Protesto do frei pelo arquivamento da Transposição do São Francisco entra em fase decisivaMais um capítulo da luta contra o projeto da Transposição do rio São Francisco está sendo protagonizado pelo Frei Dom Luiz Cappio. Há 16 dias o frei está em greve de fome para reivindicar a Lula o arquivamento definitivo do projeto e a imediata retirada do exército dos eixos leste e norte. Em 2005, no décimo primeiro dia de jejum, o frei suspendeu o ato depois de um acordo com Jacques Wagner (PT), atual governador da Bahia, que representava diretamente Lula nas negociações. Esse acordo previa a suspensão do projeto e a abertura de um diálogo efetivo com a sociedade.
Dois anos se passaram e o motivo da retomada da greve de fome foi o descumprimento do acordo pelo presidente: “O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira”, disse o frei. A resposta imediata do governo foi reafirmar que as obras não seriam paralisadas, que as condições do frei eram inaceitáveis e acusá-lo de “fundamentalista” e “individualista”.

Lula veio a público com seu argumento populista para tentar desmoralizar o protesto: “Entre os 12 milhões de pessoas que sofrem com a escassez da água e o Dom Luiz Cappio, eu fico com os pobres”. Mas são justamente os pobres que não terão acesso à maior parte das águas que serão transpostas, já que 70% serão destinadas para grandes projetos de irrigação de produtores de camarão e de frutas para exportação. Apenas 5% será para a população difusa do sertão do semi-árido, que pagará caro pelo consumo da água.

Ataques
Em um artigo, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira (PMDB), afirma, entre tantas insanidades, que a greve de fome é “um disparate”. O ministro diz que a Transposição é um projeto para “combater a indústria da seca” e que “a democracia não pode se dobrar a um único homem”.

Em Belo Horizonte, Pirapora e Montes Claros, norte de Minas Gerais, Geddel foi recebido por protestos e manifestações contrários à Transposição, mas em todas elas os manifestantes foram impedidos de participar dos debates. Em Pirapora, o ministro passou pelo protesto com escolta da polícia militar. Um segurança no interior do carro oficial chegou a empunhar a arma contra os manifestantes. Esse é o ministro democrático, defendendo sua democracia.

Desde o dia 27 de novembro, milhares de cartas de apoio de todo país foram enviadas, já ocorreram manifestações públicas com milhares de participantes, bloqueios de rodovias da região, celebrações com quatro mil pessoas e manifestações nos dias 9 e 10 de dezembro, realizadas em unidade entre Conlutas, Via Campesina e MST.

Post author José Andrade, de Pirapora (MG)
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