É a maior greve desde a privatização da empresa em 1994

Os hangares da Embraer, na unidade Faria Lima, em São José dos Campos (SP), estão vazios e silenciosos há três dias. É o resultado da greve por tempo indeterminado, deflagrada por cerca de 10 mil trabalhadores da empresa desde a última quarta-feira, dia 5.

Nesta sexta-feira, dia 7, os ônibus chegaram quase todos vazios.

Alguns poucos trabalhadores foram à fábrica saber se há novidades na negociação. Mas, nem bem chegavam, voltavam para suas casas.

É a maior paralisação na fabricante de aeronaves, desde a sua privatização em 1994.

A indignação com o desrespeito da Embraer é geral entre os funcionários. A empresa segue com uma postura totalmente intransigente, ignorando as reivindicações dos trabalhadores e sem querer negociar.

A categoria reivindica 10% de reajuste salarial, sendo 3,43% de aumento real, o congelamento do valor do desconto do convênio médico (que a Embraer quer dobrar) e estabilidade no emprego. Já a empresa oferece apenas 7,4%, o que equivale a 1% de aumento real, índice muito abaixo do que os trabalhadores de outras fábricas da região já conquistaram.

Ganância e exploração
A tentativa da Embraer em impor um reajuste rebaixado, contraditoriamente, ocorre em um momento em que a empresa está em ótima situação financeira.

No primeiro semestre deste ano, o lucro da Embraer cresceu 955% em relação ao mesmo período de 2013. A carteira de pedidos firmes de aeronaves chegou ao fim do terceiro trimestre deste ano em US$ 22,1 bilhões, o maior patamar da história da empresa. O avanço na comparação com o segundo trimestre foi de 22,1%.

Recentemente a Embraer apresentou o protótipo do cargueiro KC 390, desenvolvido em parceria com a Força Área Brasileira e que terá 28 unidades adquiridas pelo governo federal. Apenas na compra do KC-390, o governo vai desembolsar R$ 7,2 bilhões. Há intenções de compra do modelo também pela Argentina, Chile, Colômbia, Portugal e República Tcheca. Já na compra e desenvolvimento dos caças Gripen, que também envolve a Embraer, serão gastos US$ 5,4 bilhões.

Aliás, é com a generosa ajuda do governo federal que a Embraer tem garantido seus lucros. Entre 1997 e 2008, o BNDES desembolsou US$ 8,39 bilhões para que a Embraer colocasse seus aviões no mercado internacional. Somente em 2013, a empresa deixou de pagar R$ 300 milhões em impostos por causa da desoneração da folha de pagamento. Há ainda outros programas de incentivos, como o Reintegra, Drawback e Inova Aerodefesa.

Governo Dilma tem de cobrar responsabilidade social da empresa
A Embraer foi uma estatal construída com o dinheiro do público dos impostos pagos pela população brasileira. Privatizada por um valor irrisório, R$ 154,1 milhões, hoje está avaliada em cerca de R$ 20,4 bilhões, mas a empresa nunca deixou de depender do governo. Vale lembrar que um dos argumentos usados pelo governo para defender a privatização era justamente a falta de recursos para investir na empresa.

É inadmissível que uma empresa privada que recebe tanto dinheiro público imponha a seus funcionários tanta exploração. É por isso que o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, filiado à CSP-Conlutas, enviou, nesta sexta, uma carta ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e ao ministro da Defesa, Celso Amorim, solicitando uma audiência urgente para discutir o assunto.

O governo federal beneficia generosamente a Embraer com financiamento público e isenção de impostos. É também um dos acionistas da empresa, com ações Golden Share com poder de decisão. Não pode ser que feche os olhos a essa situação de impasse, ameaçando que os trabalhadores fiquem sem um Acordo Coletivo de Trabalho”, afirmou o vice-presidente do Sindicato e trabalhador da Embraer, Herbert Claros.

Este não é um assunto meramente sindical. A Embraer recebe todo tipo de benefícios do governo e tem de assumir suas responsabilidades sociais. O Sindicato continua aberto ao diálogo, mas exige que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e que o governo interceda neste sentido”, afirmou Herbert.

Solidariedade
Neste momento, a solidariedade é fundamental para fortalecer a luta dos trabalhadores da Embraer e pressionar a empresa e o governo para atenderem as reividnicações.

O Sindicato dos Metalúrgicos pede o envio de moções de apoio à greve e contra a postura intransigente da Embraer.  A moção deve ser enviada para os seguintes e-mails:

Sindicato: [email protected]

Presidente da Embraer, Fred Curado: [email protected]

Relações Trabalhistas da Embraer: [email protected]

Uma campanha nas redes sociais também teve início. Poste sua foto com um cartaz com frases apoiando a histórica greve dos trabalhadores da Embraer com a hastag #TAMOJUNTO. Mande uma cópia para o Sindicato: [email protected].

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