de barba, supostamente professor, carregando uma policial ferida num confronto. Mais tarde, a própria polícia confirmou tratar-se de um policial militar infiltrado. Nos atuais atos, que começaram em junho, todos os órgãos de repressão admitem ter infiltrados, desde as polícias militares, federal e civis, até a ABIN.
 
Recentes vídeos, que estão circulando massivamente pela internet, demonstram que é possível que estes infiltrados estejam agindo como provocadores. Observando as imagens, é possível crer que o coquetel molotov, que atingiu um policial no Rio de Janeiro no dia 22, teria sido lançado por um provocador infiltrados. Surge, assim, de imediato um questionamento sobre tal método de infiltração nos movimentos sociais, pois isso é absolutamente incompatível com o mínimo que se possa chamar de “Estado Democrático de Direito”. 
 
O decreto do governador Sérgio Cabral sobre este tema já foi amplamente rechaçado, inclusive pela OAB. Na medida em que tais métodos são utilizados, surge um questionamento sobre a própria validade das “investigações”. Na verdade, está havendo uma ação coordenada para incriminar os movimentos sociais.
 
Do ponto de vista estratégico, deve-se compreender a lógica que norteia estas ações “radicalizadas” de provocadores. Isso passa por um método que é completamente descolado do sentimento das massas. Quando uma ação é tomada em descompasso com o nível de consciência da classe trabalhadora, age em desconstrução da luta, pois joga a população contra as ações supostamente praticadas pelo movimento. Por outro lado, cria uma coesão entre as tropas repressoras.
 
Apostar na divisão das tropas de repressão é uma das formas de haver a vitória dos trabalhadores na luta de classes. Contraditoriamente, o soldado vive materialmente como grande parte da classe, inclusive aqueles que ele reprime nas manifestações. Seus amigos e parentes são parte do conjunto da classe. Por isso, já afloram casos em que soldados não aceitam ordens absurdas.
 
Nesse sentido, entramos em polêmica aberta com grupos anarquistas e ultraesquerdistas, pois para tais grupos, devemos tratar cada indivíduo que seja policial como um reacionário irrecuperável. A cada nível da luta a classe, seus métodos avançam. Devemos ser rigorosos e respeitar tal ritmo, sob pena de jogarmos a classe no colo da polícia e da burguesia, apoiada pela mídia burguesa.
 
Convocar a base das forças repressivas foi um método usado em várias revoluções. Lênin exemplifica isto na revolução de 1905 [2], quando a massa, fazendo barricadas, chamou os cossacos para o lado da revolução.
 
 
NOTAS:
[1] Cf.: http://www.marxists.org/portugues/serge/1926/repressao_ga/index.htm
[2] Cf.: “As Lições da Insurreição de Moscovo” In: http://www.marxists.org/portugues/lenin/1906/08/29.htm