O governo do premiê italiano, Silvio Berlusconi, enfrenta uma serie crise que poderá derrubá-lo do poder. Além de inúmeros escândalos de corrupção e sexuais, o premiê enfrenta uma sucessão de protestos contra as medidas de austeridades para reduzir o déficit fiscal do estado. O ataque do governo prevê um corte de verbas de 25 bilhões de euros em prol da austeridade fiscal. Os primeiros ataques já estão sendo respondidos pelos estudantes. No dia 14 de dezembro, Berlusconi enfrentará duas votações de moções de confiança nas duas instâncias do Parlamento, o Senado e na Câmara dos Deputados. Uma derrota em qualquer uma delas o forçaria a renunciar e, possivelmente, resultaria na antecipação das eleições. Leia abaixo um artigo publicado pelo O Partido de Alternativa Comunista (PdAC, secção italiana da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), que faz uma análise dos protestos do dia 30 de novembro. De lá pra cá, outros protestos sacudiram o país. O último foi realizado no dia 11.

Fonte: http://www.litci.org/pt/

Depois das mobilizações da semana passada, cuja radicalidade está eficazmente sintetizada nas imagens dos estudantes que investiram contra o Senado Italiano, as lutas contra o Decreto-lei Gelmini (Atual ministra da educação de Berlusconi) explodiram de novo com força na terça-feira, 30 de novembro, dia da votação final do documento. Pelo menos, um milhão de estudantes, pesquisadores, precários e docentes saíram às ruas para dizer não aos cortes e à drástica aceleração dos processos de privatização do ensino público. Depois do corte no Ensino de 180 mil trabalhadores precários, do congelamento dos salários dos trabalhadores do serviço público (professores e pesquisadores incluídos), da destruição do ensino público secundário com a chamada “reforma” das escolas superiores, é agora a vez da destruição definitiva do Ensino Superior público.

Centro-direita e centro-esquerda unidos nas privatizações
Depois de décadas de leis bipartidárias (de Berlinguer e Fioroni no centro-esquerda e de Moratti e Gelmini no centro-direita), que desmantelaram o ensino público e aceleraram os processos de privatização, hoje o governo Berlusconi desfere o golpe final à Universidade estatal. O Decreto-lei aprovado prevê o corte drástico dos financiamentos às universidades. As que se encontra com os orçamentos no vermelho não só não verão os seus recursos econômicos redimensionados, mas arriscam-se mesmo serem entregues a comissões. Serão introduzidos em todas as Universidades Comissões de Administração abertas à participação de empresas, que transformarão o ensino universitário numa oportunidade de investimento para o capital privado. A consequência imediata será um aumento estratosférico das taxas universitárias. Para compensar os cortes do governo, as taxas aumentarão substancialmente, com a consequente impossibilidade para os filhos da classe operária de terem uma formação universitária.

Tudo isto é o resultado lógico das leis de autonomia promulgadas anteriormente pelos governos de centro-esquerda. Por esta razão são também hipócritas e ridículas as afirmações de Bersani, de Vendola, de Di Pietro e Ferrero em apoio aos pesquisadores e aos estudantes. Para dar apenas um exemplo, o decreto que pela primeira vez transformou os institutos escolares (escolas de ensino profissional superior) em fundações de direito privado tem o nome do próprio Bersani.

A tudo isto se adicionam, quer os cortes das bolsas de estudo (até já se fala apenas de alguns “empréstimos” para os mais… “meritórios”), quer o congelamento das contratações por tempo indeterminado dos pesquisadores (fala-se de contratos trianuais renováveis apenas por duas vezes, depois ou se passa ao quadro de efetivos – perspectiva decididamente improvável, tendo em conta o turnover – ou se é despedido). A piada está no fato de que, enquanto aumenta a carga de trabalho para os docentes precários, diminuem os salários e as garantias para o futuro, pois está ocorrendo uma demissão de milhares de bolsistas e doutorandos, que durante décadas desenvolveram atividades de pesquisa, a troco de umas míseras bolsas de estudo.

A explosão das lutas: um aviso para governos e patronato
Em toda Europa, as lutas estudantis estão a irromper com uma força que há décadas não se via. Em Londres, as manifestações estudantis são quase quotidianas, com inúmeras investidas contra os edifícios do governo. Na França, em todas as cidades, existem coordenações de luta entre operários e estudantes. Também em Itália, nestes dias, as massas estudantis, em conjunto com pesquisadores e docentes precários, invadiram as estradas, as avenidas e as praças das principais cidades italianas.

Apenas na terça-feira, centenas de milhares de jovens, parafraseando um dos slogans lançados nestes dias, “bloquearam as cidades”. Em Bolonha, milhares de estudantes criaram uma barreira humana na estrada. Em Pisa, Génova, Pádua e Cosenza, as estações dos trens foram invadidas pela onda estudantil. Foram centenas e centenas as faculdades e os institutos superiores ocupados. Mobilizaram-se também os centros universitários, como os de Bérgamo e Brescia, que nas últimas décadas não tinham conhecido qualquer movimento de protesto. Claramente, a força de colisão das lutas estudantis ignora o endurecimento das leis de segurança desejadas por Maroni (com graves sanções penais para aqueles que bloqueiem o trânsito e as estradas). Esta é a demonstração de que apenas com a mobilização das massas se pode reverter as relações de força. Como na semana passada, o centro do protesto é Roma. Os estudantes, em massa, cercaram o Parlamento; a polícia, na base da força, travou a enchente humana, impedindo o ingresso no Montecitorio (sede da camara dos deputados) com a colocação de viaturas. Mas os estudantes não pararam e procuraram derrubá-las.

E agora, greve!
As palavras de ordem dos estudantes demonstram uma maior consciência em relação aos anos passados. As derrotas recentes, incluindo a aprovação do Decreto-lei, precisamente na terça-feira passada, demonstram aos jovens que não é lícito esperar seja o que for dos partidos do governo, nem dos seus interlocutores parlamentares e governamentais. Por isso, hoje os estudantes gritam: “nós não pagaremos a crise” ou “voltemos a agarrar o futuro”. Por entre as palavras de ordem, está a consciência fundamental de que este sistema econômico e social nada tem para oferecer às jovens gerações. Mas nenhuma reivindicação poderá ser ouvida ou ser vitoriosa, se a luta dos estudantes não se aliar à dos trabalhadores. É necessário construir uma grande greve geral europeia, a partir da qual dar vida a um movimento de lutas de modo a que, em conjunto com a ocupação das fábricas e a criação de comitês de luta em todos os locais de trabalho, se transformem as relações de força a favor das massas proletárias. A crise do capitalismo mostra, na pele dos jovens e dos operários, que apenas a ruína deste sistema econômico e a construção de uma economia socialista podem garantir um futuro às jovens gerações