Os servidores enfrentam uma verdadeira ditadura dentro do Poder Judiciário`ManifestaçãoSão cinco e meia da manhã do dia 20 de agosto, dia de assembléia e manifestação dos servidores em greve. Faz muito frio em São Paulo. Grevistas de vários edifícios chegam à garagem do Tribunal de Justiça. Eles vestem coletes pretos com o nome do seu local de trabalho: Fórum João Mendes, Mauá, Barra Funda, Palácio da Justiça, Itaquera entre outros estão presentes.

Os servidores do judiciário, em greve há mais de 50 dias, reivindicam 39% de reajuste salarial. O presidente do Tribunal de Justiça prometeu dar 26%, porém, o governador do estado, Geraldo Alckmin, concedeu apenas 12% sobre gratificações, o que totalizaria míseros 8%. Mesmo assim, o aumento não foi aprovado na Assembléia Legislativa. Além dos salários defasados, os servidores enfrentam uma verdadeira ditadura dentro do Poder Judiciário, com a extrema falta de condições de trabalho e a terceirização.

Essa poderosa greve tem muitos inimigos. O poder judiciário quer privilegiar o pagamento dos novos desembargadores, que surgirão a partir da unificação de alguns tribunais, em detrimento ao reajuste dos servidores e o governador Alckmin quer continuar pagando a enorme dívida estadual, que beira os R$100 bilhões. A mídia passa a imagem de uma greve de privilegiados e a OAB paulista, junto com a Associação dos Advogados do Estado de SP, entraram na justiça exigindo o fim da greve. Como se não bastasse, no dia 9 de agosto uma juíza federal determinou a volta ao trabalho. Para Clenílza da comissão de negociação pela região do ABC “o que está em questão é o direito de greve de todos os servidores”.

A greve continua

Mas 15 mil servidores em assembléia estadual decidiram que a greve continua. A assembléia foi dirigida exclusivamente pela base, sem a presença das associações da categoria. O clima é de indignação contra o poder judiciário e a OAB. Uma nova assembléia foi marcada para dia 25 de agosto. Os servidores preparam ainda um Encontro Regional para discutir a organização de um novo sindicato de luta. Catarina do Comando de Greve de São Paulo explica que “para obrigar o Tribunal a negociar o atendimento de nossas reivindicações buscamos ampliar a greve e o apoio a ela”. A vitória desta greve é uma vitória de todos os trabalhadores. A democracia entre os grevistas e a perspectiva de formação de um novo sindicato de luta é uma luz em meio a um movimento sindical burocratizado e governista. “Os atuais sindicatos imitam a hierarquia do Estado. Só vamos superar quando no local de trabalho se rompe com a hierarquia, como na greve” observa Martins do Comando de Greve por Guarulhos.
Post author Fábio Bosco, de São Paulo (SP)
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